02/12/2015

Pára-choques

Desesperada por um lugar à sombra, que rapidamente havia de se tornar penumbra, e logo breu, e tendo avistado um buraco que me pareceu quase exactamente aquilo que pretendia, vai de pisca para a esquerda — pois que ficava do lado esquerdo da via, esse mesmo onde dantes era proibido estacionar, mas que a EMEL recriou em espaços úteis e explora até ao tutano — e de iniciar a manobra. Já tinha o boi todo atravessado em diagonal perfeita com a via, fazendo um vértice com o passeio que dava gosto, quando me apercebi da redonda asneira que havia irremediavelmente iniciado — e não mais redonda por força da rectangularidade do espaço que pretendia ocupar, e também da viatura —, e ainda, não só da pequenez do putativo lugar, como também do meu esdrúxulo cálculo, que ainda agora não sei qual era o mais tacanho dos dois. 
Lembrei-me então da verdadeira acepção da dupla palavra pára-choques. 
Encosta ao de trás, encosta ao da frente, toca atrás, toca à frente, bate atrás, bate à frente, e pumba!, boi estacionado. Custou bastante, nomeadamente porque, agora que se chega o frio, a pessoa vai encasacada e com ele todo abotoadinho, depois tem a mania de comprar o S, para fazer que é magra, acaba que se vê nas amarelas para se mexer durante as manobras. Mas ela aconteceu, e ficámos os três carros sem um risco, quanto mais uma mossa. 
É certo, e isso reconheço, que ficámos a uma distância do passeio que dava para aninhar ali outro boi, ou, quem sabe, uma mota de cilindrada boa, o que levou a que ocupámos, um nico a mais do que o necessário, a estrada. Mas a pressa era inimiga da perfeição, naquele momento, pelo que ficou mesmo como estava, durante todo o tempo que durou a minha dolorosa ausência.
Por acaso pensei que, quando voltasse, um dos dois outros já teria saído do lugar onde estava, e que me facilitaria a manobra de saída a mim. Se assim pensei, assim não fizeram eles, pelo que foi praticamente tão extremamente difícil retirá-lo como colocá-lo havia sido. 
Encosta ao de trás, encosta ao da frente, toca atrás, toca à frente, bate atrás, bate à frente, e pumba!, boi batido em retirada.
(Acho que os três carros sem um risco, quanto mais uma mossa.)


14 comentários:

  1. Tens noção que se o condutor do carro preto atrás do teu, não tivesse, ele também, espaço atrás de si, ia-se ver udidinho para o tirar dali, tens?

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    1. Olha, até tenho. E até verifiquei isso, não fora dar-se o caso de ele não ser tão artista da manobra apertadinha, como eu, e ainda me arrancar a traseira à bruta.

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    2. Hum... És boa na marcha atrás, tu?

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    3. Sabes lá. Isto é de família.
      Primeiro, aprendi a estacionar (pode não parecer, mas é um facto); depois, a marcha-atrás; só por fim a andar para a frente, e ainda hoje sinto dificuldades nessa.

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    1. E passo a estacionar em perpendicular ao passeio, como todos os donos de Smart (o que é proibido)...? :P

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    2. Pois claro. A ti ninguem se atreve a multar :P

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    3. Óbvio. Idosíssima, temem que tenha um stroke :P

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  3. Anónimo3/12/15

    Bom dia, Linda.
    Manobra cirúrgica com relato primoroso. Eu encostei agora aqui, e li de cima para baixo, do meio para a frente, às vezes gosto de recuar na leitura...e... nem uma mossa. Retiro-me para dar espaço a quem, como eu, queira estacionar para ler.
    Beijinhos e um bom dia.
    Mia
    Nota : Já saímos hoje, mas ali, ainda com algumas mossas que vão levar tempo a recuperar. Vamos com calma.

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    1. Bom dia, Mia :)
      Que notícias radiantes!
      Primoroso está o teu comentário. Estaciona sempre, que és bem vinda.
      Dias felizes. E um grande beijinho.

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    1. Com um bocadinho de jeito e menos pressa, certamente farias :)

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  5. A questão q costumo fazer nestas situações, é: consegues ir a pé para o passeio :p

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