Por acaso, acho que já falei sobre isto, mas, se calhar, não por estes termos. Assim, o Google não me devolve nada na pesquisa, mas a isso já eu estou habituada: grande parte das minhas pesquisas parecem aqueles mares revoltos da maré viva, que tudo engolem e nada devolvem.
Também, não interessa para aqui.
Eu tenho um problema de postura. E é um problema que me acompanha, a par e passo, com uma fidelidade canina, desde os catorze anos. Vá, quinze — não sei situar com muito rigor. Agora façam lá as contas a quantas décadas já estão envolvidas neste imbróglio. Portanto, pode, desde já, concluir-se que não tem remédio à vista. Nem mezinhas, nem pachos, nem rezas.
E deriva isto de eu ser vítima de mim mesma, acabando por sê-lo dos outros, quando, levianamente, me rotulam.
É que eu só sei estar de uma de duas maneiras: ou sou simpática, educada e cortês — e levo o rótulo de fácil, padre confessor ou psiquiatra —, ou fecho a cara (porque também tenho os meus limites, pode ser?), e, nessa altura, passo a antipática do genital, convencida do genital, estupor do genital.
Também sei, e reconheço, que, grande parte das vezes, aceito uma simpatia, um elogio ou um agrado qualquer, por razões que nem a razão desconhece — por mera cortesia, porque eu sou assim, porque gosto de ser bem tratada, porque gosto de tratar bem, porque tenho um ego insuflado como um balão de hélio e gosto de saber que gostam de mim, ou porque não estou para me chatear (esta deve ser, de todas, a mais egoísta das minhas razões para ser este poço de acolhimento e receptividade).
Mas é muito desgastante ser sempre eu, a que está pronta para ouvir, e dar, e estar, e entender, e sacrificar, e prescindir, e tudo e mais um par de botas, e, em todos os momentos em que tento reverter esse ciclo (em círculos, redondo, vicioso, viciante, viciado, drogado, bêbado), passar imediatamente à categoria da ingrata, desfocada, desajustada, sem noção.
Em miúda, tive um amigo que trocava os rr pelos gg. E, um dia, estava a desabafar com ele, esta sina de as pessoas confundirem a minha simpatia com mais alguma coisa, e a minha consequente antipatia com "olha-m'esta, a julgar que eu queria mais alguma coisa". E ele disse-me esta bela verdade, que me ficou até hoje (e que explica o problema, mas não o resolve):
- Sabes qual é o teu pgoblema? É que tu és uma gaguina pogueiguinha. Eles vêem-te a soguigue e a sêgues aguegadável, e acham logo que podem abuságue. Depois queixam-se, quando levam paga tegás, e não peguecebem que foi de teguem sido abusadogues.
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