15/12/2013

L'enfer c'est moi

Hoje consegui meter-me no Colombo porque fui para lá ainda não eram 11 da madrugada. É por situações como as várias que lá vivi hoje que me questiono muitas vezes se sempre quero ir parar ao inferno, em vez da pasmaceira do céu. Aterrorisa-me a ideia de levar com os anjinhos e as harpas, o dia todo a flutuar entre brancos e azuis-bebé, a ser boazinha, a falar candidamente, a apreciar com sentido fervor as asas dos outros e nunca mais ver um bom par de pernas ou de braços sem ter logo um pensamento pecaminoso. Sempre achei que lá em baixo é que é a farra, o calor, a risota, a desbunda, a festa. Mas hoje pensei duas vezes que, se o Hades for assim como o Colombo a nove dias do Natal, venham de lá os anjecos e que se lixe o vinho tinto, que eu devo quinar já cheia de caruncho e não devo estar propriamente para aturar o deboche diabólico. Pode ser que haja uma sub-cave para os indecisos, ou assim. 

Bom, saía eu do Tous R Us, loja cujo nome, já de si, me irrita. "Toys are us"? Ou "We are Toys"? É só estúpido. E saía eu completamente a fritar, porque lá dentro vivi na primeira pessoa uma cena épica derivado de a menina da caixa não ser capaz de perceber que dois brinquedos iguais têm, necessariamente, o mesmo preço, o que levou cerca de 15 minutos a explicar-lhe, envolveu mais duas colegas e, ainda assim, não a deixou convencida. Chego ao balcão para roubar papel de embrulho, e digo muito bem roubar, porque uma coisa é a pessoa tirar o papel que precisa para embrulhar as prendas que ali leva, outra coisa é o que eu e 99% das pessoas fazemos, que é tirar quantidade suficiente para forrar a casa toda, e então, estou a enrolar o papel naquela arte um bocado paneleira que se inventou há uns anos para cá, que é a de fazer um rolinho saído do rolo, e está ao meu lado, a embrulhar coisas, uma pessoa que me começa na beca-beca da pedincheira nataleira e eu passo-me. Pelo que percebi em décimos de segundo, era voluntária numa associação de ajuda a tudo - sem-abrigo, pobres, crianças desvalidas, mulheres sovadas, cães sarnentos, eu sei lá, aquilo dava para todos os gostos. Foi o momento em que um bom quarteirão do Colombo, desde, pelo menos, a Tous até quase, vá lá, à Calzedonia, ouviu um grito que terminava na palavra Famões. A voz elevou-se-me à medida que proferia a frase, e a palavra Famões já foi dita num urro, com esta vozinha que é quase um contralto dramatique que o Hades há-de(s) apreciar.

- Sabe para o que é que me pediram ontem? Para a freguesia de FAMÕES!

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