17/12/2013

Algo que diz que tenho a palavra "rica" escrita na testa. Ou "otária"

Ligou-me a dizer que tinha um trabalho para me dar. Ai que bom, pese embora eu saiba que ela me pede sempre que lhe faça preço para amigos. Nem sei bem o que pensar do conceito, uma vez que esta pessoa surgiu na minha vida por ser irmã de uma conhecida. Não estou em fase de poder recusar trabalho, mas aceitar ao preço que ela me pede é irem-me ao cu e não me pagarem, essa expressão popular tão agradável ao ouvido. Mas digo-lhe que sim. Entre pouco e nada, para esta semana temos o pouco.

Surge-me de namorado novo (vulgo recente, o senhor tinha muito cabelo, mas todo branco), carro bom, cabelinho pintado há pouco, roupa bonita, boa maquilhagem. E começa a beca: que está numa situação muito difícil, que vai ter que mudar de casa por três ou quatro meses (wtf?), que não está a aguentar financeiramente, que, a este ritmo, se vai estoirar em breve (sic). Só faltou estender-me o saco de plástico para ajudar a freguesia de Famões. Ou os animais abandonados. Eu já quase derretida de dó natalício. E a beca continuou, com outro assunto, na mesma direcção: que ainda me vai pedir os meus serviços noutra área [que eu também abarco, por ser uma polivalente da vida], porque tem que resolver a vida dela, só que tem que ser um serviço não pago (o termo usado não foi este, mas eu prefiro escrever este porque vocês são uns espertalhudos e ainda me topam). E eu ali, especada, no meio da rua, já quase dobrada de tanta caridade humana, só à espera que ela me pedisse dinheiro para as fraldas da associação de ajuda aos aflitos do bairro dela e fosse a correr gastá-lo no hidratante da Lancôme que tantas maravilhas faz à minha cútis e tanto mal faz ao meu invejavelmente magro orçamento. 

A voltar para casa, no elevador, já a decisão tomada de lhe oferecer - dado! - o trabalho que ela me tinha vindo entregar, à medida que o elevador subia, assim me possuía a besta que se anda a apoderar de mim, contra tudo o que é pedincheira descarada e sem noção que, aproveitando-se do espírito da época, seja lá o que isso for, nos crava até as beatas e o cotão dos bolsos. Faço-lhe o trabalho, faço, mas não cobro preço para amigos a quem não é meu amigo. Perco uma cliente? Hã? 

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