28/04/2017

Quando te chamam "uma personagem" e tu ouves um elogio com música de amor

Eu sou aquela pessoa que pretende ir até Belém, partindo, digamos, do centro da cidade, e faz uma passagem pelo Cristo Rei, por exemplo. 
Não sei que diabos tenho eu com a mania de atravessar uma ponte cada vez que me perco. Já uma vez fui parar a Alcochete quando apenas pretendia alcançar essa bela localidade que dá pelo nome de Prior Velho. 
(Isto, antes de conduzir, também não era melhor. Recordo com saudade e mágoa uma vez que fui parar a Benfica para uma entrevista de emprego, porque li qualquer coisa Calhariz.)
(Já nem sei que emprego era.)
(Nunca cheguei a saber, aliás.)
Enfim.
Na minha inesgotável e descendente carreira de UBERMomSCUT, ofereci-me compulsivamente para ir a Belém buscar um dos meus amores de perdição, cansada que estava ela de onze horas (leram bem, onze) de trabalho (mas calma, ó sindicatos, é trabalho esporádico), que lhe exigiu uns saltos altos aos quais aquele pezinho mais belo e mais bom (que fui eu que fiz) não está habituado. 
Meti-me pela avenida de Ceuta afora, cujo máximo de velocidade permitida parece uma anedota, mas vá que não me ri. Limitei-me a ir ali, em velocidade de cruzeiro avariado, a ver a bela paisagem que constitui o Casal Ventoso. Em chegando ao semáforo antes de seguir em frente, normalmente, tem que se parar o carro, porque parece que está sempre vermelho. E pára-me a boneca. Mas que palhaçada é aquela da falta de orientações que expliquem detalhadamente que quem vai em frente tem que se meter por aquele lado e quem vai para a ponte tem que se meter pelo outro? 
Suponhamos que me mantive à direita, feita bem comportada do trânsito, e isso pode ter valido uma volta de ida e volta pela Ponte 25 de Abril. (Vá que tinha combustível. Dízel, como dizem os taxistas.) Andava com saudades do mar, vi o rio. Cada um tem o que merece.
Dez minutos mais tarde, estava de regresso a Alcântara, mais uns quantos e atingi Belém. Fui dar com ela fermosa e descalça, com aqueles olhos lindos que se fazem numa linha quando ri (também fui eu que fiz), e ouvi aquilo que me pareceu um elogio:
- Ó mãe, tu és uma personagem. 
O tanto que nos rimos juntas valeu pelo engano, pelo combustível, pelo tempo perdido, que foi tempo ganho — amorosamente. 

2 comentários:

  1. Anónimo28/4/17

    Filhos de sorte por terem uma Mãe personagem. Esses momentos de riso são os melhores. :)

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