05/12/2016

ainda

Foi um grito que me atravessou o peito pelo inesperado e incompreensível e inaceitável. A tentativa desesperada de a fazer voltar à vida, o choro de uma menina agarrada a ela, ainda crente que só ela a faria acordar daquele sono de pedra fria. 
Ainda hoje, um ano volvido, espero vê-la entrar de mansinho, mansinha, e vir aninhar-se ao pé de mim enquanto trabalho. Ainda a sinto na barriga, quentinha, quando deitada. Ainda a espero à minha espera, quando entro em casa. 
Não tenho um anjo nela, porque creio cada vez menos naquele céu onde não entram os animais. Tenho dela a companhia das saudades que me deixou e a memória de uma criatura boa, encarnada numa gata.
E a falta que ainda me faz.

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8 comentários:

  1. Eu compreendo muito bem a dor de se perder um gato e já passei por ela várias vezes. E, provavelmente por o meu padrinho de baptismo ser S. Francisco de Assis, creio que os animais também vão para o céu. Uma vez ouvi o Papa actual dizer precisamente o mesmo a uma criança que chorava por o cão ter morrido, que o cão estava no céu.

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    1. Eu não quero passar por ela outra vez, e não sei como fazer isso com estas duas que tenho.
      Também me lembrei do homem que foi São Francisco de Assis, e queria acreditar mais nas palavras do Papa. Quem sabe um dia...

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    2. Compreendo o teu receio. Tenho dois gatos, o mais velho tem 10 anos, lindo, meigo e muito dependente de mim. Ultimamente descobriu-se que tem um problema renal provocado por ansiedade. Reconheço que parece estranho um gato ter problemas de nervos mas o que é verdade é que desde que anda a tomar um calmante, deixou de ter problemas urinários. Sempre que chego a casa, no final do dia, antes de tudo o resto, vou ver como está o meu gato, porque como tu, tenho muito medo que lhe aconteça alguma coisa. O outro é um jovem gato maluco...

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    3. E é um receio bem fundado, uma vez que a Mel só tinha 4 anos e zero sinais de cardiopatia.
      Os gatos são sempre um bocadinho ansiosos, pelo menos é essa a ideia que eu tenho deles. A mais velha, Mia, tem quase 8 anos e só agora é que é uma pacífica. A Molly, que faz um ano este mês, continua o diabo da Tasmânia :)

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    4. Mas no meu gato a ansiedade atingiu níveis patológicos, a ponto de fazer urina com sangue e de quase me matar de susto.

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    5. A Mia marca território até hoje, especialmente se a Molly pára nos spots "dela"...
      Mas sem sangue, so menos isso.

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  2. Anónimo5/12/16

    Também já me morreram animais, no meu caso cães, uma vez que sempre tive cães e nunca gatos.
    Difícil? Muito!
    Também já me morreram pessoas.
    Difícil? Demasiado!
    Também sei que um dia vou e se há céu ou não, não me interessa quando for...
    Difícil? Pouco!

    Em suma, é a vida, são vidas!

    Beijo da anónima que pode ser Antónia, Alberta, Borboleta, Fã de alguém ou de ninguém...

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    1. Independentemente do apego e de se poder falar em amor ou amizade, a morte de um animal não é comparável com a de uma pessoa. O que têm em comum é o choque, a perda, a ausência, a saudade. E já é bastante.
      A Mel faz-me muita falta, e com ela posso afirmar que nem como algumas pessoas fazem.
      Beijo, Anónima-Sejas-Lá-O-Que-Fores :)

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