18/09/2017

procura

Já lá não encontras nada, não é?
E ela fez que sim com a cabeça, os olhos vivos subitamente opacos da tristeza da perda. Que não, que não ia à missa por alma, nunca mais foi capaz de encontrar a amiga, que lhe está nas outras coisas todas da memória e do coração, mas não ali.
Também eu, procuro naquele lugar o que não encontro, mas vou sempre. 
Talvez se procurasse melhor, talvez se fosse mais vezes, ou talvez se desistisse, não saísse, como saio, com a renovada certeza de que acabou. Não localizo onde, nem quando, nem como, sei apenas que um dia — ou terá sido aos poucos, em vários dias —, perdi, e essa perda acompanha-me e leva-me lá uma e outra vez, e assim será enquanto continuar, mesmo sabendo, muito antes de ali entrar, o que não vou encontrar.
Também aquele pequeno animal, também ela, faz parte da minha procura. Vejo-a e sinto, por instantes, que reencontrei outra perda das minhas e que não recuperarei jamais. Ainda assim, pego-lhe, toco-lhe, sinto-lhe o calor do pequeno corpo, cheiro-a, quero-lhe ser próxima, desassossego-lhe o sono — sofregando por um amor que não voltará a ser. E, no entanto, mesmo sabendo que não, sei que está lá, e sei-o ali. Algures, eterno, também ele nas outras coisas todas da memória e do coração.