06/08/2017

Estou em vias de deixar de ser amiga dos animais

Sou atacada por piolhos do calor, quando estou na praia. Penso que é do meu protector solar, factor 50 - que eu sou morena, mas não sou parva e o tempo corre contra mim, e não quero esbarrar-me de frente com ele, e os UVA e os UVB também existem, independentemente do tom da pele, e era haver UVC e UVD, ou todo o alfabeto até UVZ, e eu também levava com eles -, mas estou acompanhada por quem usa o mesmo creme, e os bichos estão nem aí para outra que não eu; penso que é da cor do fato de banho, mas não estou de amarelo, nem de branco - que, conforme cientificamente comprovado por tentativa-erro, são as cores que mais atraem bicharada -, e, mesmo quando estou de vermelho - cor que os repele, facto que comprovei pelo mesmo método que concluiu aquele do branco e do amarelo -, não me largam o pé (nem a perna, nem a outra perna, nem milímetro de pele meu), mas os outros podem enrolar-se num lençol de cama, que os piolhos nem os vêem; penso que é por estar molhada e os animais gostarem de exponenciar o seu colesterol através da ingestão de sal, mas, lá está, só me dão dentadas a mim?; penso que sou uma comichosa e só eu sinto as mordeduras, hipótese mais plausível das apresentadas até ao momento, pois está tudo na santa paz, a ler ou a conversar, enquanto eu me açoito e assassino carinhosamente micro-pontos negros; penso, finalmente, no meu sangue raro, sem rhesus, e ah!, faz-se-me luz: sou o único elemento, desta enorme família que construí, que tem RH negativo, e parece que a piolhada gosta é desse. Isso, ou então sou maluca, e aqueles pontinhos pretos que me trincam as peles de dez em dez segundos são só fruto da minha imaginação torturada pelo sol. 

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