Era um corpo nu e abandonado, aquele que se encontrava de costas voltadas para mim. Pálido, flácido, grumoso, há muito perdidas as formas femininas: anca quadrada, nádegas achatadas, ausência de cintura, pregas de pele em excesso na linha do soutien, pernas de contorno desalinhado. Avaliei-a para sessenta anos. Entrevia-lhe o peito descaído, a curvatura dos ombros desolada. Um ligeiro virar de cabeça permitiu-me vislumbrar-lhe parte do rosto, que desmentia o conjunto e revelava talvez quarenta anos. Na maior das várias barrigas dependuradas, surgiu então a tatuagem lisa, leve, linda, de uma borboleta. Havia qualquer coisa de muito belo num corpo descuidado, mas não desistente, numa barriga triste, apesar de resistente, onde ainda paira — e quem sabe que voos fará —, pelo menos, uma borboleta.
Beijinhos Azulinha 🌸
ResponderEliminarEu também as tenho,embora nenhuma seja uma borboleta...
E eu, que não as quero para mim, achei aquela tão bonita, tão bem colocada :)
EliminarBeijinhos, Miss Curvas 🌸