08/08/2017

And that awkward moment # 37

[sim, ultimamente, a minha vida está pejada destes momentos, quiçá porque a awkward sou eu.]

Estávamos distribuídos por três quartos, dois lado a lado, o terceiro frente ao nosso. Deu-se que fui à recepção do hotel sozinha, e definitivamente ou, pelo menos, provavelmente, serei pessoa que deve evitar andar desacompanhada em determinadas circunstâncias. [Eu vivo sempre no mundo da lua, tenho alma de artista, sou um génio sonhador e romântica.]
Subi pelo elevador, dirigi-me para o quarto, bati à porta (se tudo não seria muito mais simples nesta minha existência terrena se tivesse levado o cartão? Seria, mas, por outro lado, a esta hora, não estaria aqui a desabafar cenas), e ele não abriu. Foi então que vi um homem a bater à porta do quarto das minhas filhas. Isto, eram umas 11 da madrugada. Entre o revoltada e o surpresa, entabulei, solícita, porém:
- Este es l'habitación de mis hijas.
- Estás equivocada, no es.
- Ustede  está equivocado. San mis hijas que están aí dentro.
- No, es una signora con una criança, y están me esperando.
- Mis hijas, lo garanto.
- Entonces, abre tu la puerta.
- Mas no tengo la tarjeta...
E nisto, bato à porta daquele quarto e, como ninguém me respondesse, esclareci o cidadão espanhol:
- Se fueran a tomar el desayuno.
Ele olhava-me com aquela incredulidade com que se olha um louco que, todavia, não tem cara de louco. Acho.
Entretanto, impaciente, mas não desesperada, convicta, mas não baralhada, resolvi angariar reforços, batendo à porta do meu quarto com mais força, clamando por cônjuge. Foi quando ouvi a água do duche a correr. Mas nem assim desarmei:
- Tu não me digas que te puseste a tomar banho a esta hora!?
Responde-me então uma voz feminina lá de dentro, do meu quarto.
E não é que nem me ocorreu que o homem podia ter arranjado outra, que até já estivesse a tomar duche, enquanto o diabo esfrega um olho (haha, esta expressão neste contexto!), ou enquanto eu ia e voltava da recepção, três pisos abaixo dali?
Caiu-me a ficha, como diz o povo. Acabou o jogo, desliguei da corrente. Algo de muito errado estava a acontecer. Ou o espanhol ou eu, encontrávamo-nos, desencontrados, numa realidade paralela.
Encostada à parede do corredor, olhei o número do quarto, que devia ser 315.
"215".
Num longo e disfarçadíssimo suspiro, baixei a cabeça, agora sim, confusa, surpresa, envergonhada, fechei os olhos um brevíssimo segundo, e, confirmando as suspeitas do homem, soltei uma sonora gargalhada, exclamando:
- Hah, enganei-me no andar!
E saí a correr, corredor afora.


4 comentários:

  1. Deixa-me que te diga. Ri-me, em pleno trabalho, em pleno período de reconciliações pós-fecho, a bandeiras despregadas, completamente desgovernado, a imaginar LP a proteger as crias, talqual leoa a quem nem a juba falta, à porta do quarto da família do senhor Castelhano.
    Ainda agora, a escrever este comentário, vista embaciada pelas lágrimas graças à farta gargalhada, evito soluços e arranques provocados por réplicas incontroláveis.
    Valha-me estar, neste momento, sozinho numa sala de reunião, senão era a vergonha total.
    Beijoca, Linda Porca da minha perdição

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    1. Ai, companheiro, cê mi deixa sem graça!
      Vamos combinar, quando for assim, ponho um disclaimer "Preparem-se, que isto vai ser a doer". Sou tão grave, o povo todo com vergonha alheia quando contei, eu nem própria, quanto mais :D

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  2. Anónimo8/8/17

    Podia ser comigo, sou distraída como tu e atreita a episódios desses. :) E quem está comigo também tem vontade de se enfiar num buraco, tal a vergonha. :)
    AL

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    1. Não os percebo, deve ser porque são jovens e adolescentes. Eu sou A festa, sou a amiga sem filtro que toda a gente diz que tem uma assim, menos eu. :D

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