04/07/2016

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Sabes, estou há dois dias a querer dizer-te. 
Não completei a frase porque não existem palavras que me possam valer nesta aflição, e deve ser por isso que me fogem todas. 
(Vou fechar os comentários, ambas sabemos que há momentos em que não se quer ouvir mais nada, quanto mais ler.) 
Quis dizer-te, naquele preciso momento, mas as tais palavras que se me somem agora afundadas no peito foram as mesmas que me secaram a voz, quando te ouvi a frase — estou desde aí a tentar percebê-la. Levo tempo, eu. Só fui rápida na reacção imediata, primeiro negando, depois uma raiva, tão suave quanto imperceptível, e a aceitação logo a seguir, quando te vi aquelas pedrinhas preciosas todas a cair pelo rosto afora. Disseste aquilo sem um vacilo, sem uma sombra nos olhos grandes que me matam as saudades, explicaste o que achaste explicável, e não sei se foi por me veres estampada a tristeza que nunca suportaste muito bem, ou se foi por não aguentares a tua própria, que quebraste a desemoção e abriste a porta à dor. 
Há tanto tempo que não chorávamos juntas. 
A vida tem-nos vindo a preparar para o fazermos um destes dias, mas ainda não estava na altura. 
Das outras vezes que o fizemos, salvo uma única, fizemo-lo quase a brincar — porque chorar, mesmo que ao mesmo tempo, pode não ser por uma coisa séria, quanto mais a sério.  
Não tenho mais nada para te dizer, a não ser aquilo que já sabes desde que eu nasci: tens-me, sempre.