Em nome do pai

Agastada, resolvi telefonar ao vendedor da cadeira azul. Eu quero-a.

A vendedora dos 20 euros tinha mandado mail a dizer que não pode trazer a cadeira a Lisboa. Está bem, eu também não vou a Almada buscá-la. Por uma questão de princípio, que o caminho são quinze minutos mais portagem mais gasolina mais perder-me nalguma viela cheia de cães e gatos durante cerca de duas horas e ainda ter um post para escrever. 

Atendeu-me um senhor bastante incrédulo. No entanto, desfeito o nó aos doze segundos de conversações, esclareceu-se-me que quem pôs o anúncio foi o filho, mas, por qualquer razão que desconhece, pôs o número de telemóvel dele, seu pai (pelo menos, segundo o que lhe disse a mãe do rapaz). Adiantei serviço, perguntando se ele ou o filho não podiam trazer a cadeira até Lisboa, desde a Moita, ou lá onde é que se encontra a minha menina. O senhor, muito enlevado pela melhor voz de jantes de liga leve que consegui entoar, disse que sim, que sim, que sim, cariño, que eu trabalho em Lisboa e vou todos os dias, e eu ai sí.

Liga-me o filho e nem me dá tempo para colocar a voz golpe de misericórdia, já me está a pedir um extra para o transporte, está a ver, é o gasóleo, são as portagens, é o tempo dispendido, e eu ai queres ver que este menino julga que eu nasci ontem?

- Mas o seu pai vem todos os dias trabalhar a Lisboa, e disse-me que traz a cadeira. Além disso, o que você gasta em gasóleo, portagens e tempo, gasto eu em gasolina, portagens e ouro, e não me interessa uma cadeira em segunda mão ao preço de uma nova. Para isso, vou ali a Alfragide gastar gasolina, zero portagens e ouro em pó na mesma. — Tudo com a voz em Ternurinha Bombom, a ver se acalmava o ânimo lá ao empresário da cantiga do bandido, lá em cima está o tiroliroliro, óié.

Parece que a cadeira vem hoje, ao preço do anúncio.

Moral da história? Nunca dês o telemóvel do teu pai quando pões um anúncio no OLX.