Esta acompanha-me para todo o lado, é mesmo a minha companhia mais constante. Às vezes, pergunto-me se também é assim com os outros: sentirem, com uma frequência, se não avassaladora, pelo menos gritante, que não é ali que pertencem, que erraram o ano em que nasceram, o local, e, mais frequentemente, a porta por onde entraram.
Isto ocorreu-me hoje, enquanto aguardava, na fila para as senhas da aula de Pilates. Os mais velhos são, precisamente, os que conseguem lá chegar primeiro. Caem da cama de madrugada, ou já atingiram aquele ponto de perfeição da pontualidade absoluta, até para as actividades de laser. Formam um grupo de seis ou sete, convivem uns minutos enquanto a máquina ainda não está a dispensar senhas, trocam cromos acerca das maleitas da idade. É com estranho e exibido orgulho que uma diz que tem duas cervicais. Outra fala das artroses e do osteopata, muito bom. Um senhor conta que passou as férias do Verão do ano passado com um colar ortopédico, e que não lhe custou nada, apesar do calor. Sorri, quando diz aquilo, e eu, morta de sono e do cansaço dos últimos dias — sem dores algumas, mas sentindo-me muito mais velha do que todos eles —, fico sem saber se lhe veio à lembrança o alívio das dores terríveis que tinha antes do tal colar, se o sorriso se deve ao impacto que lhe parece ter provocado no restante grupo, se o atravessou outra memória boa, que nada tem a ver com o assunto, ou se se tratou de um mero esgar, ao recuperar o que sentiu naquele momento. Penso ainda na possibilidade de ser uma pessoa assim, a quem tudo e todos os motivos provocam um sorriso quase infantil, revejo-me um pouco, projecto-me num futuro qualquer, mas, ainda assim, não consigo evitar pensar, mais uma vez, pela enésima,
O que é que eu estou aqui a fazer?
Essa ultima pergunta é normalmente feita em "repeat" ao longo de muitos dias...
ResponderEliminar:)
Até que surge uma outra situação que nos leva a repetir a pergunta, até à seguinte situação. E assim sucessivamente.
Eliminar:)