Chegou-me inteiro. Vinha sujo, queimado de um sol que eu nem sabia ter havido, rouco e cheio de frio pelos calções abaixo. Trazia "vontade de comida a sério", cansado de hambúrgueres sempre iguais e cereais secos. Na pequeníssima mala, toda a roupa suja, meticulosamente dobrada. Nos olhos adornados de olheiras, o brilho da idade da inocência, umas vezes perdida, outras tantas intacta.
Lavou os dentes, tomou banho, comeu comida de casa e adormeceu, tornando-se, num breve segundo, de homem rude e exausto, em criança tranquila e apaziguada.
Poucas horas depois, perante as notícias que davam conta do acidente com a camionete de finalistas, partida lá do mesmo sítio de onde ele veio, veio também o inevitável impossível de não me colocar na pele dos pais do João, de não sentir uma imensa compaixão por duas pessoas que, tal como nós, passaram toda a semana com o coração nas mãos, esperando pelo regresso do filho que, no último momento, não aconteceu. Não posso nem quero imaginar o tamanho da dor daqueles pais. Mas consigo perceber o alcance dela, assim como a dimensão da tragédia nas vidas de uma família inteira.
Foi com esse aperto no coração que entrei no quarto azul e o constatei adormecido. Fui espreitá-lo, confirmá-lo em casa e nas nossas vidas, como se assim o pudesse garantir.
Chegou-me inteiro, o meu menino.
Lavou os dentes, tomou banho, comeu comida de casa e adormeceu, tornando-se, num breve segundo, de homem rude e exausto, em criança tranquila e apaziguada.
Poucas horas depois, perante as notícias que davam conta do acidente com a camionete de finalistas, partida lá do mesmo sítio de onde ele veio, veio também o inevitável impossível de não me colocar na pele dos pais do João, de não sentir uma imensa compaixão por duas pessoas que, tal como nós, passaram toda a semana com o coração nas mãos, esperando pelo regresso do filho que, no último momento, não aconteceu. Não posso nem quero imaginar o tamanho da dor daqueles pais. Mas consigo perceber o alcance dela, assim como a dimensão da tragédia nas vidas de uma família inteira.
Foi com esse aperto no coração que entrei no quarto azul e o constatei adormecido. Fui espreitá-lo, confirmá-lo em casa e nas nossas vidas, como se assim o pudesse garantir.
Chegou-me inteiro, o meu menino.
São e salvo, no teu colo, onde pertence, onde todos os outros deveriam estar...
ResponderEliminarSem dúvida, Be, sem qualquer margem para dúvidas...
EliminarQuando vi a notícia só fiz contas aos meus miúdos. O meu já foi há quatro anos, a prima mais velha foi o ano passado, a prima do meio não quis ir este ano, falta o primo mais novo e, se eu mandasse alguma coisa, não iam, nenhum deles, a mais lado algum. Ainda bem que não mando, dizem eles.
ResponderEliminarOs meus, da minha criação, já foram todos. Já só faltam três sobrinhos, o que não é tão pouco como isso. Cortar-lhes as asas não é solução, deixá-los voar para longe também não parece ser :/
EliminarQuando ouvi essa triste notícia ,lembrei-me do teu post.
ResponderEliminarPais sofrem.
Sofrem mesmo !
Mas não lhes podemos cortar as asas.Concordo.Mas ...
Mas não há receitas. É confiar na sorte, na divina providência, naquilo em que se acreditar.
EliminarEste relato traz me memórias, da minha viagem de finalistas... Acho que estive a dormir um dia inteiro...
ResponderEliminarNem quero imaginar quando for a vez da minha pipoca... Mas é assim a vida, não vale a pena tentar cortar lhe as asas, é a nossa função como pais prepara-los para voarem da maneira mais segura possível... Deixá los procurar a sua felicidade...
Eu não fiz, porque no meu 12.º não havia. E não fiz na faculdade, porque quis ficar a marrar um cadeirão (sofá, na verdade), que me valeu a melhor nota da turma (uma m. de um 14), enquanto os outros se divertiram que nem malucos.
EliminarQuanto aos nossos, é mesmo coração ao alto. No meio das nossas súplicas, pode ser que alguém ou Alguém nos ouça...
Lembrei-me tanto de ti!
ResponderEliminarUfa!
Beijo abraçado :)
Obrigada, Mary. Muito.
EliminarBeijos, linda :*
Todos os anos ela me pede.
ResponderEliminarTodos os anos lhe damos a mesma resposta e ficamos todos mal: ela porque levou um não e nós porque o dissemos.
Se faço bem? Provavelmente não mas por enquanto o medo é infinitamente superior à vontade de lhe dizer que vá.
Até quando, não sei mas espero que ainda demore.
Mas ela só vai ser finalista uma vez. Até lá, vocês crescem com ela. Com todas as dores que isso envolve, mas também com todas as alegrias.
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