23/01/2018

Três cartazes à beira da estrada

(se acharem que é spoiler, é não lerem # 3)

Por acaso, não venho para aqui contar o filme. Felizmente, sou daquelas pessoas que não sabem contar filmes. Assim, livro quem comigo priva de altas secas (ou há dúvidas quanto ao aborrecimento de ferro que são os relatos de filmes/férias/nascimentos/doenças?) (Hah, já cá faltava a irreverente a abanar isto tudo logo pelas 9 e picos da madrugada.) (Toca a descolar dos leitos, mandriagem!)

Essencialmente, venho falar do papel da Mildred Hayes, ou da exímia representação da actriz Frances McDormand. Muito pouco conhecida do pequeno público que é o nosso, imagino que o mesmo se passa nos Estados Unidos, pois, por pesquisa pouco exaustiva, basicamente se encontra este enorme talento no filme 'Fargo', dos idos 1996. 
Esta gigantíssima mulher tem sessenta anos, não fez uma única plástica (ou, se fez, foi "corrigida", maquilhada, para este filme), aguenta duas horas de exposição solar sem maquilhagem (ou, lá está, tão bem maquilhada que parece não estar), e esse "pormenor" é o que transmite em pleno o drama, a raiva, a revolta, a luta, e depois o quase apaziguamento, a conformação, a aceitação das coisas como elas são. 
Provavelmente, a partir de agora vê-la-emos mais vezes, nos próximos dois, quatro anos. Tal como aconteceu com Octavia Spencer, a partir de "As serviçais". Vimo-la depois em "Elementos secretos", podemos vê-la agora numa m. de ficção científica, "A forma da água", que, a avaliar pelo trailer, só se aproveita mesmo a presença dela (e também a música que se ouve no início do trailer, que, ou muito me engano, ou é Glenn Miller). Embora muito mais nova do que Frances McDormand, terá, provavelmente, um tipo físico — chamemos-lhe assim — que não se adapta a muitos papeis, e isso, como sabemos, é demolidor em Hollywood. 


Isto não é um conselho, é uma ordem: ide ver. 
(Ah, se tendes filhas, preparai o estômago + coração.) (Isto foi spoiler?)

6 comentários:

  1. Por acaso, ouvi o trailer na rádio e fiquei cheia de vontade de ver. Irei ver!

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    1. Vai, Be, à confiança. É “daqueles” filmes.

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  2. Essa amiga é a musa dos cohen, só isso já é uma grande contribuição :)

    E entrando na onda das recomendações do que nunca mais esquecemos (e ela entra)
    este

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    1. Ilustremente ignorada no seu talento principal, ainda assim :)

      Pronto, já não tinha problemas que me chegassem :) (Adicionado na watchlist. Obrigada.)

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  3. Gostaste assim muito muito? Parece...

    Fui vê-lo na semana de estreia, só por ser um filme realizado pelo tipo que fez o impecável In Bruges. Este está muuuitos furos abaixo. Desculpa se te desilude a minha opinião, mas achei o filme tão genérico. Não é mau, não diria que é mau. Mas é morno só. Para mim. Já o 'Call Me By Your Name' é estupendo. :)

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    1. Não, só muito :)
      Pode parecer uma futilidade, e se calhar até é, mas achei sublime o facto de não haver ali maquilhagem nenhuma na personagem principal: a assunção das marcas do tempo como cunho de dramatismo. E depois, aqueles pequenos pormenores "invisíveis", como o da barata no parapeito da janela, que ela "salva", virando-a de patas para baixo. Aquilo só faz e compreende na sua dimensão quem já teve filhos, quem deu vida e não equaciona a possibilidade de a tirar, nem a uma barata (a não ser que alguém nos tire a vida a um filho, mas isso são outros quinhentos). Repara que a mesma mulher que salva a vida a uma barata, é capaz de matar um homem, se souber que ele esteve envolvido na morte da filha.

      Esse está no meu bloco do telemóvel para ir ver (eu sou a pessoa que escreve anotações quando está a ver os trailers, para não se esquecer dos títulos) :)

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