29/12/2018

Verdade ou consequência

Sempre que ali vou, mal dissimulo o hipnotismo em que fico com tanta artificialidade, ao mesmo tempo praticando uma espécie de jogo de diferenças — do original para o modificado — ou de verdadeiro e falso. Todas as empregadas do café têm longos e fartos cabelos, produto da óbvia colocação de extensões, pestanas a perder de vista, tanto em tamanho e espessura como em quantidade, sobrancelhas desenhadas a lápis de tatuador, e é quando olho para as caras delas que me ponho a adivinhar se a cor dos olhos — invariavelmente esverdeados, em tezes claramente morenas — e a espessura dos lábios sobre dentes milimetricamente alinhados e alvos, terão igualmente sido alteradas ou retocadas cirurgicamente. Sob os aventais, peitos plasticamente esféricos, erguidos de orgulho, rabos empinados, espremidos em calças onde até um fio de cabelo ficaria esmagado. 
São de uma simpatia exemplar, que me parece genuína. No entanto, quando me servem o descafeinado que acabei de lhes pedir, nunca resisto a perguntar, enquanto o mexo do açúcar que não lhe deito: "Tem a certeza que não é um café?". 
Não imagino quantos descafeinados falsos já ali tomei.


2 comentários:

  1. Por vezes também bebo descafeinados, mas nunca tomei "cerveja sem álcool"... prefiro beber água! ;)

    Beijinhos puristas **********************

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Parece tudo falso, não é? A questão é que, tanto no descafeinado como na cerveja sem álcool, há quem só possa assim... :)

      Beijinhos descafeinados :*

      Eliminar