14/12/2018

Cada vez mais convencida de que David Lynch escreveu o guião da minha vida, e não há como sair deste registo

Não sei se sou eu que sou uma nervótica, ou se realmente tudo vem ter comigo, mas deu-se que fui à veterinária com a minha gata, mais uma consulta pós-operatória, oito dias após a segunda mastectomia em dois meses e meio, e ia nervosa. Ando sempre um bocado, na verdade, ora por isto, ora por aquilo, mas sou pessoa para (achar que estou a) disfarçar extremamente bem. Ainda outro dia o médico do coração ia tendo um enfarte quando me mediu a tensão e me tomou o pulso.
Há três dias, apanhei uma seca tremenda de uma hora e meia - haveis lido bem - de espera lá no médico dos bichos, porque cheguei e tínhamos dois cães à nossa frente e aquilo funciona por ordem de chegada. A vet estava na sala de cirurgia a operar um iguana, o que ainda demorou meia-hora até começar a atender os fregueses expectantes, de entre os quais minha boneca e eu. Entretanto, apareceu uma figura muito obesa e lenta de gesto e modo, que disse que ia buscar o Jaime, vai a funcionária e pergunta: "Ah, o camaleão?", e ela corrigiu, em voz roufenha e ameaçadora (eu, pelo menos, assim a senti), "Não, é um dragão", e não é que me vieram várias imagens mentais à mente, nomeadamente a de uma princesa presa na torre de um castelo, ao som do gingle do Dragon Ball (e depois o David Lynch é que é o transtornado)?
Hoje até fomos de manhã, para atalhar. Quando chegámos, estava só um cão à nossa frente, e fomos mandadas esperar num gabinete, sei lá porquê. Até achei bem, sempre estávamos isoladas e podíamos dialogar em paz, sem que alguém nos julgasse esquizofrénicas. Só que a espera durou quinze minutos, e, perdida a paciência para esperar mais um que fosse, vou-me à funcionária e questiono se aquilo ainda está muito demorado, porém ela responde-me o óbvio, que eu já sabia, que "a doutora está em consulta com o cão". Então, pus-me a prestar atenção à conversa da consulta, e era sobre bolçar, vomitar na cama por causa da tosse, mudar lençóis a meio da noite e cansaço diurno, e eu vá que a memória não me falha para nada dessas coisas e compreendi que falavam dos filhos, a dona do cão e a vet. Pode dizer-se que estava passada da marmita quando, ao fim de meia-hora de espera e, pelo menos, um quarto de hora de tereréu sobre crianças que se vomitam, a última que referi entrou no gabinete e, que grande lata, me pediu desculpas. Respondi, agastada, que fora tempo a mais de conversa pediátrica, e ela diz-me assim para mim: "Sabe, às vezes as pessoas precisam de desabafar". Mas liquidei-a com um cáustico "Pois olhe, eu não. Quando preciso de desabafar, não vou ao veterinário". Ela há-de ter percebido que eu estava nervosa e não me pôs a deu trela. Tratou da minha bicha maravilhosamente, e eu saí mais tranquila. 
(Teve que drenar líquido de um papo que formou entretanto - duas seringas cheias - e voltou a tomar anti-inflamatório. Não tirou nenhum ponto - que são alguns quinze - e prolongou o antibiótico de dez para quinze dias.) (Não são excelentes notícias, mas também não são más.)
Recebeu um barretinho de Pai Natal de prenda, pus-lho para a pic, mas é o que se vê: minha Mia odeia merdas.) (Eu adoro-a, mesmo - e sobretudo - assim.)


10 comentários:

  1. Nenhum gato gosta de barretinhos de Pai Natal. Eu também ponho aos meus, e também orelhas de rena mas sei que eles detestam.
    Desejo que a Menina Gata continue a recuperar

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    1. Só a expressão dela diz tudo, Ana :)

      Obrigada, this is all I want for Christmas

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    2. Quanto à outra “situação “ penso que muitas vezes os veterinários são mais simpáticos do que muitos médicos, pelo menos os dos meus gatos são, mais meigos, mais atenciosos e isso pode dar lugar a situações como a que descreves. As pessoas estão nervosas, precisam de falar e o vet não as consegue parar.
      Mas o mais importante é que a Menina Gata seja bem atendida e recupere.

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    3. É verdade, Ana, e também reconheço que me excedi um bocadinho. Acho que denunciei o cansaço da vez anterior, três dias antes.Depois eu própria falei dos meus filhos, porque a vet iniciou o assunto.
      O importante é isso, Menina Gata está a ser muito bem tratada, elas ali são excelentes. Falam muito, mas os animais saem de lá bem tratados...

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    4. Não me considerem um monstro, mas acho mesmo uma falta de consideração conversas demasiado longas sobre assuntos que nada têm que ver, quando há na sala de espera animais em stress para ser vistos. Era isso que eu queria dizer com o meu comentário anterior.

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    5. Impossível alguém considerar-te um monstro, flor. Concordo em género, número e grau, e daí a minha reacção. E digo mais: se calhar, só não me dispus a cortar berlindes porque não havia ali nenhuns à mão. Ali é tudo mulheredo :)

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  2. Pois lhe digo, teve toda a razão para espingardar. Eu também não levo desaforo para casa. Digo o que acho da situação e bau. :-)

    Espero que ao fim das contas, a velhotinha fique bem, e tenha direito, ainda, a muitos barretinhos de natal.

    Beijocas, para ambas


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    1. Até me senti um bocado malcriada, noname, mas tinha a minha velhotinha metida na gateira há mais de meia hora, ela tinha miado infelicíssima o caminho todo, para as duas estarem ali na palheta sobre vómitos ad nauseum? Passei-me, enfim.

      Vai ter, então com tantas good vibes como as que tem recebido aqui no blog, suas e de tanta gente, impossível não ter :)
      Obrigada!

      Beijocas :)

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  3. Credo!!! Se fosse no meu, salvo seja, ver, cortava-lhe os berlindes! Ao preço que levam era só o que me faltava!

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    1. Ali também pago sempre qualquer coisinha, para além da cirurgia. Ou o antibiótico extra, ou a injeção, há sempre uma despesinha. Mas depois é isto, onde é que já se viu esperar que as senhoras acabem de desabafar dos vomitados?

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