em que te encontras numa qualquer farmácia deste berlinde, já retiraste a senha de vez,
(que é outro dos grandes mistérios insondáveis da tua magra — querias! — existência, pois que, seja ali, seja no banco, seja na segurança social, seja no supermercado, seja onde o Diabo perdeu os chinelos Prada, nunca, por nunca, existe uma mera possibilidade, daquelas que a lista das senhas apresenta, que te sirva como uma luva. Então, retiras a senha que te parece ser a menos longínqua da tua pretensão, ou a mais genérica quanto a ela, do género "apoio", "balcão", "outros". Pôxa, só te apetece tirar sempre a senha de prioritário e fazeres-te mais palerma do que já te tomam na realidade),
e a tua visão periférica, do lado esquerdo, te anuncia que se encontra, logo ali ao teu lado, uma pessoa a quem não te apetece falar? Não é das tuas relações pessoais, é daquelas pessoas com quem, em universitários tempos idos, que já lá vão e não voltam (lagarto, lagarto), te cruzavas todos os dias pela mera coincidência de frequentarem o mesmo estabelecimento.
Rodas o salto cerca de 180º, mais grau, menos grau, e, subitamente, interessas-te por todas as estantes da loja. Sim, elixires, chuchas e lubrificantes incluídos.
E é quando, também pela tua visão periférica, mas desta feita pelo lado direito, avistas outra pessoa a quem não te apetece falar. Isto dito assim, até parece que guardo esqueletos no armário, e ando a fugir da minha própria sombra. Não guardo, môres, acontece que no meu armário não cabe nem mais uma saia (última tentativa: ontem), e, quanto à minha sombra, nem sei por onde anda, pois, tal como o outro boneco, sou mais rápida do que ela. Mas esta pessoa é daquelas que, tal como a outra, pertence a um passado remoto, e eu terei exactamente zero para conversar com ela.
Vai de rodar o salto mais uma vez, o que veio a revelar-se inútil, já que fiquei com um de cada lado, qual Cristo.
Entretanto, fui atendida, e praticamente bichanei com a técnica, a ver se nenhuma das duas almas me reconhecia a voz e me estragava o arranjinho.
Para sair, tive que optar por um dos lados, pois andar às arrecuas, apesar de ter maior probabilidade de escapatória, era bem capaz de dar nas vistas (e, com esta sorte magana, ainda me ir esbarrar com um dos dois). Então, pus-me cabisbaixa, orando com fervor "faz-me invisível, faz-me invisível, só três segundos", mas é que Ele não me deu ouvidos (deve ter sido por não me ter ajoelhado), e exclama a da visão periférica direita: "Olááááá! Estás boa?", tudo isto com um hálito fétido e cinco caixas de pastas de dentes na mão. Antes que eu pudesse responder (na verdade, estava em apneia), elucidou-me: "Vim aqui comprar pastas de dentes!". E logo: "Mais um beijinho! Olha, tu estás na mesma, o que é que fazes?". Desbloqueando a respiração, respondi: "Tu também". Depois fiz o que já devia ter feito minutos antes: fugi.
Soubesse eu de antemão, e já ias ver!
ResponderEliminarAinda noutro dia reclamavas do cão, pelo menos com esse a (boa) educação não te obriga a falar.
ResponderEliminarPodes crer. Devia repensar estes meus critérios. Mil cães, em vez de dois encontros indesejados! :D
Eliminar