Isto do supermercado, digam-me vocês, é como as obras, não é?
Não, não é um problema derivado de Santa Engrácia, mas também um nico: aquilo que poderia demorar dez minutos, transforma-se tranquilamente em sessenta, certo?
Mas minha analogia vai mais longe: o verdadeiro e quase único problema das minhas deslocações ao supermercado é o "já agora". Tal como nas obras: vais refazer uma casa-de-banho? Já agora, pinta a casa toda. Vais arrancar a banheira? Já agora, arranca o bidé. (E não, por favor não os troques de lugar, simplesmente desfaz-te do bidé como se jamais tivesse ele existido na tua vida; já agora, põe no lugar dele um bom toalheiro eléctrico.) Vais pintar a casa? Já agora, muda as tomadas, que estão velhas e feias; muda também os interruptores todos, já agora; e, já agora, compra maçanetas novas para as portas, que ideia a do construtor — anos 90 do milénio passado... —, essa das maçanetas de porcelana.
Vou para comprar pão, ingredientes para legumes à Brás — cenoura, caldo verde, batata palha, ovos — e mais o quê? Nada, a memória fez o favor e a (des)graça de limpar tudo o resto. Improviso uma lista em cima do volante, mal estaciono. Lembro-me de sumo; lembro-me que a fruta acabou outra vez (oito quilos de fruta comprados na sexta-feira passada, mas imagino que tenho coelhos em casa); lembro-me que o puré de castanhas (dois quilos de puré) está a acabar, mas que, à custa e por conta (e risco) dele, estou para ser eleita a Melhor Mãe do Mundo, e não quero perder a habilitação. Já agora, ponho mais dois quilos na lista. E natas de soja, para misturar no puré. Já agora, dois pacotes. Isso premeia-me com duas colheres saladeiras de plástico verde-alface, que também voam para o cesto.
Já agora, compro também ingredientes para o jantar: camarões e delícias do mar, para fazer com massa preta; não me lembro se tenho coentros em casa, mas não vou buscar, porque já estou muito carregada; já agora, levo fruta para mais dois dias, e aí vão seis quilos para o cesto (que lhe/me vale ter rodinhas); já agora, levo couve-flor para gratinar com queijo ralado; já agora, o queijo; ah, é verdade, ainda bem que me lembrei que faltam cereais. Só não sei para quantos, já agora, e à cautela, levo três caixas; recebo um sms a dizer que, já agora, podia levar líquido de limpeza para a casa-de-banho. É melhor levar, não vá acabar o mundo amanhã e aquilo ficar tudo num esterco.
Recuso-me a, já agora, levar iogurtes para mim; fruta da que eu gosto; um verniz(inho) que seja.
E saio, com os habituais oito quilos de compras ao ombro. Já agora.
É um pouco com as obras, é.
ResponderEliminarSou adepta, não só do 'já agora', como do 'já lá fica'. O que esmiuçando vai dar no mesmo, mas pronto.
E o “nunca se sabe”? O que leva a uma acumulação tão desnecessária...
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É talvez das melhores analogias que vi nos últimos tempos 😊
ResponderEliminarAmbas são um desgaste e um gasto astronómico :)
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