21/01/2024

Fui à festa e, parecendo que não, diverti-me bastante

Então, lá fui ao aniversário de um dos professores de uma das danças que pratico. Tinha a morada do restaurante, mas a senhora do GPS devia estar com a cabra e, em vez de me mandar pela Av. Berlim, mandou-me por estradas nunca antes percorridas, mas o certo é que fui lá ter, orgulhosamente independente e crescida. Lá chegada, dou com mesas e mais mesas de senhoras grisalhas, pelo que pensei que me havia enganado na porta e fora parar ao octagésimo aniversário de uma anciã deste mundo. Já ia rodar os saltos quando descobri uma cara conhecida, acerquei-me e anunciei que não conhecia ali ninguém. Parece que fora ideia do aniversariante: “misturar tudo”. Ah tá bem. Fui sentar-me noutra mesa, à espera da mistura que me calhava na lotaria, que chegou praticamente em manada e a quem conhecia todos. Todos, não é bem assim: um pequeno homenzinho de cabelos pintados com tinta Robbialac branca e moldados por uma bisnaga inteira de wet gel extra firme, à prova de bala, com plastificação a quente, depois congelado a cinquenta negativos, com recurso a uma massa branca cimenteira munida de electrochoques a quem ousasse tocar naquilo, todo ele vestido de branco até aos pés, anéis, pulseiras e colares dos que se vendem nas lojas de piercings e — cereja no topo do bolo de noiva (ou Virgem Santíssima?) —, o seu perfume patchouli. Ao lado de quem é que se sentou a flausina? Pois.

Depressa concluí que era totalmente indiferente quem nos calhava perto, pois ninguém ouvia ninguém, derivados da barulheira que um senhor fazia, de violinha em punho, gritos de agonia, “Meu bem, você me deixou”, isto com a desculpa que se tratava de música ao vivo.

Uma velhota que já estava com uma cadela de todo o tamanho quando eu cheguei, veio dizer-me ao ouvido que teve uma loja que faliu e prometeu ir a pé a Fátima quando conseguisse livrar-se dela. E que estava, por isso, a angariar um grupo para a acompanhar. Olhem, ide, mas não vos esqueceis do garrafão para a organizadora, senão ela nem de Loures passa.

Também foi uma briga com a ementa, era só pratos de maminha, peito não sei de quê e salsichas. Parti para o menu das pizzas e escolhi a verde, mas sem o pimento e a cebola, que são dois alimentos que adoro do coração, simplesmente, quando comidos ao jantar, falam comigo toda a noite. E eu preciso de dormir.

Comecei a ver passar jarradas de sangria e achei oportuno, só naquela de deixar um bocadinho de mau ambiente (o proclamado “peidinho social”), avisar que só pagava o que comesse, pois também já não estou na idade de cair nessa de pagar as borracheiras dos outros. E foi o que aconteceu no fim: pizza vegetariana e 7UP, que eu agora estou do mais abstémio que existe à face. Continuo pasmada com o facto de ainda não ter sido canonizada.

Ao meu lado direito ficou uma rapariguinha e a sua mãe, que me pareceu que não falavam com ninguém, a não ser uma com a outra. À frente de ambas, uma das nossas que levou o marido (má ideia, isso nunca se faz!), que pendurou a cabeça em modo de crucificado e já só a levantou quando acabou a refeição. 

Disse à miúda: “Já viste o emplastro que me saiu ao lado?”, do que ela riu muito, passou à mãe, que também riu muito e, encorajada pelo tricot que iniciara, prossegui: “E o casal que está à vossa frente? Duas múmias. Não sei se ele chega vivo ao final da festa”. A criança não se riu, mas eu não estranhei. Passei mais tarde um nico de aflição quando percebi que os quatro não se largaram o resto da noite em amena cavaqueira. Eu sou pro neste tipo de gaffes.

Foi muito divertido, dancei muito, só com um 7UP no estômago, não houve necessidade de capirinhas, cervejas ou sangrias. Só agora percebi que não é daí que vem o swing.