23/11/2018

saudades vivas

Calhou-me ao lado, cada uma sentada diante do seu espelho, no salão onde, através do cabelo, entramos para transformar a cabeça. Pediu para cortar curtinho, um cabelo que já de si não tinha muito por onde cortar mais. Cara redonda, olhos vivos, pescoço largo, havia qualquer coisa de infantil nesta conjugação, e também na voz timbrada, de sotaque cerrado do meu Alentejo, quando disse,
Já lá vão quatro anos, e sinto tanto a falta dele. Estou sempre a pensar Será que ele ia gostar disto?, Será que ele não ia gostar disto?... Hoje venho fazer uma coisa diferente,
explicou-se, pela mudança de curto para mais curto. 
A cabeleireira afastou-se por segundos, e foi esse o meio tempo para que, sem tirar os óculos, baixasse um quase nada a cabeça e, exactamente como uma criança desgostosa, fungasse, soltasse um soluço, e, quem sabe, pensasse Será que ele ia gostar disto?

Sem comentários:

Enviar um comentário