04/11/2018

Qual é a probabilidade, qual é ela...

... de, no espaço de menos de vinte e quatro horas - vinte e três, vá -, duas pessoas diferentes, em pontos opostos da cidade, em situações em pouco semelhantes, me virem com a mesma conversa, exactamente nos mesmos termos, que teve rigorosamente o mesmo desfecho?
Estava eu acompanhada pela minha menos nova,
Ai, parece uma menina, ninguém diz que são mãe e filha. Não é a menina que tem aspecto de mais velha, é a mãe que parece mais nova.
Ainda me defendi, que não, que não concordo, que já cá os tenho, independentemente de parecer ou não, mas o relambório continuou, Eu também era assim, saía com o meu filho e até julgavam que eu era a namorada, pareci sempre muito mais nova do que era...
À segunda investida - percebo agora que com o mesmo propósito da primeira -, só fui a tempo de, surpreendida com a coincidência, balbuciar, Tem piada que já é a segunda pessoa que me diz isso, mas a de ontem não conta, eu estava a pagar-lhe um artigo [vendedora da Tupperware], como se, naquele caso, não estivesse igualmente a pagar um serviço [mulher do meu médico], e então calei-me, ou melhor, disse o mesmo que disse à outra - porque era esse o objectivo do diálogo que eu não iniciei e para o qual mal contribuí -, quando me revelou que tinha sessenta e cinco anos, Ai [estas tangas começam sempre pela interjeição, que dá o impulso para que a mentira seja caridosa/deslavada/necessária para o nosso bem-estar mental], também não parece nada, está muito bem, dava-lhe menos dez anos. 
Perante ambas, após o devido pagamento do artigo, à primeira, e do serviço do marido, à segunda, um rodar de calcanhares, com disfarçado encolher de ombros, um suspiro de alívio/aborrecimento, um rodar de olhos, mas, sobretudo, uma irreverência esmagada: não suporto sentir-me obrigada à mentirinha social, à hipocrisia por necessidade, desespero e frete.

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