22/02/2018

The girl next door # 14

Enquanto, por um lado, tenho vizinhos passados da marmita (não quero sequer imaginar o que acontece dentro do móvel da cozinha onde as guardam), e que desde o dia das bruxas — seja lá o que isso for — até ao dia dos namorados — seja lá o que isso for —, passando em brancas nuvens o Carnaval — idem —, comemoram tudo, em tudo me fazendo lembrar aquele anúncio do aniversário do coelho da Joana,


por outro lado, tenho vizinhos que me odeiam. Mas, quando digo odeiam, é mesmo o verbo levado ao pé da letra, é aquele sentimento tão próximo do amor quanto pode sê-lo, ao ponto de haver a preocupação de manifestá-lo, de fazer tudo para que o outro (eu) dê por isso, de se fazer notar. (Só falta fazer flick-flack encarpado à retaguarda com triplo mortal quando me vê.) Penso mesmo que o homem — trata-se de um homem (do mais feio e desinteressante e mal cheiroso que existe — o que já deu para sentir no confinadinho espaço do elevador, das poucas vezes que lá coincidimos —, mas diz que o coração lá tem razões que a razão desconhece), tudo faz para que eu perceba o quanto me detesta. Mas isto há anos. Há muitos anos. Mais de vinte, são muitíssimos. Não sei lá que soberana ofensa fiz a sua majestade, que desde ter feito marcha-atrás a uma velocidade de corrida mais louca do mundo quando viu que eu ia a atravessar na.passadeira | com.uma.criança | ao.colo, até se dar ao trabalho de mandar os dois elevadores para o mais longe possível do rés-do-chão quando vê que eu vou a entrar no prédio (só possível se passar os dias à janela, a ver se me vê surgir. Cão), até bater com a porta quando coincidimos na entrada do prédio, ele há de tudo um pouco naquela rica panóplia de merdinhas ofensivas. A mim o assunto também já me anda a começar a moer, maneiras que tenho vindo a desistir de todo o refinamento e sofisticação que me são característicos. A última vez que nos encontrámos à saída do edifício, lá ia o sarnento à minha frente, olhou para trás quando ouviu (a senhora d) os meus passos, confirmou que era eu, saiu e largou a porta, porque lá na favela onde foi educado nem portas haveria, quanto mais a cortesia de segurá-las, e há que garantir que os parentes lhe continuem a chafurdar na lama, com consequentes quedas constantes. Dessa vez, fartinha destes números de circo, precipitei-me para a porta, qual super-heroína, e dei-lhe aquele encontrão estrondoso, antes que ela se fechasse delicadamente sozinha. Cansei de ser sexy boa.

Mas também tenho vizinhas assim,

É facto: trata-se de uma embalagem aberta. Não
fui a tempo de fotografá-la fechada antes de ser
acometida pelo irreprimível desejo de a esvaziar

que sabem que eu gosto de amendoins como o macaco gosta de banana, e cujo marido vai ao Brasil e lhe pedem que esconda na mala mais um pacote deles, cá para a primata. E, não contente, envergonhada por dar "só assim um pacote de amendoins", ainda me fazem uma bolsinha, com as próprias mãos, para os "transportar". 


E não sabe ela que eu tenho um blog. 
Em suma: 
1. Para quê parcerias, se tenho brindes desta qualidade emocional, nos quais acredito piamente, e até consumo?
2. A genuína blogger esconde-se onde e quando menos se espera;
3. Com amigas assim, não preciso de inimigos. 

2 comentários:

  1. Pequeno caso sério22/2/18

    Triste sina a minha que só tenho vizinhos merdosos...
    A minha predileta é esta (lê que não te vais arrepender):

    http://pequenocasoserio.blogs.sapo.pt/o-karma-e-uma-cena-lixada-21512

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    1. Só merdosos, não tenho, mas tenho umas ricas peças também. É leres (em diagonal, que são textos sempre grandes) a minha tag “vizinhos”... :/
      Como essa tua, nem uminha :)

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