26/10/2014

Não tarda nada enfrasco-me em Ben-u-ron

Não consigo comer em público, ou com gente à volta que não me conheça bem - e saiba o quão educada sou à mesa -, e com a qual faça alguma cerimónia. Elevar um garfo à boca dói. Tenho que inclinar a cabeça a níveis tais na direcção do prato, que mais vale meter lá a cara e comer directamente.

Não consigo levar uma chávena de café à boca sem ter que inclinar o pescoço até ao peito. E dobrar o pulso todo na direcção da boca.

Não consigo lavar o cabelo.

Não consigo lavar-me convenientemente. Os ombros, início das costas e praticamente as axilas todas (são só duas?), se não ficaram mal lavados, ficaram mesmo por lavar.

Não consigo pintar-me do queixo para cima. Não consigo pintar-me.

Não consigo lavar os dentes se não meter a cabeça no lavatório. E tenho que os lavar muito devagarinho, sem usar da força (eu costumo usar-me da força para lavar os dentes).

Não consigo pentear-me. Ah, é verdade, isso nunca faço.

Não consigo pôr um par de brincos.

Não consigo pôr perfume atrás das orelhas. Borrifo-me na cintura e já gozo.

Não consigo descer escadas. Mas consigo subir, como as vacas. Posso perfeitamente fazer uma promessa e subir as escadinhas todas, depois vão lá buscar-me de grua. Isto também é válido para o Monte Everest.

Não consigo sentar-me numa cadeira. Quando caio em cima do tampo, não consigo levantar-me.

Não consigo fazer chichi sentada. Não consigo fazer chichi em pé, por outros motivos. Em resumo, não consigo fazer chichi.

Quando, no auge da aflição, me recosto na sanita, numa perfeita diagonal quase vertical (os abdominais não ficaram queimados, vou-me safando com eles), e, muito suavemente, me obrigo a ir sentando, a seguir não me consigo levantar.

A continuar assim, é provável que passe o resto do fim-de-semana sentada na sanita. 

Transformei-me num bicho.

2 comentários:

  1. Não tá fácil, a vida para os idosos! Algálea?

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    1. Isso. O que me vale são os enfermeiros, tão meiguinhos...

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