31/10/2014

O dia em que interrompi a mijadela a um senhor. Na rua.

Foi no mesmo local do médico de ontem. Cada vez que lá passo, lembro-me deste episódio. E ainda me dói. Eu preciso de desabafar.

Cheguei à rua do consultório cheia de pressa. Eu estou sempre cheia dela. Ia super em cima da hora, e, já disse, sou doentiamente pontual. Sou a única pessoa que conheço que manda sms a avisar de um atraso de cinco minutos. E são mesmo cinco. Se forem sete, digo sete. Só isto explica que aceitasse meter o carro no lugar indicado por um arrumador, aquela profissão. Normalmente não dou moedas, muito em particular se fui eu que vi o lugar e eles vêm de lá a esbracejar e a dar-me ordens, sente-se, deite-se, levante-se, como se eu fosse um cão e não soubesse conduzir. Mas ali era uma evidência que ele era "dono" do lugar e eu tinha que lho arrendar (tché, caluda. É arrendar. Bem imóvel). Simplesmente, eu não tinha moedas para lhe dar. Saí do carro e expliquei, "Estou sem moedas, dou-te quando voltar do médico". Ele fez um gesto qualquer e proferiu um monossílabo que queriam mais ou menos dizer "Oh, that's what you say to all the boys", que me enervou. Olhei para o relógio e ainda tinha um minuto. Curto, mas possível. Atravessei a rua, troquei uma nota e saí da pastelaria com moedas. Fui encontrá-lo encostado a um contentor de entulho. Mas é que nem pensei.

A minha pressa.

A minha revolta.

O meu medo...?

O cair da noite, pouca luz.

O homem de costas.

Nada me dizia que...

Nem sei se deva continuar. Só me apetece deitar para o chão a chorar de pena de mim e das porras que só a mim. 

Tic-tic-tic no ombro do homem.

E ele vira-se meio de ladex. Eu digo "Toma lá a moeda".

E só quando ele estende a mão e diz "Desculpe" é que eu percebo que aquela era a mesmíssima mão que acabara de segurar...

Freud, onde te metes tu quando eu preciso mais? Cão!

10 comentários:

  1. Ahahahahahahahahahahahahahahahah

    (nada mais a declarar)

    Ahahahaahahaahahahahahahah

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Oh pá... oh pá...

      E aqueles segundos de hesitação, "Coloco-lhe a moeda na mão? Deixo-a cair para o chão? Fujo?", que me souberam pela vida?

      :D

      Eliminar
    2. Eu acho que tu devias pagar extra ao homem por invasão de privacidade. Ahahahahah

      Eliminar
    3. Olha, cada vez que ali vou até tenho medo que ele por ali ande e me reconheça, está bem?

      :-O

      Eliminar
    4. Reza, reza! :P

      Eliminar
    5. Se resultar, digo-te que estou por tudo! Até levo o crucifixo ao alto!

      Eliminar
  2. Freud????? devia estar na outra esquina a fazer sabe-se lá o quê... :P

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Podia ser o próprio arrumador, agora que falas nisso... :P
      Para a próxima peço-lhe uma orientação.

      Eliminar
  3. Querias era ver-lhe a pila.
    Conseguiste?

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Essa foi a parte em que o sonho acabou.
      Pode-se dizer que ficámos íntimos?

      Eliminar