22/07/2014

Pensamentos porcos

Não posso chamar mais nada ao que anda a acontecer-me dentro do meu carro. 

Ele foi à oficina.

Pausa. Eu não gosto daquele mecânico. Demasiado iluminado, só ideias brilhantes. Entrego-lhe sempre o carro com a gasolina à pele, porque ele gasta-ma toda, se lho entregar cheio. E ele tem sempre que sair da oficina, nomeadamente para ir à inspecção e essas secas. Por isso, nunca posso entregar-lho e ficar descansada com o meu quido lindo, porque já sei que vai andar nas mãos daquele meliante por esta cidade fora e sabe-se lá por onde mais. O cenário é o mesmo, há anos: entrego-lhe o carro quase sem combustível e com o conta a zeros. Ele diz: "Vou ter que meter 10 euros de gasolina, isto está mesmo a acabar", mete 5 e põe-me o conta outra vez a zeros no momento em que me devolve mon petit. Esta saga já dura há tanto tempo, que só ainda não mandei o homenzinho cagar à mata porque não sou só eu que mando nessas coisas. Nomeadamente de quem mando cagar e aonde.

Eu tinha uma cagadela de pombo absolutamente gigantesca no vidro da frente quando lhe levei o meu bebé para ele levar (o diabo seja cego) à IPO. Uma excelente cagadela, exactamente no sítio onde o limpa pára-brisas não passa, tal e qual debaixo do percurso redondo das borrachas. Andei com aquilo ali assim uns dias, achando que ia evaporar. Sim, também estudei na física, quando era pequenina, que os sólidos não evaporam, mas que quereis? Sou uma eterna ignorante. O que é facto é que a poia não evaporou e eu entreguei assim o meu bom popó, que só me desilude nas rampas. E não é grave, é uma situação perfeitamente controlada, uma vez que já aprendi a evitar rampas a todo o custo. 

O senhor marquês há-de ter achado que a cagadela lhe impressionava as cataratas e quis lavar-me o bólide. Ou então, nem quero imaginar o que diachos se passou lá dentro para ele ter tido que o lavar daquela maneira. Passadas horas de o carro ter voltado da oficina, todo ele era cheiro a podre. Como eu me dou só com gente de fino trato, fui agraciada com insinuosas perguntas, a saber:

- Pisaste merda?
- Calçaste os meus ténis?
- Morreu-te aqui alguma coisa no carro?

Dei a volta à bagageira - que tem a tralha de uma vida inteira, é certo, mas tudo limpinho e seco -, dei a volta ao carro e nada. Entretanto, arejava o carro na medida do possível, deixando nesgas de vidro abertas toda a noite (na garagem, que os ladrões existem, acho eu). E nada fazia passar o pivete. Acho que até apurava. 

Linda Porca num auto-mobile a cheirar a estrume. Perfeito.

Ontem corri para o povo da lavandaria de carros do Continente e pedi socorro.

- Por favor, preciso que me façam uma lavagem ao interior do meu carro. Ele foi à oficina e veio de lá assim. É um cheiro a podre que eu não sei de onde vem, mas que tem que sair. 

O brazu mete a mona lá dentro e sentencia:

- Ai, sióra, a sióra tem quauquérr coisa morto lá dentro. 

Até dirigi um pensamento para a Maddie. A quinta sub-cave do inferno já me está reservada, com fogo e cervejas à farta.

Diz-me o rápais que são cem euros para lavar o carro como eu quero. Certamente achou que eu cometi ali um delito e queria limpar provas. CSI a mais, ô meu chapa. Digo-lhe que não estou em condições de pagar tanto por uma lavagem - mas com ar de quem não tem condições de saúde, não financeiras -, que me faça uma limpeza boa e descubra o que é que morreu dentro do meu carro. Aposto numa doninha. 

Secretamente, acho que foi uma das quengas do mecânico que teve lá um percalço sanguíneo e aquilo apodreceu. Mais uma vez, vislumbrei a porta do Hades a escancarar-se para mim. Muá. Muá-ha. Muá-ha-ha-ha-ha.

Quando regressei para ir buscar a viatura, veio a sentença: o mecânico deve ter-me lavado o carro com os vidros abertos e encharcou-mo por dentro. Tenho a alcatifa, o forro do carro, aquilo que me separa do chão do carro, que é o que me separa da estrada, inundado. Com água podre. E que não seca, a menos que fique umas boas horas de vidros abertos, ao sol.

Então, o panorama actual é o seguinte: ando por minha cidade com os quatro vidros abertos, o ar condicionado dirigido para os pés a 26º, e feliz. Pareço uma tontinha, com os pezinhos muito quentinhos, em pleno Julho. Como só se aguenta até à 3ª (velocidade) os vidros abertos, e eu sofro de excitex e não consigo pastar vacas na estrada, mal meto a 4ª, tenho que fechar os vidros, sob pena de não ver mais nada senão cabelos. São 26º num cubículo. Ainda fico mais magra.

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