Nos últimos quatro dias - hoje é o quinto - amarguei uma gripe daquelas boas que já não sabia o que era desde a infância, ou antes. Só vantagens: o povo agora reage à palavra gripe como antes a tuberculose ou talvez peste negra. Foge tudo a sete pés. Acham que vão morrer pelo contágio, porque, assim como assim, quase morta já estou eu. Num dos quatro dias tive que ir a uma reunião chata, mas onde bastou a mãozinha no ar e a palavra "gripe" para ninguém chegar perto com cumprimentos, menos ainda de beijinho. E foi rápida, não fosse a coisa dar-se por via aérea, que é a única via de contágio destas coisas virais. Também foi bom não ter tido, por quatro dias seguidos (excepção feita aos momentos em que tive mesmo que sair, mas aí vai de aviar as calças de ganga e a blusa preta e vais sempre linda, ó porca), de decidir o que raios vestir, saia, calças, vestido, o que calçar, o que é o almoço, o que é o jantar, é o amanhem-se que eu quero é sopas e descanso, literalmente. Pude ainda desfrutar da condescendência no incumprimento de trabalhos e tarefas várias, no adiamento e procrastinação de tudo o que era chatice e tarefa doméstica (sinónimos, eu sei), na lamechice do "não posso sair de casa, vem cá tu", enfim, já parecia um homem com tanto lamento por tão pouca coisa. Mas não sou. Ontem ainda estava péssima, depois de uma noite de febre e tosse, cai aquela saraivada de granizo, vejo-me ao espelho com o cabelo todo amolgado de tanta hora a suar na cama pelos piores motivos, pus-me a pintá-lo. Depois maquilhei-me e vesti um pijama lavado e assim fiquei, linda e menos porca, deitada na minha cama, a gozar o momento como uma criança que aproveita a febre no que de melhor tem não ir à escola. Deu-me tempo para ler o último do Mário Zambujal "O diário oculto de Nora Rute". Eu amo de paixão o autor, li tudo, tudinho o que ele escreveu, mas apenas porque ele começou pela "Crónica dos bons malandros", que é talvez, a par com mais dois ou três do coração, o melhor livro que já se escreveu em língua portuguesa. Porque, a seguir aos bons malandros, ele nunca mais escreveu nada assim, a não ser um bocadinho o "Cafuné", e esta Nora Rute só vem comprovar isto mesmo: o Mário Zambujal é tão excelente, para que raios é que escreve um romance só bom de vez em quando?
Eu tenho em casa uma Crónica que é quase da idade da Linda Porca e, quando me perguntam um livro em Português para ler, eu aconselho esse... Até o tenho em pdf para quem quiser ler! Grande Zambujal!
ResponderEliminarQuase da idade, para mais novo, que eu já era uma rapariguinha quando nasceu a 1ª edição :)
EliminarSinto amor pelo MJ.