E, subitamente, a mulher estendeu-se ao comprido na enorme sala de espera das análises clínicas. Eu ia a achar que era o meu dia de sorte: conseguira sair a tempo de fazer as compras todas, ir nas calmas até ao hospital, arranjar o último lugar para o carro no parque — e, simultaneamente, o melhor —, chegar com vinte minutos de avanço em relação à minha hora marcada, mas, mesmo assim, a senhora das senhas permitir-me a retirada de uma (já me conhece de mais de um ano de senhas, ora de cabeleira, ora de cabelo curtinho), faltava apenas um número para a minha vez, e deu-se ali o desmaio. Talvez setenta pessoas na sala, as cabeças todas viradas, nenhum corpo se mexeu, a não ser os de dois homens, que se acocoraram a dar pequenos abanões na jovem inanimada. Pronto, pensei, my turn. Afastei os dois com os braços, disse-lhes que a virassem de barriga para cima, eles imóveis, então puxei-a eu e pus-lhe as duas pernas para o alto, o que a fez reagir imediatamente, pois começou a pestanejar. Sou tão boa.
A enfermeira que, entretanto, chegara, fazia perguntas à rapariga, vi chegar a minha vez — senha 111, isto deve ter um significado qualquer — e tive que solicitar à profissional que segurasse ela nos pés da pessoa desacordada, ou quase acordada, enfim.
Setenta pessoas. Um desmaio. É só para que saibam o número de humanos que vos acudirão numa aflição: uma, vírgula quatro por cento. O que me angustia é que esta percentagem também se me aplica e, quando eu desacordar em algum lado, não vou estar lá para me socorrer. Pode ser que esteja outra parecida.