Porque precisava de saber e me apetecia, fiz um teste de ADN, cujo resultado foi uma enormíssima surpresa, mas que também explicou a aura de mistério que rodeava esta pessoa humana. Esperava Angola, Moçambique, não Goa e Macau nem Timor, pois nunca fui um conquistadooooor, alguma carga de espanhola, de onde nem bom vento, quem sabe francesa, quiçá uma ancestral avec sa valise en carton, mas tudo ao lado: quarenta e quatro e um nico por cento ibérica, que nem a metade chega, onze por cento norte-africana (marroquina, argelina, egípcia? Prefiro esta última, walk like an egyptian), vinte por cento e uns pós de irlandesa, escocesa, galesa (assim se explicam os trezentos kilts que tive até aos onze anos), e depois uns surpreendentes vinte e quatro, vírgula sete por cento italiana.
Agora entendo que tenha andado uma vida inteira a dizer que um dia queria aprender Italiano. E um dia fui mesmo. Paolo, mio professore, perguntou certa vez à turma por que é que ali estávamos. Tudo com boas desculpas: por exemplo, uma ia fazer Erasmus em Verona, duas eram italo-brasileiras, outro era professor da Faculdade de Letras, e vai aqui a dengosa e responde “Per amore della lingua italiana”, imagine-se. Mal sabia eu e também Paolo que, afinal, uma quarta parte de mim lhe é conterrânea, o que, numa perspectiva longitudinal, tanto pode ser metade da cabeça e do tronco até ao umbigo como daí para baixo, ou, transversalmente, a cabeça e ombros, e depois nem quero considerar qual das outras três partes é a italiana. Pelo menos um braço ou uma perna, são. Lasciatemi.