Eu sou talvez a maior labrega que conheço. Não obstante a primorosa e carérrima educação que os meus pais me ofertaram, eu pura e simplesmente vou ser sempre um pedregulho com olhos no que toca a savoir faire e a savoir être. Vêem, eu até falo estrangeiro, mas depois é o que se vê.
Abordo a Equivalenza do Colombo, o que já de si diz muito de mim. Uma pessoa entra num local daqueles e chapa-se-lhe imediatamente a etiqueta "pelintra" no meio da testa. Os olhos da funcionária que me atendeu - e eu levava uma das minhas super-malas de super-marca, ia vestida como sempre ando, que pareço uma senhora viscondessa - já me estavam a chamar "forreta, sovina, pobre, a mala deve ser da candonga, o ar é de nouveau riche. Pobre". Entabulámos um diálogo nada agradável, porque eu falava de marcas (as três únicas que me vieram à cabeça, e já foram muitas) e ela falava de números. Tipo assim: "Azzaro" e a cabra "287". Fuck.
Foi tudo mau. Eu inebriada por tantos cheiros que meti pelo nariz (não vou falar do meu nariz, mas devia. É lindo), ela impaciente para se livrar de mim, a puta. Sei que às tantas me queixei que já não conseguia sentir nenhum odor, por ter ultrapassado os três que o olfacto consegue discernir de seguida. Ainda a dar ares de quem tem conhecimentos científicos na área da perfumaria de imitação. E a gaja estende-me uma lata cilíndrica na direcção do meu beau nez e diz: "Quer café?"
Ora digam-me lá se isto não era uma pessoa mal intencionada. Se não fosse tão brincalhona fora da época do Carnaval, teria dito: "A senhora quer cheirar café?".
Tirei. um. grão. da. lata. e. comi-o.
A bruta arregalou-me os olhos em alvo. Toda ela gritava "Estúpida!"
"Ai não era para comer? Olhe que pena. E está-me a saber tão bem".
Não sei se me odeio ou se me amo.
Sei que, se conhecesse uma pessoa igualzinha a mim, nunca mais a/me largava.
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