Acho que me rendi à seita da hipocondria activa: agora vejo qualquer coisinha em mim que não considero normal, e vai disto para marcar uma consulta. A oncologista não me satisfaz, porque posso queixar-me do que quer que seja, que ela me responde: "Isso passa".
Ainda assim, foi ela que me prescreveu uma mamografia com ecografia mamária, para as quais, paradoxalmente, ia calma como uma preguiça. Não sentia nada de especial nas gémeas, a não ser mil merdas que me deixaram na coitadinha (clipes, cicatriz, uma leve dor na zona), por isso apareci no centro de exames quase aos pulinhos. Não que da vez em que se deu a descoberta sentisse alguma coisa, mas sentia. Apenas receava ser recebida por uma médica que, da vez anterior que havia feito a ecografia, me dissera: "Está tudo bem. Não quer dizer que seja sempre assim, mas desta vez está tudo bem". Só não lhe dei um pum olimpicamente cheiroso e insonoro (crime perfeito) no gabinete porque (ainda) sou uma senhora e (ainda) não faço essas coisas. Desta vez, a médica era de uma simpatia e energia contagiantes, tanto que sacudiu o frasco do gel e (não sei se a ponta estava entupida) aquilo espirrou em todas as direcções, designadamente para a minha cara e cabelo. Mas caguei (não literalmente), estava animada com a perícia da profissional, e, sobretudo, por me dizer que as tinha saudáveis.
Passados uns tempos, fui fazer um exame às miudezas, já nem sei bem porquê. Tinha feito um RX ao tórax por vomitar a dormir (sim, eu sei que é um risco, além do que não me apetece faleceri toda gregada) (desculpem lá o grafismo derivado da secreção), e tinha dado zero, como as contas que batem certo. Então, fui à médica que espreita cá para dentro e ela também não encontrou nada, nem um único bebé, a não ser um lindo órgão, o que me comunicou da seguinte maneira: "Se eu não olhasse para a sua cara, dir-lhe-ia que fosse já fazer o quinto, porque tem o útero de uma jovem". Fiquei sem perceber se aquilo era um elogio, ou se ela só trocou a ordem dos factores, que não é arbitrária: "Se eu não olhasse para o seu útero, dir-lhe-ia que fosse já fazer o quinto, porque tem a cara de uma jovem". Pronto, lá paguei o preço de um órgão qualquer e vim-me embora mais ou menos contente porque carrego um útero jovem, apesar de isso não se ver à vista desarmada (nem armada aos cucos).
Por falar nisso, há meses que tenho dois sonhos recorrentes: num, estou grávida do quinto filho, toda a gente me diz que sou demasiado velha e não tenho saúde para o ter, mas eu persisto. O único problema que me assiste no sonho é que a minha barriga, ao contrário do que se passou com as anteriores quatro, não cresce. Mas o bebé nasce, pequenino e magrinho, e faz-me a mim a mulher mais feliz do mundo. No outro sonho, tenho as pernas cheias de pêlos e estou a preparar uma queixa (crime?) contra aquela loja que faz desaparecer a pelagem como que por magia, pim, pim, pim. Há pouco sonhei mesmo que dizia no sonho: "Estão a ver por que é que eu sonho tantas vezes que tenho pêlos nas pernas? É porque tenho!". Há que escalpelizar o significado destes sonhos. Fui à nettinha e fiquei na mesma. Para bebé, isto; para pêlos, isto.
E assim acabo eu meu melhor ano desde 2021, e começo outro que, em não podendo ser ainda mais melhor, ao menos que seja igual (ao litro, que é sempre uma óptima medida).
Um ano feliz a tutti quanti.