Não haverá Natal em que eu viva, que não rume à minha Sandra para, numa tentativa muito tosca, desajeitada e débil, tentar por mais e mais uma vez agradecer-lhe, faz agora três anos, ter-me rapado o cabelo, deixando para trás a família e abrindo o cabeleireiro só para mim. Foi no dia 26 de Dezembro.
Vou e ofereço muito menos do que ela merece, naquele dia um anjo da guarda recortado numa medalha de ouro, depois bijuterias com o significado que lhe quero dar, este ano uns brincos com a pedra do azul mais bonito, turquesa, pedra do signo dela do zodíaco, dizem os astros, e cujo significado os homens entendidos lhe deram como sendo “saúde”.
Apareço sem avisar, embrulhinho cor-de-rosa na mão, digo uma tontice acerca do Pai Natal e abraçamo-nos apertado, dos olhos dela caem lágrimas iguais às daquele dia, sem som nem eco, depositam-se no meu cabelo comprido que as absorve; os meus, secos, nem um soluço, não tenho solução: hei-de ser sempre a mesma bruta, só comigo sou incapaz de me comover, tenho pavor da autocomiseração e a comiseração sufoca-me, sem dó.
Também foi assim no dia 26 de Dezembro, há três anos.