14/10/2021

Beijinhos e bumps

Já aqui o disse e reafirmo-o: se há coisa mai boa que a virose nos ofertou, foi acabar com a mania dos dois beijinhos à chegada e à partida, dados de mão beijada — não literalmente — a todo o bicho careta que se cruzava em nossas vidas, às vezes (felizmente) uma única vez. Éramos apresentados a alguém, conhecido de amigo de amigo, e zás, chuac-chuac. Por vezes até nos calhava uma daquelas almas que davam duas cabeçadas, enquanto. Ou duas babadelas, de caminho. Ou que nem davam beijos, era só um menear de cabeça para a esquerda e outro para a direita e nós a ouvirmos apenas o som dos nossos beijinhos, a meio do nada, uma coisa muito triste e solitária. Qual agora, isso acabou. 

No entanto, também não concordo com estes novos cumprimentos, ao murro e à cotovelada — chamam “fist bump” ao primeiro, se calhar o outro é “elbow bump” —, pois prevejo que, em breve, haverá abusos ao nível da intensidade, assim como havia nos apertos de mão, que, já agora, a menina detestava: ora molhados, ora moles, ora só as pontinhas das unhas, ora quebra-ossos, sempre fui muito dada a evitar esses contactos, sabia lá eu onde é que cada qual tinha andado com as mãos, sobretudo depois de ter ido fazer chichi. E cocó.

Então, sugiro, como alternativa a beijos e murros, por exemplo, a vénia das artes marciais. Uma coisa discreta e com distanciamento suficiente para que não soframos um traumatismo craniano cada vez que. Nada de vénias parvas à rainha, não que não as mereça, porém acontece que, no momento da retribuição, muito haveria de me desagradar ter que repuxar as bainhas das saias para os lados e fazer um lunge, correndo o risco de me desequilibrar (e ainda ter que justificar-me ou soprar para algum balão). Pode igualmente ser um aceno ao de leve, um saravá, um aloha, um namasté, um oi, um hei, um oléééé!, o que calhar, até mesmo um tá-se, embora este me ponha um nico exangue das têmporas porque já não sou dessa época. Mas aguento, muito melhor do que chuac-chuac.





4 comentários:

  1. Confesso que gosto que se dê menos beijinhos. E que na Missa se tenha acabado com o Abraço da Paz...
    Aborrece-me cumprimentar nem não conheço.
    Mas eu sou má pessoa.
    Beijinhos 😉

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    1. Então também devo ser, porque detesto essas intimidades a propósito de nada. Às vezes calham-nos pessoas menos limpas, ou somos nós que (raramente, mas acontece...) estamos suadas, ai, deixem-me! :)
      Beijinhos, Ana, bom fim de semana.

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  2. Ignoro sem hesitar qualquer tentativa de "coisobumps" ainda mais do que fazia antes com beijinhos e abraços descabidos. E olha que sou uma pessoa que gosta de pessoas...

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    1. Imagina que até já uma médica me fez isso. Olha, lidei...
      Também gosto de pessoas, mas também não é preciso de andar a beijar tudo o que passa! :)

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