Então, vamos lá a isto: o relato da minha aparição - não vestida de roxo - no pequeno ecrã, ou na smart TV, conforme preferirdes. Agora já posso, pois que passou para lá de uma semana, e já não corro o risco de que as hordas de fan(ático)s que me perseguem façam scroll no menu, uma vez que a gravação automática do evento foi-se para todo o sempre.
Foi no último dia da Feira do Livro, deambulava eu com três Antónios ao colo (“A ordem natural das coisas”, “Eu hei-de amar uma pedra” e “Tratado das paixões da alma”), quando fui abordada por uma jornalista que quis saber a minha opinião. E eu, abnegada, forneci-lha. Hei-de ter dissertado aí um minuto e meio, quem sabe dois, mas só se aproveitaram oito segundos da minha eloquente prosa. Isto porque - compreendi mais tarde, ao visionar a peça - o objectivo das perguntas da dita senhora era que eu respondesse que a Feira estava cheia de pessoas e que era um perigo e blás, mas olhem, deu-me para tudo, menos para isso. Para já, estava preocupadíssima porque tinha apanhado o cabelo num cagalhoto super mal feito, derivados ao calor (aquela zona tem um microclima, nada explica que, seja Maio ou Setembro, ora chove, ora assa), e apercebi-me que ia falar ao país naquela figura de quem tinha acabado de estender a roupa e assado uma perna de borrego. Então, ela iniciou a reportagem questionando-me se notava grandes diferenças nesta Feira em relação às anteriores, e eu, que devia ter gemido “Ai, que perigo, tanta gente, vamos todos morreeeeer”, limitei-me a dizer que a maior diferença que constatava era a do tempo, por estarmos em Setembro. Só assim para quebrar o gelo. Notei-lhe um semblante preocupado, mas prossegui impassível, quando ela me lançou a segunda bisca: “E em relação às anteriores, sente o mesmo à-vontade que sentia?”, e eu, que era suposto miar “Ai, não, estou cheia de medo, onde é que é a casa-de-banho?”, disse assim: “Sinto, de resto, venho cá sempre fazer a mesma coisa, comprar o mesmo autor, isto é uma ideia fixa”. A da câmara ainda filmou os meus Antónios, mas é como vos conto: só aproveitaram a parte em que eu disse “Obviamente [sou tão intelectual] que está muita gente”, mas digamos que o afirmei completamente fora do contexto que ela posteriormente lhe deu.
Efectivamente, estava bastante gente, só faltaram os que iam para lá empurrar o carrinho do bebé, arrastar os pés, comer algodão doce ou bifanas de Vendas Novas, enfim, os que iam para ver e ser vistos.
Tenho sérias dúvidas que não estivesses Linda e fofa :D
ResponderEliminarComo te entendo, também nós, família macaco (não importa em que circunstâncias) tivemos uma aparição televisa e senti que aquilo que realmente importava, ficou lá nos confins dos arquivos. Mas pelo menos não nos descontextualizaram.
Beijo <3
Be, estava um sebo, suada até ao sobrolho e com cara de supliciada!
Eliminar:D
Eu disse “Obviamente que está muita gente”, porque ela me perguntou se achava que estava muita gente, com pessoas a passar à minha volta! Devia ter dito “DUH”, a ver se ela aproveitava aquele bocadinho!
Beijos, querida. Macacada no meu ❤️
Olha não te sintas mal, mas lembro-me perfeitamente de te ter visto na reportagem :)
ResponderEliminarSou fã da Feira do Livro e este ano apenas fui três vezes, mais por motivos económicos e menos por motivos de covides.
Eu estou a ler o António por ordem cronológica e esta a agradar-me muito a experiência (só li ainda 7, mas lá chegarei)
Era aquela suada com cara de S. João Baptista :)
EliminarNão percebo até agora o que é que me deu para não pedir para tirar o totó da cabeça e uma maquilhadora daquelas do pincel de blush, e alguém a gritar “Gravando!”.
A Feira estava segura, com as restrições possíveis (nomeadamente de afluência às bancas), não me senti minimamente ameaçada. Há comportamentos que têm que partir de cada um, também não podemos esperar que as várias organizações façam tudo por nós, como se fôssemos pequeninos...
Eu leio-o aleatoriamente em termos cronológicos, mas com o mesmo desvelo. Não conheço mais ninguém que escreva assim. Mas também ainda não li muito mais que 7 🙂