Tens uma coisinha branca a sair do rabo, disse-me ela assim, pouco depois do início de uma aula de alongamentos — em que uma pessoa se torce e retorce no chão, levanta perna, abre pernas, faz espargata, vira-se de rabo para cima, fica de gatas, reza a Alá, mesmo que Meca não seja para aquele lado, o povo do stretching é uma bússola, vira a raba para onde lhe dá na cabeça. Do rabo? Mas o quê? Pensava eu já que era o que realmente era, um bocado de papel higiénico, só não estava a perceber como é que tinha ido ali parar. Sobretudo, queria retirar a cauda, mas, por cambalhotas (metáfora) que desse, não a encontrava.
A partir daí, passámos as duas a aula a rir, ela de gozo e eu de nervos, ou talvez ao contrário — visto que ela via e eu só imaginava —, muito em particular quando era suposto adoptarmos posições que envolvessem decúbito ventral. Eu vestia uma saia de paddle, que dão um jeitaço para uma pessoa se mexer à vontade, sobretudo na dança, pois têm uma cueca incorporada, esticam até caberem lá duas dentro e são de um conforto absurdo. Além disso, no meu caso em particular, não permitem que desidrate/ desmaie logo ao início da aula, pois, por conta e risco do anti-ressidivas, transpiro como um pugilista, salta-me água de todos os recantos da cabeça, braços e pernas (o resto está tapado, mas a m. é a mesma), se espirrar ou rebentar em águas ninguém dá por nada. Uma tristeza. Vejo-me obrigada a beber um litro de água durante uma aula de quarenta e cinco minutos, quando não logo a seguir mais meio litro, pois saio aos ziguezagues. Mas é preciso, como navegar. E viver também é preciso.
O assunto resolveu-se nos momentos finais da aula, quando era suposto fazermos a posição "happy baby" e eu decidi que dali não passava. Pés para cima, arranquei a fralda.
Sou uma vítima de mim mesma. Isto explica-se assim: entre duas aulas, fui fazer chichi, mas forrei a sanita (farta de agachamentos ando eu, que aquilo queima as pernas e dói). Limpei-me como sempre, com uma toalhita, deixei-a no depósito próprio e segui caminho. Já de cauda a abanar, pelos vistos. A tal coisinha branca estava apenas presa no elástico da cueca. Podia ter sido uma vergonha inesquecível, se não tivesse sido comigo. Mas ainda fui contar ao professor e rimos até às lágrimas a propósito disso.