Desaguei na farmácia do meu bairro ainda nem 9 horas da madrugada eram. Acabaram-se-me os comprimidos da tensão arterial, que costumo tomar ao pequeno-almoço, de modos que já cheguei toda tensa à drogueira. Estava uma senhora a escolher meias de compressão elástica. Foi fácil perceber que a conversa com a única farmacêutica disponível já ia longa, a avaliar pela quantidade de meias que jaziam por sobre o balcão. Eu, qualquer dia, vou para as boutiques do collant e do soquete pedir aspirinas e comprimidos de carvão para a peideira.
Esperei que ela discutisse densidade, cor, preço e tamanho, e decorreram exactamente dez minutos até que, e isto ao cabo deles, ela decidisse que, afinal, não levava nenhum par. Porque as únicas de que gostou (cinzento-ratazana opaco), após aturado estudo de mercado, foram precisamente aquelas que só se vendiam à unidade e ela queria o par, com a desculpa (absurda) de que tem dois pés. Diz que eram para só ser usadas hoje. É que nem quero imaginar o que faz uma mulher com um par de meias de compressão elástica até ao joelho, em cinza-rata, por um só dia. A mer(d)a imagem mental, ia-me fazendo finar, só com a hipertensão que me provocou.
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Tive que me meter numa estação de correios, o que equivale a dizer que me habilitei ao meu lugar no céu, o tal que dispenso. Entrei e, nos quatro postos de trabalho, só dois funcionários estavam a atender. Faltavam 7 pessoas para a minha vez, esperei a meia-hora de praxe e, um minuto antes de ser atendida, lembrei-me que não tinha levado um documento comigo, pelo que toca para trás, um bocado a pensar aquele palavrão, mas com cara de desenterrada, a sorrir muito, cheia de terra na boca. Corajosa, fui buscar o documento, voltei lá, e obviamente que tirei outra senha. Ficaram, então, numa cadência perfeita, outros 7 à minha frente. Até me senti aquela grande maluca da Branca.
Nessa altura, já os quatro postos estavam ocupados pelos respectivos funcionários. No entanto, só dois estavam a atender: um estava parado, a olhar para a linha do horizonte, que era a do balcão, a cerca de 30 centímetros da cara dele, e o outro estava a atender certificados de aforro, ou senhores de pança e Mercedolas cujo discurso envolve a palavra que começa por di e acaba por nheiro em todas as frases que proferem. Os dois que estavam a atender, demoraram exactamente quinze minutos com os respectivos fregueses: uma mulher com cerca de trinta e cinco anos, vestida como se tivesse vinte e cinco, naquela fase em que as de vinte e cinco se vestem como se tivessem quinze; e um casal de meia idade, que foi comprar um telemóvel, e então queria que ele fosse igualzinho a um que levavam na mão. Qualquer dia, também vou para as lojas das operadoras exigir que me mandem cartas e encomendas. O funcionário percebia de telemóveis basicamente o mesmo que eu de astrofísica, o que levou a que a sala se enchesse de gente, encalorada e impaciente, grupo no qual eu me incluía, em bonito contraste com a olímpica indiferença dos dois. Vem de lá uma quinta pessoa dos correios e resolve, segundo ela, "deitar o sistema abaixo", porque a máquina dispensadora de senhas não estava a coincidir com o sistema que indica a vez. Eu gostei, principalmente porque a karateca do sistema deu-lhe o golpe imediatamente antes da minha vez. Vai a que era para me atender, cruza os braços e diz que, assim, não pode trabalhar. Tive que tomar uma atitude e forçá-la a continuar, sob ameaça do livro de reclamações, que foi o melhor eufemismo que encontrei para morres à dentada se não me registas e envias a m. dos papeis que aqui trago no sovaco. Parecendo que não, isso também se me exponenciou a tensão arterial.
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Tive que me meter numa estação de correios, o que equivale a dizer que me habilitei ao meu lugar no céu, o tal que dispenso. Entrei e, nos quatro postos de trabalho, só dois funcionários estavam a atender. Faltavam 7 pessoas para a minha vez, esperei a meia-hora de praxe e, um minuto antes de ser atendida, lembrei-me que não tinha levado um documento comigo, pelo que toca para trás, um bocado a pensar aquele palavrão, mas com cara de desenterrada, a sorrir muito, cheia de terra na boca. Corajosa, fui buscar o documento, voltei lá, e obviamente que tirei outra senha. Ficaram, então, numa cadência perfeita, outros 7 à minha frente. Até me senti aquela grande maluca da Branca.
Nessa altura, já os quatro postos estavam ocupados pelos respectivos funcionários. No entanto, só dois estavam a atender: um estava parado, a olhar para a linha do horizonte, que era a do balcão, a cerca de 30 centímetros da cara dele, e o outro estava a atender certificados de aforro, ou senhores de pança e Mercedolas cujo discurso envolve a palavra que começa por di e acaba por nheiro em todas as frases que proferem. Os dois que estavam a atender, demoraram exactamente quinze minutos com os respectivos fregueses: uma mulher com cerca de trinta e cinco anos, vestida como se tivesse vinte e cinco, naquela fase em que as de vinte e cinco se vestem como se tivessem quinze; e um casal de meia idade, que foi comprar um telemóvel, e então queria que ele fosse igualzinho a um que levavam na mão. Qualquer dia, também vou para as lojas das operadoras exigir que me mandem cartas e encomendas. O funcionário percebia de telemóveis basicamente o mesmo que eu de astrofísica, o que levou a que a sala se enchesse de gente, encalorada e impaciente, grupo no qual eu me incluía, em bonito contraste com a olímpica indiferença dos dois. Vem de lá uma quinta pessoa dos correios e resolve, segundo ela, "deitar o sistema abaixo", porque a máquina dispensadora de senhas não estava a coincidir com o sistema que indica a vez. Eu gostei, principalmente porque a karateca do sistema deu-lhe o golpe imediatamente antes da minha vez. Vai a que era para me atender, cruza os braços e diz que, assim, não pode trabalhar. Tive que tomar uma atitude e forçá-la a continuar, sob ameaça do livro de reclamações, que foi o melhor eufemismo que encontrei para morres à dentada se não me registas e envias a m. dos papeis que aqui trago no sovaco. Parecendo que não, isso também se me exponenciou a tensão arterial.
Não sei como sobrevivi.