Vi uma senhora de idade cair para o chão, exactamente diante dos meus olhos, na passadeira que é asfalto pintado de branco, onde eu havia parado para lhe dar passagem. Porque estava mais perto, porque reajo mais depressa, porque tenho um voo rasante mais veloz, fui a primeira pessoa a chegar-lhe ao pé, aos pés, quase nada antes de um razoável grupo de pessoas que também tinha assistido à queda. Apanhei-lhe a mala, um dos sapatos, e os dois olhos, marejados de umas lágrimas que eram de susto e comoção, agradecendo, sem jeito,
Não sei como lhe agradecer,
já eu fugia dali, se pudesse, cheia das dores da queda dela, culpada por nem saber, de tantas coisas e porquê.
Fui dali para lá, onde encontrei a mão magoada da minha mãe, o pânico do costume, as duas num alvoroço, vale-me que já não me dão estas dores sozinha, a dor repartida é menos cruel, dói um bocadinho menos, mas a mais pessoas também,
Ó mãe, o que foi isto?
Ó mãe, isto dói-lhe?
Havia uma senhora que não nos largava, a querer fazer uma descrição do sucedido ta-ta-ta-ta-ta-ta-ta-ta-ta.
Ai, que dores, quase não aguentava mais de tantas, tenho a mania que sou metafórica e disse,
Tenho que me ir embora, isto hoje parece um ninho de cucos, e eu já me sinto a voar.
Quando saímos, eu fugia dali, que senti. Era qualquer coisa que havia no ar — cucos, não eram —, mas ouvi-me dizer, lá de cima,
Só falta chover.
Sentimo-nos tantas vezes perdidos, coo uma criança sem mãe... Todos somos essa criança nas várias circunstâncias da nossa vida.
ResponderEliminarUm abraço apertado, minha querida Blue
Tal e qual, Miss Smile. Eu não consigo melhor metáfora do que essa.
EliminarOutro, minha querida. Obrigada.
Desaba-nos o mundo em cima, aos pedacinhos, de vez em quando.
ResponderEliminarAbraço apertado, Lindinha azul :)
Mesmo. E ficamos a vê-los, a caírem-nos aos pés, sem percebermos muito bem como é que, de repente, aquilo aconteceu.
EliminarAbraço recebido e retribuído, Marioca. :)