Esqueci-me do título. Ah, já sei: "Dori"

Estou a começar a perder a memória. Toda a memória, tanto a longínqua quanto a recente. Não me lembro de nada, algumas lembranças mais antigas foram-se e as mais actuais desaparecem em menos de um fósforo. Por um lado, é bom, há milhares de coisas que eu prefiro nem me lembrar que algum dia vivi. Por outro, é chato, no dia-a-dia, esquecer-me de tudo em todo o lado, esquecer-me que disse alguma coisa a alguém, esquecer-me que assumi um compromisso, ou do dia e da hora a que devo estar, esquecer-me que tenho uma tarefa para cumprir, esquecer-me que já fiz alguma coisa e repeti-la, etc. Não tenho sequer a benesse da memória, que é lembrar-me quando me lembram. Simplesmente, não me lembro e não adianta lembrarem-me. Uma coisa é um esquecimento. Isto é um apagão.

Cada pessoa envelhece à sua maneira. Eu ficava desesperada com a minha mãe porque, como ela me teve com 40 anos, nunca foi nova. E começou muito cedo a baralhar tudo, a trocar a ordem a tudo, a esquecer-se de tudo, a deixar tudo em todo o lado. Mas a vida tem-me ensinado que aquilo que nós observamos nos nossos pais e mais nos irrita é precisamente o que nos vai acontecer mais tarde, e vamos repetir quase ao esquadro. A genética pode ser uma coisa muito generosa, mas também muito lapidar. E os sinais de que o corpo já goza de alguns anos surgem devagar e aos poucos, e confundem-se com traços de carácter que sempre foram nossos. Eu fui sempre desarrumada, confusa e esquecida.

Outro dia desabafei com uma delas:

- Não há dúvida que o tempo passa por todas as pessoas, só muda o modo. Umas enchem-se de rugas, caem-lhes os dentes, o cabelo fica seco e ralo, ganham papada e descaem-lhes as mamas. Eu estou a perder a memória.

- O que é que preferes? Ficar sem dentes e sem cabelo, cheia de rugas e com a boa memória do que já foste, ou assim como estás e sem memória?

- Prefiro o que tenho.



28/06/2014

Pensando bem, Primark, li amo. Ou, em português PT: estou contigo, miga.

Foi notícia, esta semana, o aparecimento de uma etiqueta bordada por uma funcionária da fábrica da Primark, com um pedido de ajuda devido ao excesso de horas de trabalho. Bordada, não escrita. Alguém teve tempo e paciência para bordar uma mensagem inteira, com cinco palavras. Como eu sofro de síndrome de teoria da conspiração, continuo a achar que existe uma forte possibilidade de a etiqueta em causa ter sido "fabricada" pela concorrência, esmagada pelo poderio da Primark, no que toca a relação preço-"qualidade". 

Ora bem. Há três anos atrás, a Zara foi, precisamente, alvo da mesma denúncia que agora atinge a Primark. Pela mesma ordem de ideias, a mim apetece-me imaginar que, nessa altura como agora, a denúncia partiu da concorrência. Porque esta mania da teoria da conspiração é como a democracia: ou há ou comem todos. Apesar de a própria Zara ter admitido que era uma... senzala. 

Usei aspas na palavra qualidade, tendo em conta que, na Primark, tudo é em baixo: os preços são baixos, porque a qualidade é baixa. Nada do que se vende na Primark é feito para durar a vida toda. Mas atire a primeira pedra a mulher - queiram ou não, somos as grandes consumidoras de trapos, quer para nós como para os respectivos, crias e casa - que compra um top ou uma saia para durarem a vida toda (vale que pouca gente me lê, caso contrário, estaria agora a ser apedrejada pela brigada intelectualódepressiva). E a Primark assume o factor (baixo) preço-(baixa) qualidade tranquila mas subrepticiamente. Não faz publicidade, não tem site, não advoga que tem os melhores preços (porque tem) para a fancaria que vende, nem nos enche a caixa de sms com mil mensagens de promoções e descontos. Enfim, what you see is what you get. Depois, a Primark tem, para mim, outra gigantesca, esmagadora, vantagem sobre o grupinho Zara (que é o que está histérico com a concorrência que a Primark lhe faz): permite-nos dias bipolares. Respeita que uma mulher acorda uns dias santa e outros devassa. Por 4 euros cada um, permitiu que eu comprasse dois topezinhos, iguaizinhos entre si, mas um para os dias santos (por estrear) e o outro para os dias wilde (hoje no corpo). E nisso eu fico-lhe eternamente agradecida.



As concorrentes não fazem nada disto. Apresentam na loja peças da mesmíssima má qualidade da qual acusam a Primark, mas a preços muito superiores. Senão vejamos: 

Os dois tops que mostrei acima são de fibra. A qualidade é zero vírgula um. Qualquer dia de mais calor ou em que haja actividade física excepcional farão de mim o texugo da área. A fibra não é amiguinha das morenas.

Há três meses comprei este camiseiro na Zara. Material, 100% fibra.
A mim fica-me melhor do que a esta deslavada de cabelo sujo, mas isso não é agora o point.





Foram € 29,90 para a caixa registadora. Estava a trabalhar e tinha que me apresentar com ares. Comprei, sem experimentar na loja, o M, mas devia ter trazido o S. Na primeira lavagem, esgaçou num dos ombros. Não descoseu a costura, abriu o tecido. Fui trocar (sintomático que as funcionárias nem pestanejam quando apresentamos uma peça naquele estado ao balcão e não, não é política da empresa, é consciência de que a qualidade é só má) e aproveitei para trazer o S. Usei o camiseiro mais umas três vezes, até um dos botões saltar e ir parar a nowhere. Não é grave, é só mais um sinal de que é tudo feito à pressa, mal, aos milhares, sem preocupações de satisfação mínima do cliente, a não ser a imediata. Mas com preços muito distantes da primeira Zara em Portugal, estabelecida na Av. Guerra Junqueiro, no espaço do cinema Star, e onde cheirava sempre a esgoto. Era a boutique da feira, a que provocava tumultos quase até à Mexicana durante os saldos, mas era a loja-barata-da-roupa-feita-para-durar-uma-estação. Agora também dura, mas deixou de ser barata há muitos anos e ganhou uma proa que não justifica de maneira nenhuma. 

Daí que não consiga perceber os critérios daqueles que tão bem distinguem a Mango e a Zara - e todo o grupo Inditex em geral (Bershka, Stradivarius, Massimo Dutti, Pull & Bear, etc) - em termos de qualidade e até se benza quando se fala da Primark. Eu benzo-me é quando compro umas calças no Massimo Dutti, a preços Massimo Dutti, e só com o uso é que percebo que não é a minha perna direita que é torta, a costura da calça direita é que está torta. Heh.

27/06/2014

My (un)real valient Valentino shoes



Eu vou tentar ser sucinta. Mas sei que o meu estado de alma não mo vai permitir, tamanho é o excitex que me invade.

Vi-os na Pipoca (não vou pôr link, quem não souber de quem se trata, nem vale a pena ler o resto) e aconteceu O Amor. São marca Valentino, e custam entre 450 e 500 euros. A minha bolsa entrava logo em queda, se os comprasse. Não que o meu pé reclamasse, simplesmente existe uma enorme décalage social entre o meu pé e a minha carteira. Parece que aquele longo e lindo percurso que vai do pezinho à anca, onde a carteira anda instalada grande parte do dia, é de queda e não de ascensão, como deveria ser.

Fui para o ebay. E piorei as coisas para o meu lado. O ebay tem os verdadeiros, a preços de verdadeiros. Chaiça, gritei eu, no meu melhor alemão (que não passa de cerca de cinco palavras).

Fui para o Google. Procurei por "Valentino shoes replica" e ah, primeira luz, aqui. Mesmo assim, caros. A descida é para 1/5 do preço, mas não me atrai ter uns sapatos de pele de vaca sintética (vaca sintética é um animal que vive nas pradarias cor-de-rosa e que tem que morrer para se fazerem sapatos chineses, tá?) por 100 euros.

E eis que me aparece o chinês do ebay, com estes. Subitamente, esqueci-me de todas as minhas teorias mercado único-espaço comum europeu-direitos alfandegários e do quão farta estou de ir à alfândega buscar um rimmel. E também do quão fartas de mim estão as funcionárias da alfândega.

Ponho-me em conversas com a Sister V. que, apesar de se auto-denominar uma jabarda, preenche todos os requisitos para ter, assim como eu, uma tia agrilhoada dentro dela. Peço-lhe conselho. Compro? Não compro? E de que cor? Eu gosto dos bege. Mas não sei. Queria-os mais nude, exactamente como os verdadeiros. Mas a cor dos nude cria-me dúvidas - eu só sou daquela cor no pino do Inverno, que é quando não os vou usar. No Verão, sou mais camel. E uns sapatos nude em cima de uma pele mais escura, ficam tudo menos... nude. Imperturbável, aconselhou-me a comprar. Acho que percebeu que eu já não estava em condições de viver sem eles. Melhor, revelou-se uma verdadeira amiga. Uma irmã. Uma filha! Mandou-me mais dois links, com mais dois vendedores dos mesmíssimos "Valentino", ainda mais baratos do que os do chinês do ebay. Quer dizer, se somar portes, vai dar ao mesmo, só que com a vantagem de que os vendedores - que, na realidade, são intermediários - é que se chateiam com os portes, a alfândega, etc. Ora peguem, que eu não sou de guardar só para mim. Eu quero ver o planeta inteiro com estes sapatinhos nos pés. Só assim conseguirei atravessar uma velhice feliz e descansada.

http://flytoyoushop.wix.com/fly-to-you#!sapatos/ck02

http://www.lightinthebox.com/pt/c/sapatos-de-senhora_16433

Mandei vir os bege. Ai, não acredito que vou ter os meus Valentes! [pausa para hiperventilar para um saquinho de papel]. Vou ter que esperar para aí um mês para que me cheguem aos pés. Mas vou usá-los de dia, de noite, a dormir, na praia, no campo, na vindima (que não frequento, mas passo a frequentar), no pique-nique, no banho, à chuva, no ginásio, como chinelos de quarto (especialmente se for internada numa clínica psiquiátrica por não aguentar tanto amor), nos casamentos e baptizados, nos funerais (dos outros), para ir correr, para dançar, para um safari no Quénia, enfim, perceberam: para sempre. Porque os meus amores são todos para sempre.

Obrigada, Sis, minha irmã! Quando eu ganhar o Euromilhões, há rodada de Valentinos verdadeiros para nós!


26/06/2014

Ando a ler demasiados blogs

Quem, como eu, lê todos os dias, religiosamente, o blog Shame on you blogueira (descontando o facto de ser brasileiro), já não consegue espantar-se com nada. Ainda assim, por vezes ocorre-me perguntar...

 


25/06/2014

Isto sim, é serviço público, quais agora...

Quatro dias seguidos de praia, aquando daquela bendita onda de calor há duas semanas (volta, querido, estás perdoado!), transformaram-me numa mulher castanha. Sabe-se lá como, provavelmente por voltas que a genética dá, bastam-me umas horas de sol, assim distribuídas por quatro dias, e parece que estive duas semanas de férias, de cu ao alto e de papo para o ar (há que alternar, senão o bronzeado não se distribui). Um mimo. Lembro-me de, em miúda, ter tido um namorado que a última coisa que lhe ouvi dizer foi "Por favor, fica à sombra, que os outros já dizem que eu ando com uma mulata". 

Assim como vem, a cor da pele também vai embora, se não fizer a "manutenção". Uma semana volvida sobre a última vez que fui à praia, comecei a aclarar. Isso não é preocupante, não fora o facto de eu aclarar mal. Não se pode ter tudo, lá diz o povo na sua imensa sabichonice. Aclaro mais nas olheiras, no que havia de ser o bigode no caso de ser macho (o lugar do buço, prontos) e na parte inferior das bochechas, o que me dá, de graça, a aparência de um fantasma - que é tudo o que uma mulher pode aspirar para si, nomeadamente quando se olha ao espelho de manhã. 

Inconformada - pode-se mesmo dizer infeliz - com o mau tempo que não dá tréguas nem oportunidades balneares, fui desencantar A Caixa da Magia. Lady Caixa da Magia. 


Até me treme o lábio a pronunciar este santo nome: Star Bronzer, da Lâncome. A pequena maravilha, comprada em Badajoz há seis anos (com IVA a 6 %, o que embarateceu a coisa), continua impecável, o que contradiz o aviso que, normalmente, consta da embalagem: validade seis, nove, doze meses após a abertura. Retenham, mulheres: se não cheirar mal, não tiver um líquido estranho (no caso dos cremes, acontece o óleo separar-se da banha e aparece um líquido castanho no creme) nem tiver alterado a cor, então é porque está bom. E, mesmo sendo caro - se a memória não me falha também para isto, andou pelos € 40,00, mas não encareceu entretanto -, uma duração de seis anos, mesmo tendo em conta que não o usamos todo o ano, amortiza bem a despesa o investimento e amortece a queda da bolsa (eu às vezes tenho tanta piada que nem sei como é que ainda não fui parar às Produções Fictícias ou assim). De qualquer forma, ainda se apanham exemplares no Ebay ao preço da uva mijona, que é aquela mais barata, com urina. Por exemplo: http://www.ebay.com/itm/Lancome-star-bronzer-maquillage-solaire-poudre-00-TEREE-/171354408452?pt=FR_CP_Beaute_Soins_du_Corps&hash=item27e584c604. Atenção à proveniência dos produtos se fizerem uma encomenda online: tudo o que saia do espaço comum europeu paga direitos alfandegários (acima de 37 euros) ou, mesmo que não pague (abaixo de 37 euros), têm que ir levantar à alfândega, o que é um aborrecimento. Não foi por acaso que pus aqui um link de um exemplar cuja proveniência é França. Tem sempre que se verificar o que é que está escrito na linha "Item location".

Este Star Bronzer é tão bom, tão natural, dá-nos um ar tão saudável, que só pode alguma coisa correr mal se fizerem o que eu fiz ontem: entusiasmei-me a pô-lo e fiquei qual índio pele vermelha. 

Passei mesmo o dia a imaginar qual seria o meu nome índio, caso fosse Apache. Devia ser Corrector automático. Não suporto erros ortográficos. 

Ai que sensação de alívio...

Deve ser isto que as outras pessoas sentem após um bom ataque de flatulência (não sei se já disse aqui vezes suficientes que esse é outro problema que não me assiste)...

Queixinha enviada para o gestor de cliente, ANACOM e Provedor. Só me apetece ficar sentada, pôr os pés em cima da mesa, e esperar, de preferência a saborear um Magnum Mint. Isso é que era o pleno. 

24/06/2014

Já não se aguenta o gajo e seu histerismo auto-promocional (actualizado)




Também corre para aí que o homenzinho não faz uma tatuagem para poder dar sangue. A dúvida é: e dá? É que, caso ainda alguém não saiba, pode-se dar sangue com uma tatuagem. A ignorância não me mata, mas mói-me. A tatuagem é na pele, não corre tinta nas veias. Aquilo que nos é perguntado, quando vamos dar sangue, é, de entre outras coisas, se fizemos uma tatuagem, um piercing, nos últimos seis meses. Se a resposta for sim, só fica assinalado o sim, mas não é isso que nos inibe de dar sangue. O sangue dos dadores, de todos os dadores, é sujeito a análises ao vírus do HIV, de entre outras, independentemente de responderem sim ou não à questão da tatuagem. Também nos perguntam se fizemos uma operação cirúrgica, uma extracção dentária, mesoterapia, uso de drogas injectáveis ou qualquer coisa que envolva agulhas nos últimos seis meses. E também se mudámos de parceiro sexual. Imaginem a quantidade de gente recusada se só se pudesse dar sangue no caso de todas as respostas serem negativas.

Actualização

Diz que não.

Afinal é só mais um penteado foleiro.

Já agora, constatação quase escatológica

É só comigo ou a toda a gente acontece apanharem rolos de papel higiénico cuja primeira folha está colada ao rolo com Araldite, ou qualquer outra cola de contacto, de maneira que a puxamos, ficamos com a primeira volta na mão, rasgamos as seguintes, a certa altura arrancámos quase metade do rolo, mas aos pedaços e com tamanhos e formas aleatórias, e aquela intenção de tirar umas folhinhas já se perdeu irremediavelmente? Os fabricantes de papel higiénico já experimentaram, verdadeiramente, usar os rolos que fabricam? 

Já agora, mais um de experiência feito e aproveitai que eu não duro sempre: o melhor de todos é o Pampilar Compacto Ultra Longo*. Na minha casa está elevado a Sir. Sir Pampilar. Os rolos são enormes, são capazes de durar um dia inteirinho (24 horas! Sem contar com 8 para sono, são 16 horas!) numa casa com, por exemplo e absurdo, quatro gajas. O papel não é excessivamente macio (e quem precisa de veludo para limpar o cu? Maricas) e limpa que se farta, a menos que tenhais peles e olhos sensíveis, mas isso ide resolver com pomadas, ou praticai o celibato. 

* Ninguém me paga para isto.


Olha que bonita imagem. "Ternura", é como quem diz, mas cada um sabe de si.

Constatação física

Lavas uma máquina de roupa branca e, a seguir, uma máquina de roupa escura. No dia seguinte, só a escura, que foi lavada e estendida uma hora depois, está seca.

Pois, é isso.

23/06/2014

Querida MEO, odeio-te

É certo que eu podia vir para aqui embirrar com o jogo de ontem, as sobrancelhas do Cristiano Ronaldo versus jogar à bola - que é só para isso que lhe pagam(os) -, com o mau tempo que nem uma praia rápida dá, ou com a minha vida, que isto há dias em que só apetece partir a loiça toda e ir comprar nova à SPAL* ou à Vista Alegre*, que eu não faço por menos e sempre ia adiantando os meus dias de Euromilhões. Mas apetece-me mais embirrar com a MEO.

A MEO tem um processo qualquer de, remotamente, saber quais os canais que os seus utilizadores mais vêem. Também tem um pacote à venda, chamado MEO Total, substancialmente mais caro que o meu pacote (plim, uma piada ordinária aqui prá mesa 3, por favor). E também, é claro, tem um poder soberano de, remotamente, determinar quais os canais que nós, clientes que pagam a sua conta, podemos ver. Vai daí, munida destas três vantagens, retirou-me o meu CBS Reality, que era o meu canal preferido. Pausa para respirar e para explicar que, para mim, a televisão é entretenimento, desopilanço, esvaziamento mental, distracção. Portanto, e retomando, assim, sem aviso, fiquei sem o meu Medical Detectives - nunca aprendi tanto sobre investigação criminal na minha vida! -, o meu Dark Waters of Crime - a sério que a mente humana consegue ser tão perversa ou é só nos Estados Unidos e na Austrália? -, e sem o meu Crime Stories - mais do mesmo. Na verdade, passava à frente todos os outros programas (o povo do Hoarded já me metia um bocado de nojo, o Judge Judy era um bocado didático demais - para além de o nome do programa ser um trava-línguas meio irritante -, Rescue Medium não me apanham a ver nem naqueles dias em que me sinto na pele de uma loura e, quanto à sobrevivência de casais com seis gémeos, digamos que isso me interessa zero), o que pode ser sintomático de aqui se esconder uma investigadora criminal frustrada, já que uma criminosa potencial não me parece. 

É certo que, naquelas entrelinhas pequenininhas (normalmente, escritas em letra 6 e a vermelho) do contrato, deve estar qualquer autorização para que a MEO possa determinar a minha vida, apesar de - repito - ser eu a entidade pagante. Mas não perdem pela demora e vão mesmo levar comigo. Me cansei de lero-lero, dá licença mas eu vou sair de sério, quero mais saúde, me cansei de escutar opiniões de como ter um mundo melhor, mas ninguém sai de cima desse chove e não molha. 

* ninguém me paga para isto.

21/06/2014

Até tem chovido pouco, para o que eu queria para hoje (1º dia de Verão, hah!)

As compras chegam à minha casa através do Continente online. Faço a encomenda e, um dia depois, tenho tudo em casa. Gasto o equivalente a um salário mínimo nacional. Não estou a contar com as N vezes que vou ao hipermercado durante o mês, deixar outro salário mínimo naquelas coisinhas que não escolhem dia nem hora (ai perdão, isto era de um anúncio que dava no meu tempo e eu estou a ir para velha, de maneiras que baralho. Com B). Portanto, só eu, pago dois ordenados àquela casa. Acompanhais o meu raciocínio?

O Continente "oferece" uns vales aos clientes, para descontar em determinados artigos que ele não usa. Estou perfeitamente em crer que os meus vales não são iguais aos da minha vizinha do lado. Provavelmente, os dela têm os meus detergentes, pois os meus têm artigos que eu jamais consumi, nem me parece que venha a consumir. Marisco, laca Elnett Satin, porras com nomes indecifráveis enlatadas, e merdas.

Um dos vales é, invariavelmente, o de 25 % de desconto em cartão, que é o vale da felicidade: eu posso gastar 400 ou 500 mocas, mas vão 100 ou 125 para o cartão. Certo? Errado. A matemática do Continente não é a minha matemática. Cada vez que insiro o cupão dos 25 % nas minhas compras, lá me telefona a avantesma do call center a dizer que estão indisponíveis para entrega os artigos x, y, z, alfa, beta, gama e delta. E eu, ok, ok, aquilo até me baixa a conta final, em vez de tanto, pago 300 e qualquer coisa, ah, mas assim fico com 50 euros em cartão, porque há ali umas maroscas com o preço da entrega e eu não faço as contas ao rigor do lápis se elas não forem daquelas de fazer de cabeça, embora seja imperioso aqui e agora confessar que, nos saldos, ninguém me bate, é elas ai são 30 % de desconto e eu zás, fica tanto. Não sei se estão a acompanhar o meu raciocínio, e toda esta revolta.

Este mês deixei passar o prazo do talão dos 25 % de desconto e, quando fiz a encomenda, até me doeu, mas oh milagre!, veio completa. Não faltou artigo nenhum, nenhum estava indisponível e, pasme-me, cinco dias antes do mega-piquenique, que é a época do ano em que as entregas abrandam, param, os artigos entram em ruptura de stock, uma festa em grande para quem está do lado de cá e não participa de forma nenhuma no piquenique. E também caga nele.

Portanto, o Continente indisponibiliza-me o equivalente ao que eu vou ter em desconto de cartão, que eu vou, muito alegremente, lá gastar no dia seguinte. Ou seja, não me dá nada. 

Chuva, é o que eu lhes desejo para hoje. Torrencial. Lamacenta e ininterrupta. E ventos fortes, por vezes com rajadas, vindos do leste. E também o anticiclone dos Açores. 

Ah, já sei. Podia mudar de "fornecedor". Poder, podia. Mas não era a mesma coisa. 

20/06/2014

A nossa primeira vez

correu muito bem. Como sempre, hallelujah. 

Confesso que olhei meio desconfiada para a sanita nova. Demasiado baixa, ia-me obrigar a ficar com as pernas mais dobradas. O perímetro mais estreito que o da outra, achei que o nalguedo não ia apreciar tanto aconchego. Está bem de ver que a porcelana não foi escolhida por mim, senão atirava-me às Rocas da vida, que eu tenho a mania que sou fina, até mesmo a cagar. Porcelanosa não, que o que é nacional é bom e já basta de Filipes. Mas não há dúvida que o momento da defecação é completamente sagrado. Vem-me à memória o tempo em que, menina e moça me levaram de casa de meus pais e era incapaz de obrar no pote novo, da nova casa - que, por acaso, é esta onde habito actualmente e, quem sabe, pelo resto dos meus dias, se não ma penhorarem entretanto. Então, ia a casa deles todos os dias, largava a prenda e saía, em direcção à minha nova morada, embora não sem antes puxar o autoclismo. Penso que foi este respeito pela minha tripa, esta obediência a horário, lugar e modo, que fez com que nunca tenha tido desaires merdosos nem dores daquelas de suar as estopinhas. Posso mesmo gabar-me de nunca ter procedido à função em nenhum local de trabalho, por absoluta e sincera desnecessidade. E isto foi-me ensinado pela minha própria mãe que, desde que larguei as fraldas e passei a fazer no bacio, e se apercebeu que "a minha hora" era a hora da refeição, encaixou o penico na cadeira de papa, e permitiu que não só eu, mas também toda a família, pudesse desfrutar do privilégio de assistir ao processo de entrada e saída de alimentos, em simultâneo, no mesmo organismo, enquanto saboreavam a sua própria refeição. Por isso vos digo: se a vossa "hora" for a hora de os outros comerem, a hora de trabalhar, a hora de dormir ou a hora dos prazeres carnais, respeitem o intestino, parem tudo, ide cagar - pode ser à mata, mas ide - porque essa é a única forma de educar a tripa: deixando que ela nos eduque a nós. 


19/06/2014

Vou ter um trono novo, assim como Felipe VI, olé!

(porque há muito tempo que não se fala de cocó neste buraco)

Foram muitos anos a usar o mesmo trono. Mais de duas décadas de cagadelas das boas, pelo menos na parte que me toca, felizmente, que graças a Deus ou à boa genética (obrigada, mamã, obrigada, papá, aquela noite - se é que fui concebida de noite - correu mesmo bem), ou só a um mero acaso, nunca tive problemas da tripa, nem de durezas de parto difícil, nem de molezas constrangedoras, sequer de cólicas de fazer parar o trânsito, a vida, tudo, pára tudo que eu vou cagar. Pois que não. Uma lady na retrete, uma louca na mesa (na cama também, as duas coisas). Olho para a sanita, a ser arrancada das entranhas onde o construtor da casa a pôs, velha, rachada e cansada, e quase me verte uma lágrima do olho. Eu ligo-me emocionalmente às coisas, e esta é uma das tais com a qual tenho uma ligação visceral, quase literalmente falando. Muito de mim, muito do meu interior, ali ficou. Tarolos maiores, tarolos mais pequeninos, mas sempre bons tarolos por ali passaram. E, no entanto, não vejo a hora de estrear o trono novo e começar com ele uma vida nova. Uma vida de merda, é certo, mas uma vida muito nossa. E muito íntima.



17/06/2014

Desta vez vou acompanhar o fenómeno viral

iniciado pela Sister V.

Já saltei as shoefies, as shelfies, mas agora com as selfishes, ninguém me agarra.


(No fundo, esta é um 2 em 1, porque amostra shoes & eisbein de LP. )

Apresento o meu hambúrguer de salmão congelado.

Já sei o que é que estão a pensar. Essie, n.º 726, cor "Vermillionaire" (a antecipar aquele momento em que me vai sair o Euromilhões). Estou tão viciada que pinto mãos e pés com o mesmo. E mais unhas tivesse.


16/06/2014

Proposta de trabalho

Isto passou-me debaixo dos olhos hoje:

Boa tarde,
Estamos permanentemente a atualizar a nossa sua bolsa de colaboradores para efectuar transcrições jurídicas.
Neste momento estamos numa fase de muito trabalho e estamos a necessitar de mais alguns colaboradores.
Pagamos €0,25/página e as transcrições devem ser entregues em letra Arial 11, espaçamento 1.
O volume de trabalho é muito elevado, pelo que precisamos de colaboradores.
Perfil:
Total domínio da língua Portuguesa
Capacidade de trabalhar sob pressão.
Para mais informações ou envio do CV:
[um endereço de email que eu devia postar aqui, só para que ninguém pense que eu inventei semelhante disparate]

E eu li isto:

Somos uma plantação de algodão do sul dos Estados Unidos, em pleno século XIX, e queremos mão-de-obra escrava.

Só para vos situar: uma página, em Arial 11, espaçamento 1, leva cerca de 15 minutos a escrever (transcrever não é o mesmo que escrever, pelo que o tempo que uma e outra coisas levam não é o mesmo). Isso significa que, para uma pessoa ganhar 1 euro, terá que trabalhar uma hora, com total domínio da língua portuguesa e capacidade de trabalhar sob pressão. 

Udei-vos capatazes desta terra. Um euro à hora é, no mínimo, ofensivo. Estimo que muitas moedas de um euro (ou de dois, que sempre são maiorzinhas) vos entrem nos ânus. Atravessadas.

Os monólogos dela

São 9:37 no momento em que começo a escrever esta posta.

Ela entrou às 9:00.

Às 9:07 eu já tinha obtido, sem ter pedido, as seguintes informações:

- Não se pode estar na praia;
- Há pessoal que se vai chegando à nossa toalha e acaba por se meter debaixo do nosso chapéu de sol;
- É pessoal que se vê logo que não faz nada na vida, a não ser andar metido em "negócios";
- É pessoal que não se enxerga;
- A minha [dela] Tatiana já veio cheia de dores de garganta;
- Eu [ela] até lhe disse: "Ó Tatiana, vai já tomar um Brufen";
- O meu [dela] filho come os cereais em cima do sofá;
- Este fim-de-semana avariou-se tudo lá em casa;
- Fiquei sem frigorífico e avariou-se a chave da nossa carrinha;
- Até disse para o meu [dela] marido [que não se casou com ela, mas é marido]: "É mesmo sexta-13, é só azares".

Entretanto, eu dobrava roupa, para lhe poupar tempo de trabalho e chatices para mim, enquanto ela dava à matraca. 

E sim, eu levo cerca de 7 minutos a destilar fel por escrito.

Vou mas é para a praia, o desemprego não pode ser só coisas más.

15/06/2014

O-bri-ga-tó-ri-as!


A risquinha branca, ao pé do relógio, é sal. Envy me, que eu deixo e percebo.

14/06/2014

Sol a mais na moleirinha

e, por conseguinte, venho cá só avisar que vou deixar de comentar blogs de gajas que não me respondem. Estou farta de ir pôr os comentários mais inteligentes e de humor mais fino (alguns de ensinamentos de experiência feitos, valiosíssimos!) em blogs de peruas insensíveis que, sistematicamente, nem ó burro queres água. Mas lá às anónimas e às que se apresentam com um nick ainda pior que Linda Porca, mas que as desancam de foleiras e tontas para baixo, estão elas sempre disponíveis para responder. Cansei de gastar verve. Cansei de ser inteligente e simpática. Cansei de ser sexy. 

13/06/2014

Coisas esquisitas que eu alcanço com os sentidos

Estar uma família ao pé de mim, na praia - pai, mãe e três filhos pequenos -, os miúdos, dois rapazes e uma menina, com fatos-de-banho iguais, eles calções e ela maillot, tudo azul de cornucópias, o maillot da menina de grande laço atrás, ela loura, os irmãos quase louros, os pais em boa forma, tudo muito tio e tia spé, Tresinhááá, Bneditááá, Brnááárdo, e vai a mãe, levanta-se para ir ao mar com um dos miúdos e, para além da tramp stamp, larga um "pôça" quando passa por mim. Não é possível fazer um estudo antropológico quando há um elemento que foge ao estereótipo de forma tão abissal. 


12/06/2014

Depois do Nutela, a Coca-Cola

Nome merda não tem, como diz o Fábio Porchat.



Por falar nisso, EU QUERO IR VER O FABIAÇO, no dia 2. Só me falta um niquinho assim para conseguir. 

http://ticketline.sapo.pt/evento/festival-porta-dos-fundos-fabio-porchat-8873

Eu venci o vírus!

Parece que há um vírus no blogger, ou no feedly (o que, na prática, vai dar ao mesmo), do qual me apercebi há umas semanas atrás.

E também existe uma forma de contornar o bicho, por mim descoberta e explicada à Rainha (majestade, já integras o corpo de um post porcino, isto é honra ou chafurdeira?) nos comentários daqui. Em sendo boa como só eu, copio e colo de novo. Se algum aflitinho aqui passar, sirva-se, por favor, que eu sou de desmesurada bondade. E sinto mesmo que me encontro, neste momento, ao nível do génio informático.

(...) faz a lista como manda o figurino, assumindo a lista que já tens feita em privado, ou acrescentando os blogues que quiseres e, no fim, clica em "guardar", as vezes que forem necessárias até o botão respectivo fazer uma ligeira mudança de luz (não sei explicar isto melhor). É sinal que guardou mesmo, até porque desaparece o quadro da lista (e vai-te aparecer a lista, linda, leve e loira, no blog). Força, dá-lhe!

11/06/2014

Mantendo a tradição

ontem fui comer sardinhas. É uma espécie de sushi, mas grelhado. Não percebo por que é que se diz "sardinhas assadas" quando, na verdade, elas são grelhadas. Nas brasas, na grelha, grelhadas. Se fossem assadas, era no forno. Ou com os rabos a doer, precisando de camadas de Halibut. Esta foi muito à frente, nem todos conseguem acompanhar o meu raciocínio.

A cena à mesa começou com os caracóis. Mal a travessa pousou na mesa, ponho-me com rodriguinhos: "Caracóis, passo. Não gosto".

Saco de um caracol e digo: "Eu gosto, mas..."

"Decide-te, mulher!"

Ali os pauzinhos de fora, coitadinho, naquela agonia de quem morre numa panela de água a ferver, bom, de morto já não passava, meti-o na boca e lembrei-me do quanto gosto daquilo. Mete-me nojo, mas gosto tanto que marcharam mais umas dezenas, coitadinhos, todos de pauzinhos ao sol, triturados pelos meus impiedosos dentes, argh.

Pergunta o rapaz que nos serviu (quatro adultos e dois petits que iam comer febras): "Quantas sardinhas?". Responde o coro (todos menos eu): "Uma dúzia chega para os quatro". Respondo eu, sincera: "Dúzia e meia que, só eu, avio nove". O rapaz, um tudo-nada descrente, pergunta: "E batata?". "Isso não traga, senão não me cabem cá as sardinhas. Traga salada, para empurrar". Aviei as minhas nove, grandes e gordas, a travessa da salada (os outros nem lhe tocaram, desconfio que estavam enojados de me verem cumprir uma mera tradição) e ainda fui às farturas, que se é para cagar a dieta, ao menos que se cague em grande estilo.

E ainda tive que ouvir: "Não gostavas de caracóis, mas aviaste uma travessa"; "Para a próxima, mandamos vir uma travessa de sardinhas só para ti"; "Tu não comes sardinhas, tu comes cardumes"; "Se conseguires chegar à dúzia, podias reservar isso para a passagem de ano. Uma badalada, uma sardinha".

Eh pá, uma pessoa está no estricto cumprimento de uma tradição! Isto é praticamente um dever cívico... 

Lá a ver se alguém se preocupou com o chilique do Aníbal António. Isso já não, não é? Muito portugueses para umas coisas e depois nada para outras.

10/06/2014

Quando eu ganhar o Euromilhões # 6

Só visto Fornarina. Mais nada. Assino um exclusivo.

Só calço Fornarina.

Já sei o que é que vão dizer. Eu também acho. Mas uma excêntrica pode. E eu vou ser uma excêntrica.




Quando a maternidade te engorda, ensurdece e ensandece

Cruzei-me com a mãe da gritona à saída do elevador. Vinha do ginásio. Coitada, nunca foi magra, mas está com um rabo panorâmico. 

- Já voltei ao ginásio, estava a ficar um bocadinho gordinha.
[oh, doce ilusão, cada uma vê o percentil que quer ver]

- Então e a gritona?
[directa ao assunto, sem rodeios]

- Agora já não grita tanto...
[coitada, deixou de a ouvir...]

- Já não grita tantas vezes, mas grita mais alto. Tem mais pulmões.
[péssima vizinha. Podia calar-me, tantas vezes...]

- Pois. Eu ando sempre tão cansada que já nem ouço o que o meu marido diz.
[confirma-se a surdez, portanto]

- É normal, uma pessoa que não descansa, acaba por andar a dormir em pé todo o dia.
[isto foi um rebate de abnegação]

- Agora vou levá-la a uma consulta de bebés que gritam, no Hospital de Santa Maria.
[pirou, coitada]

- Consulta de bebés coléricos.
[eu sou um poço sem fundo de sabedoria, com laivos de hipocrisia]

- É isso mesmo...
[pasmada com o meu saber]

02/06/2014

Que bem que se está no desemprego

Uma pessoa vai ao supermercado, porque pode deixar de comprar livros e assumir-se analfabeta mental, mas lá deixar de comer sem ser por se sentir gorda é que não. Como SEMPRE, assume à entrada que não vai comprar muitas coisas, pelo que vai buscar um cesto com rodas. Como SEMPRE, não transporta consigo dinheiro nenhum, o que irá, como veremos, contribuir para a desgraça que se segue.

O cesto com rodas enche, enche, mas não transborda, o que me mantém a ilusão de que nem vai ali muita coisa, pese embora o peso (passando o pleonasmo) que já carrego, responsável por um agradável chiar das rodinhas, tendo como consequência o virar de todas as cabeças à minha passagem. Mas eu ainda sou do tempo do Limara, aquele desodorizante, e permito-me a ilusão de que é o meu bon air que provoca tamanho tumulto.

Já nem vou para as caixas de pagamento rápido, porque me apercebo, finalmente, que a coisa é capaz de ser para demorar. E porque a gravação, que me aparece constantemente, "Por favor aguarde pelo assistente" me põe extremamente nervosa e eu sou hipertensa. É medirem-me a tensão arterial nessas alturas e chamarem os rapazes do 112 logo a seguir, que eu vou de bom grado, e eles carregam-me como o diabo. Na caixa desabafo com a funcionária que me vou arrepender amargamente de não ter tirado um carrinho da calha. Ela oferece-se para ensacar as compras enquanto eu vou buscá-lo, mas esclareço-a que não tenho moeda. Oferece-se então para me trocar "a nota". Confesso-lhe toda a verdade: não tenho "a nota". Devo estar na caixa da terceira idade, tamanha é a boa vontade da pessoa. Ou com ar de quem vai sofrer. Ambas.

Pego nos 8 sacos - 4 em cada braço - e marcho a passos de gueixa para o carro. São os piores 100 metros da minha vida, com os dois ombros a luxarem-se dos encaixes e o cotovelo esquerdo a lembrar-me a existência daquele gesso, aos 14 anos, que foi o sucessaço no liceu. Maldita educação física. Maldito bock, maldita eu que não fiz aquecimento por me ter atrasado para a aula. Meto tudo no carro, minha querida mula, que me vai carregar os pesos. Pico a mula, quer dizer, ligo o piloto automático, já que não sinto os membros (acho que conduzi como o Toy, com os joelhos), e chego à porta do prédio. Ela está na varanda a estender roupa e vê-me perfeitamente.

Subo, abro a porta, ela avista-me e ri-se. Ri-se, apenas. Não larga as putas das molas para me ajudar a carregar o fardo que, a esta altura, já me arrancou todas as 17 articulações de cada braço. Ponho-lhe as putas das compras aos pés e suspiro: "Arrume", a ver se ela tira aquele sorriso da minha frente. Vou buscar a balança e peso o pesadelo (pronto, também passo este): 16 quilos e 300 gramas. Mais de um quarto do meu peso total. E a vaca riu-se.

Só quero perceber se ando a exagerar nos verdes, apesar de não serem só para mim: os cabrões dos brócolos pesam 1,140 kg, os paneleiros dos pepinos 636 gr e a puta da alface 806 gr. Dois quilos, quinhentos e oitenta e dois gramas, só na puta da relva.

Não era de eu perder peso? Em vez disso, foram dois dias impossibilitada do uso dos braços. E várias nódoas negras nas pernas, derivados dos bicos dos sacos e assim. Portanto, só coisas boas nisto de comer tanto legume.

01/06/2014

Fui à Feira

Feira do Livro, hoje com sol. Pus-me lá sem cartões e sem dinheiro, para não cair em tentações. Os livros, mesmo com "desconto" (aquilo é desconto?), estão caros para cornos. Ainda vi passar um ou dois que queria mesmo, mas no money, no funny. Mesmo assim, e por ter umas moedas, dei por mim com o novo Magnum Silver na boca, comemorativo dos 25 anos Magnum. Os meus olhos marejaram-se de lágrimas quando me apercebi que o bom e querido Magnum Mint voltou. Este Verão vai ser passado a prometer a mim mesma que vou perder aqueles cinco quilos e a contar os Magnum Mint que já aspirei. A Feira tem muita comida, quase me fez lembrar a Popular, mas sem o cheiro a sardinhas, a febras e o ruído do twister e da montanha russa. De resto, a começar nas pipocas e a acabar no algodão doce, era ter fechado os olhos e vivia de novo aquelas noites inesquecíveis. A Feira, hoje, tinha centenas de crianças que, levadas ao engano com a desculpa que era o dia delas, gramaram com um passeio interminável, ao sol, entaladas na multidão suada e de sovaco mal cheiroso. A Feira tem também muita gente que não sabe muito bem o que é que lá vai fazer, mas tem esperança de ver ao vivo gente "famosa", como ouvi dizer a uma patega, só porque havia um ajuntamento de pessoas à porta do auditório. Fui assistir à entrega do prémio de literatura do Pingo Doce, que foi uma gigante seca. No entanto, deu-se num contentor com ar condicionado e cadeirinhas para uma pessoa se sentar e eu estava que não aguentava dos meus pés (obrigaram-me a calçar uns saltos quase rasos, isto para mim é a morte). A Zita Seabra fazia parte do júri e fez um discurso de quinze minutos que parecia uma história para adormecer, embora extremamente politizada, com ênfase no 25 de Abril e nos direitos das crianças. Penso que ainda passei pelas brasas. Depois a vencedora do prémio foi discursar e dava imensos erros ortográficos, mas a falar. Parteleiras. As minhajamigas. A coisa maijassustadora. Se calhar também dá erros a escrever. A mim já nada me admira. Outro dia estive a responder a anúncios de emprego e encontrei alguns com erros ortográficos. E depois os empregadores queixam-se que lhes chegam currículos com erros. Se calhar são os mesmos que põem erros nos anúncios. A esses nem respondo. Era uma vida de infernos, trabalhar num sítio onde dessem erros à minha volta. Ando há anos à procura do meu TOC (toda a gente tem um) e acho que encontrei: é este dos erros. As pessoas dão um erro na linguagem verbal e eu já não ouço nada do que dizem a seguir. Bloqueio qualquer forma de comunicação. Apetece-me corrigi-las. É como na escrita. Livros e livros que vão para o mercado carregados de erros. Corrijo os meus, mas não corrijo todos os exemplares, e isso enerva-me. Uma vez estive para devolver o meu exemplar à editora com os erros todos a vermelho. Aquilo era uma vergonha que não se admite. Sou uma chata da porra. Mas é o meu TOC, e é um TOC cultural. Podia dar-me para pior e, em vez deste, ter aquele clássico das molas da roupa, que não serve para nada.