29/08/2018

Ai-fostes também não me tem em grande conta # 5

Ou então, sou eu que vejo poesia em tudo. 
Por coisas que só eu cá sei e a mim dizem respeito, às vezes sou bombardeada vilmente por spam, aquele parasita internético mal educado que, como tal, aparece sem avisar. 
Diz que podemos skip ad.
A mim calham-me coincidências desta natureza:


E associo com as minhas memórias mais remotas, mesmo à velho.



Assim, subreptícia e veladamente, mais um chouriço enchido com nada nem coisa nenhuma, ou Da arte de somar centenas de posts a falar de coise.

28/08/2018

As voltinhas do Marão

Se nunca fizesteis a estrada entre Gestaçô e Mafômedes [sim, temos nomenclatura que nem Mr. Google, essa fera da estratosfera do pináculo do conhecimento conhece], não sabeis o que é A adrenalina. Quais Space Mountain Mission 2, quais bungee jumping, quais comboio fantasma da Feira Popular de mil novecentos e poucos. 
São só vinte e dois quilómetros. É só contornar a serra. 
É só penhasco de um lado e abismo do outro.
(Hipótese A: riscas o carro; Hipótese B: cais do barranco, tu e a viatura.)
Parece a ilha da Madeira, naquele belo e sinuoso percurso entre o Funchal e Câmara de Lobos, só que o dobro da extensão. 

Tipo isto. 
Diz que a imagem pode estar sujeita a direitos de autor
(Eu digo que o autor se despencou)

Mas de noite. Cerrada. E com subidas, sei lá, também não fui buscar o transferidor, mas para aí de uns 35 graus. Se passamos de uma altura de 443 metros para uma de 817, fazei vós as contas, que eu ainda estou muito nervosa.
E às curvas e contracurvas, algumas de 360º, a subir (uuhuuh, tão bom para quem enjoa), mesmo a dar a ideia de que estamos a voltar para trás, o que tomara, a partir de certa altura do percurso. Não há iguaria que justifique correr semelhante risco de vida. [Pronto, enfim, se a Mealhada fosse ali, fechava os olhos ao perigo — desde que não fosse ao volante — e lá ia na mesma.]
E depois, zero iluminação. O bote em primeira velocidade e ligados os máximos, o máximo!
O ser humano ia de passageiro. À ida, tinha o precipício à direita e a parede de rocha à esquerda. Morri de pânico, é certo. Não me lembro do que jantei lá na tasca. Acho que nem comi, diante da perspectiva do regresso. Sei que bebi um tinto do Douro, e isso pode ter contribuído para que, à vinda, tenha basicamente pensado "que se lixe o carro" perante o rochedo, e "heh, isto voa", considerada a possibilidade da queda na ravina.
Não caí, mas também não me apanham lá outra vez. [A menos, obviamente, que Pedro vá ali montar mais um Leitões.] Sequer gozei da vista que dizem maravilhosa sobre o Marão, derivados ao breu, mas, agora que penso nisso, ainda bem, pelo que me é dado observar nas imagens de Mr.: depois daquilo, e ver-me toda rodeada por rocha, não, muito obrigadinha, que para Heidi já basta a outra.


27/08/2018

Na senda de "Sou só eu?" # 15

Que não consigo desocupar a minha parcela da unidade hoteleira sem antes fazer uma ronda semi-obsessive-compulsive-cleaner, passando jacto no duche, retirando cabelos do lavatório, puxando várias vezes o autoclismo, dobrando toalhas de rosto, alinhando toalhas de banho, esticando a cama, retirando migalhas da mesa, do balcão da kitchenette, fechando o saco do lixo, compondo objectos móveis - o comando da televisão ao lado dela; o do ar condicionado perto dele; os candeeiros em simetria -, retirando nódoas, malhas e marcas de dedadas (serei apenas uma criminosa perfeita, pergunto-me e -vos?), e ainda ficando p. da minha vida porque não há por ali uma vassoura, uma esfregona, um spray ambientador, um esfregão, baldes e detergentes?
É nada um TOC, eu é que não quero que alguém vá a seguir limpar e pense assim: "Porca, badalhoca, suja, deslavada." Porque seria o que eu pensaria, no lugar desse alguém? Porque "nas costas dos outros vejo as minhas"? Porque sim?

22/08/2018

Et Dieu créa le GPS

Breve História da Humanidade:
Deus criou a mulher, depois achou que ainda era possível complicar mais um nico, e criou os mapas. 
Não satisfeito com o caos sem borboletas, criou o GPS.
(Também breve teoria explicativa de como é possível sair de uma estrada nacional por duas vezes no espaço de cinco quilómetros, optando compulsivamente por caminhos por onde só cabras - monteses! - passam, apenas e tão só porque a bovina do GPS está com o período/ em dia não/ com vontade de se divertir/ é só estúpida/ riscar o que não interessa, ou então tudo.)

19/08/2018

16/08/2018

Eu tenho problemas com tudo # 34

Logo eu, que sou este poço de abnegação e dádiva celestial, hoje venho para dizer mal de uma cena consensual. Ou, melhor dizendo, venho desabafar. Também não me sinto lá muito bem na minha pele - literalmente, já vamos ver porquê - em fazer isto, porque, enquanto a coisa correu bem, nunca teci grandes elogios ao produto, e agora que começou a resvalar para o divórcio, eis-me aqui pronta para a guerra de nervos. Mesmo à gaja. Mas acontece que eu sou uma blogger de renome, uma genuína influencer (influenzer, de criar autênticas febres, quase uma pirómana!), e era dizer coisas bonitas de um artigo qualquer e tínhamos a burra nas couves, o povo em revolta, as baionetas reviradas para a pessoa humana, tudo a achar que me vendera por dois tostões a uma marca, e é que não. 
Então, a Rituals do meu coração: há para aí uma década que me besunto diariamente com os cremes da Rituals, primeiro o da embalagem verde (não me peçam nomes, que para isso estou como para os das pessoas: sei o meu, e às vezes nem esse), depois o da cor-de-laranja, qualquer coisa do Buda, o que talvez explique esta pele de pêssego, ou melhor, de nectarina (dado que mandei incinerar os pêlos lá naquela clínica muito conhecida, que recomendo viva e entusiasticamente, mas também NMPPI). 
Demo-nos bem, o Buda e eu, juntos e felizes, até há coisa de dois ou três meses, quando a fábrica que mistura a mistela resolveu, sem me perguntar nada, mudar a fórmula da banha com que me barrava eu, tão alegre e fielmente, a cada vinte e quatro horas, a uma média de trezentas e sessenta e cinco vezes por ano (ou mais uma, nos bissextos), talvez uns quê? Trinta boiões por ano, ora fazei lá as contas, que eu não quero. Aconteceu que não só alteraram o cheiro (ainda mais alaranjado), como também a textura: era a pessoa a espalhar a pasta e a parecer que se ensaboava. Isso mesmo, a ficar branca. E, à medida que insistia no espalhanço, assim mais branca - ensaboada! - ficava. (Hão-de ter acrescentado pó-de-talco à coisa, desconsiderando que, se eu quisesse espalhar pó-de-talco por mim afora, comprava um frasquinho dele e zás.) (E também hão-de ter espremido para lá mais umas quantas laranjas, que, em querendo igualmente, era só ir à mercearia e zás.) 
Fui-me então à loja mais próxima, expus o meu problema com todos os pormenores sórdidos que ele envolve, e fui aconselhada pela funcionária a experimentar o óleo pós duche, "um óleo seco, com uma textura muito agradável, que não deixa a pele secar, mas também não fica engordurada, e mantém o cheirinho todo o dia".


E foi assim que passei a olear-me pós banho, com um óleo oleoso, dificílimo de bombar para a pele - a tampa de spray fica logo escorregadia, e depois quem é que consegue dar a segunda esguichadela? Anda para me cair o frasco aos pés, um frasco... de vidro! -, complicadíssimo de espalhar (faz ilhas!), com a agravante que é amarelado, portanto, fica a ver-se toda a zona que não levou óleo, e a que levou fica... amarela!
Eu tenho ou não tenho razão para dramatizar? Hã? 
Chiu.

15/08/2018

And that awkward moment # 50

em que envias um SMS à tua ex-senhoria — a proprietária da casa que ocupaste enquanto a tua sofreu (amargamente) obras —, pedindo-lhe que procure uma fronha das tuas, por lá esquecida (e que não é uma fronha qualquer, uma vez que tem dimensões especiais de almofadão), e, já agora, porque é tua, e porque a queres de volta, e ela te responde,

É uma fronha de casal ou de solteiro?

...
...
É então que se te abrem várias hipóteses, as quais nunca antes ponderaste:
Hipótese A: Ela não sabe o que é uma fronha;
Hipótese B: És tu que não sabes que existem almofadas de casal e de solteiro (e as de casal dão para duas cabeças?);
Hipótese C: Existe toda uma panóplia de tipos/tamanhos de almofadas, de entre as quais a de unidos de facto, assim como uma sub-panóplia, que compreende a de solteiro-empedernido e a de solteiro-galdério, que tu desconheces;
Hipótese D: O que significam as fronhas iguais, naqueles "jogos" de lençóis de casal?
Hipótese E: Ela leu mal a pergunta;
Hipótese F: Tu leste mal a resposta dela;
Hipótese G: Tudo o que é esquisito vem ter contigo e tu atrais aquilo que és (daí os malucos, daí os bêbados, daí os cães, daí os chatos);
Hipótese H: O melhor é comprares uma fronha nova e esqueceres que o Mundo é assim mesmo, cheio de cenas que não são a tua cena;
Hipótese I: A tua vida é pautada por coisas e dava um (mau) filme de David Lynch.

14/08/2018

sangue do meu sangue, que não é sangue de traça


Estava a minha Mimi a entrar para uma aula de grupo no ginásio, quando avistou uma borboleta no chão,
Mas não era uma borboleta daquelas, era uma traça.
(Sim, uma borboleta, filha. Eu sei que sabes que, assim como há pessoas bonitas e pessoas feias, assim é também com os animais, e não é por isso que...)
Disse ao professor que estava ali uma borboleta e que era preciso abrir a porta que dá para o jardim, que é a porta de saída de emergência, para a pôr lá fora.
(Boa.) 
(Muito boa.)
Ele disse que não podia abrir a porta, porque estava trancada e que os alarmes se accionavam todos caso a abrisse.
[Todos os meus alarmes accionados por saber que a referida sala, numa cave, tem a porta de saída de emergência trancada. Quero lá saber das sirenes, quero é a porra da porta destrancada. Lá vou ter que me chatear com mais um assuntinho-assuntão.]
E tu?
Eu peguei na borboleta, subi as escadas e fui até à porta do ginásio. Deixei-a no jardim.
[Alguns dos meus alarmes a sossegar. Tenho feito um bom trabalho, e honni soit qui mal y pense.]
(Não sabes quantas vidas salvaste com esse gesto...)


12/08/2018

Dancei, mãe

Hoje acordei infeliz e dancei, mãe. Não dançava há dois meses. Não era capaz de me mexer ao som da música, as pernas tristes, a anca infeliz, já para não falar dos braços, um desalento de dar dó. Estava à espera do dia em que acordasse contente e tivesse vontade de dançar, mas o dia não veio e hoje fui assim mesmo. 
(Não para me alegrar, não para espantar a tristeza - como se ela permitisse uma coisa dessas -, mas para lhe dar largas e deixá-la voar comigo.)
(Ela é volátil.)
Tenho sonhado consigo, mãe. A mana sonhou todas as noites desde que nos vimos pela última vez
(que saibamos)
agora sou eu que sonho. Revezamo-nos a cuidar de si, outra e mais outra vez. 
Quando tomei duche, havia manchas de sabonete em forma de coração aos meus pés. 
(Muitas gotas de água, também. Nem todas saíam do chuveiro, pelo que me pareceu.)
Não sei interpretar estes sinais que a vida me dá 
(são sinais ou eu estou maluca?)
mas acho que era outra vez Alguém a dizer-me que estivesse descansada, que sossegasse o coração
(esta pedra)
que a mãe está bem.
E que eu pare de sonhar, também.

11/08/2018

And that awkward moment # 49

em que sais de casa, está um porteiro dos que exercem a função num dos edifícios da rua onde habitas, a regar as relvas, pergunta-te se queres que te lave o carro - impiedosamente lavado há menos de um mês, mas já um esterco muy agressivo às vistas -, ficas agradavelmente surpreendida e logo agradecida, ai que sim, muito obrigada, está porquíssimo, mas até foi lavado e beca-beca, o homem de mangueira em riste, e - primeiro fail - afastas-te do carro (oh, pá, para não me molhar, não é? Ele ofereceu uma lavagem auto, não uma auto-lavagem), mas ele pede-te que entres no carro, para poderes ligar os pára-brisas, lá obedeces, lá os ligas, o jacto lava-te Rosinha melhor do que tu o farias, tudo muito bem, sais da viatura e prometes umas cervejas ao senhor, procuras mentalmente qualquer coisa de agradável para lhe dizeres, pouco habituada que estás a ser mimada por um quase desconhecido (e em stress pós-traumático porque ainda dois dias antes havias voltado a ser mal tratada por uma velha ranzinzenta senhora mal disposta na mercearia) (há ali shakras desalinhados, ou quê?), sabes que vais falhar nos teus intentos, parece-te que o que quer que digas vai ter necessariamente duplo sentido - e um simples ‘obrigada’ nunca se te revela suficiente -, mas, ainda assim, tentas:
- Ai, quem me dera ter uma mangueira como essa.


09/08/2018

Hoje venho cá contar-vos um segredo

No dia 3 de Agosto, lá onde eu estava alojada, via da minha janela, ao fundo, ao longe, um fumo não muito espesso, mas já muito alto, que fazia da Serra de Monchique uma espécie de chaminé, ou, sei lá, um Vesúvio. Um dia depois, o céu que me cobria o horizonte até às estrelas era este:


Sabem quantos meios aéreos aviões de combate a incêndios havia no ar no dia anterior a isto?
...
...
...
Exactamente...
...
... zero.

07/08/2018

sangue do meu sangue, que não é sangue de barata

Esteve uns dias numa casa de praia com os amigos, uma dessas casas que são óptimas, longe dos pais, longíssimo da praia, perto da diversão e da liberdade total. E são baratas, mesmo até porque, invariavelmente, têm baratas. 
Então, a contar-me que passou por eles um desses bichos, que causou o apocalipse, o caos, o pânico dentro da casa infestada. Ele, chamado a intervir — uma vez que não reagiu de forma tão enfática à presença do animal —, simplesmente pôs a barata fora de casa, com um único chuto para longe, expulsa do lar por indecente, má figura, ou apenas salvação. 
- Não a matei, pu-la fora.
- Fizeste bem, poupaste-lhe a vida. Foi ser feliz para outro lado.
(Já não era capaz de tirar a vida a nada desde que fui mãe, agora que perdi a minha piorei. Não sei ensinar nada de útil nesse campo.) (Aliás, julgo que conheço todos os truques de salvamento e poupança de vida de qualquer tipo de animal.) (Sim, apago a luz e acendo a de fora para fazer sair uma mosca.) (E um mosquito também.)
Os olhos dele — enormes e meus —, nos meus, suspensos naquele breve instante, como também os meus ficam, flutuando entre um raciocínio lógico e uma emoção inesperada.
- Mas não foi para não a matar que a pus fora. 
(Claro, filho.)
- Só não me apeteceu matá-la. 
(Claro, filho.)
(E eu sei tão bem o que é a vida quando se está a dias de fazer dezoito anos.)


O avô cantigas

Estava eu muito bem sentada na sala de espera do dentista [esse, o dos olhos bonitos], quando surgiu, vindo das trevas de uma extracção [designação que os dentistas dão àquela violência que cometem sobre as nossas bocas - ou dentro delas? - quando nos arrancam uma dentuça], um homem agarrado a uma almofada de gelo, que comprimia contra a bochecha direita. Está calor, e isso justifica e despenaliza muitos atrevimentos relacionados com a indumentária - eu própria com um vestido não muito próprio -, e, quem sabe, até com a conduta de cada qual. Encostou-se ao balcão com o intuito de pagar a consulta, todo ele lamúrias como um rapazinho a quem acabassem de tirar um dente de leite, sapatos à índio, calções de ganga e pólo azul escuro, tudo encimado por uma cabeleira branca destoante da jovialidade no fato, da infantilidade no trato. Como se não surtisse efeito a tentativa de encher de penas a funcionária, absurdamente bonita, mudou a agulha do disco que lhe tocava, para o jovial discurso, sorrisos exagerados e gargalhadas a despropósito, enquanto ela emitia a factura e lhe dizia a mesma graça que diz a todos aqueles que saem da cadeira do arranca, hoje sai daqui mais leve. Ainda assim, insatisfeito com a falta de reacção proporcional à qualidade da sua abordagem, o homem virou novamente a agulha, envelheceu trinta anos, pôs-se com os cinquenta e muitos que se lhe espelhavam - apesar da almofada de gelo, apesar dos calções -, e estendeu o telemóvel à senhora, exibindo uma fotografia de uma qualquer criança, olhe aqui o meu neto, subitamente transformado num orgulhoso avozinho, babado para não ser baboso, obrigando a dona de belíssimos olhos verdes a responder a seguinte incongruência:
- Ai, mas que olhos tão engraçados.

05/08/2018

O saco de praia da mãe, aquela instituição

Hoje levo só a minha toalha dentro do saco de praia, uma garrafa de água, um livro, um protector que umas vezes é comunitário — quando acaba o deles, quando é preciso "na minha cicatriz", quando é preciso passar "só nas costas e porque não me apetece levantar daqui e ir buscar o meu" —, outras dispensável (que mania que as mães têm do factor 50, sinceramente!) e uma micro-macro bolsa com trezentas necessidades básicas: espelho, elástico para o cabelo, porta-moedas, cartões de identificação e débito, fio dentário, pastilhas elásticas, duas paçocas, um bloco, uma caneta, conchinhas de outros anos, outras praias, outros planetas.
É com quatro adultos que estamos agora estendidos na areia. Cada um traz o seu saco, ou, pelo menos, a sua toalha. Chegam à vez, às vezes, as suas horas de sol não correspondem em absoluto às nossas horas de sol. Despem a t-shirt, o vestido de praia, os pequenos calções, e, passado pouco tempo ou nenhum, apercebo-me que tenho o meu saco cheio das roupas deles, exactamente como quando, em pequeninos, era eu que os despia, guardava meticulosamente as roupinhas no meu saco, e depois os protegia com protector e mil olhos de amor.

02/08/2018

Até que as pedras se tornem mais leves que a água

Ao cabo de tormentas literárias diversas e adversas, por questões inclusivamente de analfabetismo puro e duro (em se tratando de António Lobo Antunes - vénia! -, há que colocar essa hipótese, não literal, mas literária), e após intervalos vários, que chegaram a um mês de dura duração, nalguns casos (cuja explicação se encontra no facto de que uma obra do Mestre deve ser bem mastigada, ou então sou eu que sou assim), terminei a leitura de “Até que as pedras se tornem mais leves que a água”, livro que me foi oferecido pelo Natal do ano passado, e que comecei a ler uns dias depois. 
(Coincidentemente - ou não -, aconteceu na praia, num momento em que a beira-mar estava cravejada de centenas de pedras, trazidas e levadas ao ritmo da rebentação, afianço que ainda muito menos leves que a água.)
Vinte e quatro horas volvidas sobre tal efeméride, ainda me encontro em síndrome de abstinência, por me faltar, para além do ar, aquela escrita tão esquizofrénica - no melhor, se é que ele existe para além do meu delírio, dos sentidos de esquizofrenia -, tão quem me dera, tão se eu soubesse escrever-me, era assim que queria que fosse.
(Não será de admirar por isso que eu inicie uma fase a partir de agora em que suprima todas as vírgulas do meu texto so help me God para que o saiba fazer com tal maestria.)
(Só não me caso com o homem porque existe entre nós um impedimento impediente.)
Esta foi a crónica, sem crítica, literária, possível - por LB.