Logo eu, que sou este poço de abnegação e dádiva celestial, hoje venho para dizer mal de uma cena consensual. Ou, melhor dizendo, venho desabafar. Também não me sinto lá muito bem na minha pele - literalmente, já vamos ver porquê - em fazer isto, porque, enquanto a coisa correu bem, nunca teci grandes elogios ao produto, e agora que começou a resvalar para o divórcio, eis-me aqui pronta para a guerra de nervos. Mesmo à gaja. Mas acontece que eu sou uma blogger de renome, uma genuína influencer (influenzer, de criar autênticas febres, quase uma pirómana!), e era dizer coisas bonitas de um artigo qualquer e tínhamos a burra nas couves, o povo em revolta, as baionetas reviradas para a pessoa humana, tudo a achar que me vendera por dois tostões a uma marca, e é que não.
Então, a Rituals do meu coração: há para aí uma década que me besunto diariamente com os cremes da Rituals, primeiro o da embalagem verde (não me peçam nomes, que para isso estou como para os das pessoas: sei o meu, e às vezes nem esse), depois o da cor-de-laranja, qualquer coisa do Buda, o que talvez explique esta pele de pêssego, ou melhor, de nectarina (dado que mandei incinerar os pêlos lá naquela clínica muito conhecida, que recomendo viva e entusiasticamente, mas também NMPPI).
Demo-nos bem, o Buda e eu, juntos e felizes, até há coisa de dois ou três meses, quando a fábrica que mistura a mistela resolveu, sem me perguntar nada, mudar a fórmula da banha com que me barrava eu, tão alegre e fielmente, a cada vinte e quatro horas, a uma média de trezentas e sessenta e cinco vezes por ano (ou mais uma, nos bissextos), talvez uns quê? Trinta boiões por ano, ora fazei lá as contas, que eu não quero. Aconteceu que não só alteraram o cheiro (ainda mais alaranjado), como também a textura: era a pessoa a espalhar a pasta e a parecer que se ensaboava. Isso mesmo, a ficar branca. E, à medida que insistia no espalhanço, assim mais branca - ensaboada! - ficava. (Hão-de ter acrescentado pó-de-talco à coisa, desconsiderando que, se eu quisesse espalhar pó-de-talco por mim afora, comprava um frasquinho dele e zás.) (E também hão-de ter espremido para lá mais umas quantas laranjas, que, em querendo igualmente, era só ir à mercearia e zás.)
Fui-me então à loja mais próxima, expus o meu problema com todos os pormenores sórdidos que ele envolve, e fui aconselhada pela funcionária a experimentar o óleo pós duche, "um óleo seco, com uma textura muito agradável, que não deixa a pele secar, mas também não fica engordurada, e mantém o cheirinho todo o dia".
E foi assim que passei a olear-me pós banho, com um óleo oleoso, dificílimo de bombar para a pele - a tampa de spray fica logo escorregadia, e depois quem é que consegue dar a segunda esguichadela? Anda para me cair o frasco aos pés, um frasco... de vidro! -, complicadíssimo de espalhar (faz ilhas!), com a agravante que é amarelado, portanto, fica a ver-se toda a zona que não levou óleo, e a que levou fica... amarela!
Eu tenho ou não tenho razão para dramatizar? Hã?
Chiu.