27/02/2014

"Her" - Uma história de chacha

Embora hibernada em trabalhos forçados, algo me impele para fazer uma pausa. Pode até já doer-me a cervical, aquela zona ao nível do pescoço (não sei se já aqui disse que, para além das outras não-doenças muito comuns, ainda não sofro de mais esta: as dores nas costas. Não tenho. Nunca tive. Um dia fico marreca na mesma, mas sem dar por isso), portanto, dói-me um bocado o pescoço, nada que não se aguente. Dói-me o rabo, o que é chato, sobretudo se me quiser sentar na sanita, ou assim. Doem-me as pernas - as duas! - e as pontas dos dedos, de tanto dar à tecla. E ainda aqui estou a dar cartas da minha vida.

Mas é que vi o "Her", no meio deste turbilhão. A bem dizer, vi no wareztuga, não no cinema, porque, de momento, pouco mais faço do que arrastar o dolorido de uma divisão para outra, e foi no conforto da minha sala que aconteceu o visionamento. Eu sou uma pessoa que gosta de amores estrambólicos e acredito em histórias impossíveis. Sou aquela que não vê resquícios de pedofilia nos "Pássaros feridos", nem de pecado n' "Os Maias" ou, sequer, n' "A tragédia da rua das Flores". Acredito na pureza do amor de todas as personagens tortas do Somerset Maugham, infieis, adúlteras, passadas da validade ou, simplesmente, destrambelhadas, mas amantíssimas. Eu sou aquela que verte uma lágrima de cada vez que vê o trailer do "Diário da nossa paixão", apesar da testa e do bâton da Rachel McAdams, ou, se calhar, por causa do Ryan Gosling (querido, lindo, olha, amor, não acredito nada que vás envelhecer como o James Garner, tu és um Paul Newman mas em ainda melhor, coração, bebé, cá beijinho). Portanto, assentamos já aqui que, fora uma treta que o Woody Allen fez há uns anos, de um homem que se apaixonou pelo seu porta-chaves, eu acredito no amor em todas as suas formas e manifestações, não olhando ele, o nobre, a credo, cor, idade ou sexo e também resistindo a todos os entraves, tal e qualmente um tsunami daqueles. 

O problema do Her não é o facto de o senhor se ter apaixonado por um sistema operativo. Para já, eu morri aos vinte minutos de filme, mas isso pode ser porque ando mesmo nas lonas e já tudo me parece uma melodia de embalar. Despertei para aí um minuto depois e fiquei a ter ataques de pernas inquietas, que é aquele síndrome do qual padeço, esse sim, em bom. Ora ide lá googlar, para verdes (do verbo ver) como é tão agradável. Foi um suplício de Tântalo aguentar a seca até ao fim, mas aguentei, sempre a acreditar que aquilo ia melhorar e a gaja ia saltar de dentro do computador para a vida real e eles se iam beijar na boca até desfazerem os lábios um do outro. Como já uma vez vi um filme, com a Sandra Bullock, que era "A casa do lago", em que as personagens viviam na realidade com dois anos de diferença e, ainda assim, se encontravam no fim, achei que estes dois também iam ultrapassar a barreira (do som?) e coiso. Como não, ainda achei aquilo mais enfadonho. E considero imperdoável terem desfigurado daquela maneira o Joaquin, para que a personagem ficasse ehhh mais credível? Mais totó? Olha, lindo, eu, se fosse à voz do sistema, com esse bigode e esses óculos, nem que fosse obesa mórbida, ninguém me arrancava do PC, isso te garanto. Cá beijinho também.

E depois queixo-me que me dói a peida. 

24/02/2014

Fazem as omeletes com quê?


Ah... não quero, obrigada. Ainda me saem bolhas.


O amor é...

Não sei se algum dia comentei aqui a minha total e absoluta (que não são conceitos coincidentes), ah, e definitiva, incurável, irreversível e, até posso mesmo afirmar, irrepreensível incapacidade para decorar nomes. Isto deve ser um síndrome qualquer, como o Tourette, coisa para não se conseguir controlar nem curar. A história, desta vez, começa no dia dos namorados, aquele que fazia coincidir dois eventos aos quais eu queria assistir/participar: o lançamento do livro ilustrado pela Sara-a-Dias e o flash mob da luta contra a violência doméstica. E ambos eram lá para a Baixa. Mas chovia desalmadamente, eram ambos às 18:30, obrigavam-me a escolher entre um e outro e o meu nome não é Sofia, nem eu tenho tomates para escolhas dessas. Vai daí, e porque a idade já me pesa e a carteira não, fiquei em casa a meditar não sei em quê. Mas ainda não estava contente, porque ainda não tinha feito uma boa má figura (esbardajando-me no flash mob, ou dando dois beijos à pessoa errada no lançamento), e, por isso, lá fui à FNAC no dia seguinte, travar um dos meus épicos diálogos com o pessoal do balcão das informações (regra geral, erro o balcão e vou perguntar por livros na secção de informática. Desta vez acertei em cheio):

- Boa tarde, eu queria um livro da Sara-a-Dias, que tem um nome...

- ...

- Acho que é "O amor é um pontapé no..."

- ...?

- "... cu"

[Pessoa com a mente congelada a procurar no computador]

- A Sara-a-Dias ilustra, o nome da autora é que já não sei...

- Sara?

- Sara-a-Dias, como mulher-a-dias, mas Sara.

- "Puta que pariu o amor"?

- Ah, não é "Filho da puta do amor"?

- Não.

Pronto. Não me apetece escrever mais nada hoje. Só a lembrança já me enche de vómitos. E de vontade de fazer cocó.



22/02/2014

To do list

Isto sou eu a organizar a cabeça, dois dias depois de ter recebido um trabalho que é suposto estar pronto no dia 1. Vai levar-me 9 horas de trabalho diário, durante dez dias. Só não deixei de me lavar e de comer, e de cagar, oh yeah, de resto não tenho feito mais nada, nem é previsível que faça, nos próximos oito dias. 

Tenho uma lista de coisas para o dia de hoje, a procrastinar:

* Arranjar as unhas - esquece. Tiro o verniz de uma das vezes que vá fazer chichi, enquanto faço chichi e ficam sem tinta nem arranjo. 

* Ir ao talho comprar a carne para um mês - esquece. Como peixe até ao dia 1.

* Fazer uma máquina de roupa e estendê-la - esquece. Vou amontoar. Pode ser que me entre a Segurança Social em casa com duas ou três voluntárias e me dêem conta desse assunto.

* Ir ao supermercado - esquece. Nem me vou lembrar do que falta, a não ser quando faltar mesmo, no acto de cozinhar e essa é tarefa que nem vou saber do que se trata até ao dia 1.

* Ir ver dois jogos de pessoas queridas minhas - esquece. Já faltei a um, amanhã logo se vê.

* Ir ver o filme "Her", porque eu gosto de amores esquisitos - esquece. Já está no warez, vou sacá-lo, tentar vê-lo e adormecer aos dez minutos.

* Fazer uma sopa - esquece. Por tudo o que isso envolve.

* Telefonar à minha Preta e dar dez dedos de conversa - esquece, a não ser que o faça enquanto cago. Ela não nota ou, se notar, não se importa. Ela também caga.

* Escrever um post no blog - esquece!

21/02/2014

Dois motivos para sorrir

São estas minhas duas.


Os créditos das imagens são de outro ser vivo que também só me dá motivos para sorrir.

E, para os taradinhos do pormenor, como eu, aquilo no parapeito é fungo, sim. Nem com a faca lá vai.

19/02/2014

Migas gatas*

Quase me sinto na obrigação de ensinar ao público em geral a receita das migas alentejanas, tanta é a profusão de receitas alteradas e, por isso, adulteradas, que por aí proliferam na netinha. Começa por que toda a gente chama à boa da miga, açorda. Não. Repitam comigo: não. Açorda é uma sopa muito líquida, com água, água, água, á-g-u-a, ÁGUA! e muitos coentros, onde flutua um ovo escalfado. Leva pão, daí a confusão (?). À minha frente, se faz favor, nunca mais chamem açorda às migas. Senão eu corto os pulsos. E não são os meus, muáháhá.

(imagem furtada, naturalmente)

As migas gatas são as migas de nada, são as que não são de bacalhau, nem de espargos, nem de tomate. São de coentros, se quiserem. Se não quiserem, são na mesma. 

Fazem-se com pão alentejano do dia anterior. Não se fazem com pão saloio, nem com pão rústico, nem com carcaças, nem com nada dessas porras que se vendem nas Padarias Portuguesas do meu horror. Pão alentejano. Pão velho. 

Rasga-se o pão em bocados pequenos e põe-se no tacho com água a cobrir o pão, só ensopado (não precisa de ficar a boiar), com azeite, três ou quatro dentes de alho esmagados (para o sumo se deslargar para o pão), sal e um molho de coentros. Vai ao lume para obrigar os ingredientes a darem sabor ao pão, mexe-se enquanto se cozinha e mais nada. Antes de servir, tiram-se os alhos, a ver se não sai a fava do bolo rei a ninguém. Hah, que linda comparação revivalista a minha.

É só isto. Se quiserem fazer migas de bacalhau, guardem a água que cozeu o bacalhau para ensopar o pão das migas. É nojenta, mas é assim que se faz, e eu não tenho culpa disso.

* Receita ensinada por uma alentejana verdadeira, com as costelas todas do Alentejo, a melhor de todas as cozinheiras que passou pela minha vida e que, com grande desgosto meu, já não está cá para eu lhe poder beijar aquelas mãos abençoadas de fada.

[Não ponho imagem das migas, porque as da net são péssimas e eu hoje não fiz migas. Quando fizer, amostro.]

18/02/2014

Da felicidade de não ter facebook

Não tenho, nem nunca tive. E quase posso assegurar que nunca terei, embora a idade e a experiência me digam "Nunca digas 'Desta água não beberei'" mais vezes do que nunca e sempre. Eu lido menos mal com a exposição pública, mas aquela que eu consinto e (julgo que) consigo controlar. Lido pessimamente com espiolhanços na minha vida. Se já me tinge os cabelos de branco, acelerando as vezes que tenho que os pintar por ano, ter sempre a caixa de email e de sms cheia de Sephoras e Perfumes e Companhia e Loja das Meias (onde nunca me lembro de ter comprado nada!), com promoções absurdas (na compra de um coffret de € 50,00, fazem-me 10 % de desconto no total da minha compra. Ó pá, vão cagar à mata), que direi de ter o vizinho de cima, com o qual pouco mais troco do que bom dia e boa tarde, a saber a que horas é que eu cago? 

[Tem piada, esta cena escatológica que me persegue. Um dia vou levá-la de bandeja (não literalmente) a um psi, e ele que desvende a chave do meu obsessive compulsive drama]. 

Mas medo-medo, faz-me esta coisa de o povo se conectar, amigar, interligar ou que raio, com alguém que não conhece, desatar a interagir, pular para a vida real, depois escarrapachar na página, angariar aplausos e amens, promover um julgamento sumário em praça pública com sentença directa, tudo por... cinco-dez-quinze minutos de fama? Ah, tá. Not.


E porque a lei da compensação existe mesmo

e eu nunca posso estar plenamente felizinha, eis que me sai à sorte uma máquina de roupa escura com um guardanapo de papel lá dentro. Alguém que não eu assoou-se e meteu o lencinho num bolso de calças que foram... para lavar. O sucesso da coisa é ao nível de o guardanapo se desfazer e colar milhões de bocados de papel em toda a roupa que é lavada com a bela peça. Culpados à parte - que isso é fácil, basta verificar qual a peça que tem mais papa de papel e de quem é -, tudo isto me fez lembrar um episódio que vivi há muitos anos (posso mesmo afirmar décadas), que esta coisa de já não ir para nova faz com que a memória seja cada vez mais remota e faça analogias e flashbacks com uma frequência que é quase uma constância: estava eu em férias de Verão - que são duas realidades que, não tarda nada, passo a desconhecer, tanto porque não acontecem na minha vida como porque me esqueço dos dois conceitos - e resolvi lavar roupa na máquina, uma vez que sou e sempre fui uma pessoa muito asseada. É importante referir que gozava férias num apartamento que ficava num segundo andar sem elevador e que a máquina estava colocada numa arrecadação ao nível do terceiro andar, que teria, na melhor das hipóteses, um metro quadrado. Isso mesmo, um por um. Cabia lá a máquina e mais nada, a menos que se aproveitasse o espaço vertical e se pusessem umas prateleiras para guardar as molas. Ou o tabaco, o que é que isso interessa? O espaço era tão exíguo que a porta da arrecadação abria para fora, o que acabou por ser a minha salvação, já vamos ver porquê. Eu sou uma sobrevivente, no fundo. Isto porque as pessoas que procederam à instalação do bicho, que seriam dois pedregulhos com olhos, colocaram a máquina, ligaram-na à corrente, mas não a destravaram nem tiraram lá de dentro o manual de instruções. E eu estreei a máquina, sem saber de nada disto. Ponho aquela coisa a trabalhar e vou, acho eu, arrochar uma sesta para o appartement, toute reposée. E, de repente, a máquina tripou dos cornos, no andar de cima. Travada, mal começou a centrifugação, parecia uma locomotiva aos saltos. É que isto é literal: as máquinas andam para a frente quando centrifugam travadas. Eu saio a correr escadas acima, com o coração a disparar para a boca e foi o momento em que eu soube o que é que uma pessoa pensa nos segundos anteriores à morte: "Olha, vou morrer". E também: "Que pena, tão nova". E ainda: "Ainda tinha umas merdas para fazer, mas paciência. Olha, merda!". Quando deitei mãos à porta da arrecadação, toda eu era adrenalina. Pensei, e muito bem, tão lúcida: "Ai que sorte esta porra abrir para cá, se abrisse para lá, a máquina encostava-se à porta e explodia sem que eu conseguisse abrir a porta!". Pânico diante da ideia da máquina explodir, abri a porta, stop na cabrona, tambor quieto, estalo de segurança e a boa surpresa de ter a roupa toda cheia de papelinho. Que se agarra de maneira tal que é preciso escovar muito bem, peça a peça, meia a meia, cueca a cueca. Eu cá adorei. Naquela altura e hoje.

Agora sei

o que sentem as putas quando estão felizes.

Pagaram-me um trabalho, ao fim de quatro meses de insistências. Só faltou apontar-lhes uma pistola à cabeça, mas valeu, oh caras, nunca mais!

As botas da Pull and Bear, a saia da Pimkie e o vestido da Natura não me saem da cabeça.


 Fica mal à gaja, mas a mim vai-me ficar bem. Isto lá são pernas que se apresentem? Haja decoro.


17/02/2014

15/02/2014

Rescaldo do dia 14 de Fevereiro

14.02.2014

15.02.2014

1. A ordem dos factores é arbitrária. O facto de ainda estar ali um cor-de-rosinha (que é delicioso, sabe a morango, pasme-se. É que ninguém diz) é por mero acaso. Vai marchar na mesma.

2. O chocolate não engorda. E, se engorda, ainda não é hoje que estou a sentir esse efeito. 

3. O chocolate faz bem aos ossos e eu preciso para a osteoporose.

4. O chocolate tem magnésio e eu preciso para as cãimbras. 

5. O chocolate tem endorfinas e eu preciso de dormir e relaxar e nunca sofrer coisas nervosas.

6. O chocolate não faz borbulhas. Ou, se faz, deve ser em quantidades maiores do que a minha capacidade de deglutição diária.

7. O chocolate não dá caganeira. Ou, se dá, idem para o ponto anterior.

8. Devia haver mais dias dos namorados no calendário. Isto assim é uma dieta de fome.

9. No dia 8 de Março é dia da mulher e eu sou mulher.

10. Não consigo imaginar a imagem da mesma caixa com a data 16.02.2014.

[O stepper e eu tivemos um encontro romântico hoje de manhã e foi até suar. E já combinámos para amanhã, pela calada da manhã.]

12/02/2014

Buracos

O universo continua a querer enviar-me mensagens, das quais desconheço o sentido. Todo o Campo Grande e avenidas novas estão com incríveis buracos na estrada, derivados à chuva que se tem vindo a fazer sentir, mas também, e principalmente, a vários troços de alcatroamento mal feitos. A mim custa-me a crer que a chuva, por muito forte, fortemente que bata, fure o alcatrão, mas isso não quer dizer que não aconteça sempre. É como a internet borregar cada vez que chove. Isto é quase científico, pelo menos para mim, embora tenha alguma dificuldade em angariar seguidores para a minha filosofia. Para além dos buracos da estrada, tenho desde hoje buracos na minha casa. Tudo começou com um cano furado, uma parede que vertia águas como o menino de Bruxelas. Cuidado com o que sonhas. Eu sonhei com um chão novo, eventualmente vou ter um tecto novo e alguma parede nova. O soalho merdoso vai-se manter, de pedra e cal, ou de madeira ordinária. Veio cá um canalizador outro dia, abriu dois buracos no tecto, fechou o cano furado e foi-se embora, dizendo que tínhamos que mudar os canos todos porque aqueles não estavam em condições. Lá está, confirma-se, tudo podre menos o chão. Hoje vieram mais dois meliantes, abriram mais seis buracos no tecto, descobriram mais "fugas", foram partindo, partindo, descobrindo verdadeiras fontes de água fresca em meu lar, até que mo deixaram neste lindo estado, que só as imagens conseguem ilustrar convenientemente. Qualquer dia vem o estucador, põe-me um tecto novo, depois vem o pintor, pinta tudo, e a porra do chão aqui continua, como os buracos do Campo Grande. Com a graça do universo. 


Os dois primeiros buracos foram os redondinhos, fofinhos, com os quais convivo há cerca de quatro, seis semanas. Diariamente.







Portanto, 2 + 6 = 8. Tenho oito buracos no tecto de casa. Só me apetece pegar no carro e circular por ali, em plano invertido.

Felizmente, ando a enjoar o sushi. E chinês, vai pelo mesmo caminho não tarda.

Comi tanto sushi no último ano que me estou a fartar de tanta alga, tanto arroz, tanto salmão cru e tanta coisa crua em geral. Apercebi-me desse facto por insistir em ir comer ao japonês que, na verdade, é um chinês que adaptou a cena aos novos ventos e acercar-me do balcão de sushi com uma vontade decrescente e, em vez de me servir como antes, até transbordar, dar meia-volta e ir ao balcão de chinês e servir-me até o prato estar, digamos, compostinho. Adoro a galinha doce, a galinha com amêndoas, todas as galinhas do mundo. Vivam as galinhas, muitos anos e bons, e que depois do próximo dilúvio o criador não se esqueça de as fazer com quatro patas e sem peito, que só duas é pouco e o peito dispensa-se de seco e sensaborão que é. Os chineses em geral estão muito ocupados a colonizar este cantinho da Europa, mas muito pouco preocupados em fazer-se entender. Eu conheço uma única chinesa que fala tão bem português como eu (eu falo bem, desde que não me enervem), o que me leva a concluir que o "jeito" para aprender línguas é inato, sim senhora, mas também parte da vontade de comunicar, fazer-se entender, partilhar, ser aceite. Deparei com uma daquelas pessoas para quem estar na China, em Portugal ou no Samouco será basicamente a mesma coisa, desde que transporte com ela a família nuclear, que serão as únicas pessoas com quem troca algumas palavras ao longo do dia e da vida. Só que com a particularidade de estar a servir num restaurante. Digamos que entrei e ela andava a brincar com o bebé dela, que deve ter 14 ou 15 meses, criança linda, com ar de porcelana, a quem fiz uma festa e disse, como sempre, o que me ia na alma: "Que vontade de o roubar". O miúdo começou a gritar em chinês, mas num choro universal, que dizia "Põe-me a dormir a sesta agora!", só que a mãe não percebeu. Também não percebeu quando eu lhe pedi a conta. O restaurante vazio, uma sala de 70 ou 80 metros quadrados, eu a meio, ela lá ao fundo, tive que a chamar em português-chateado-pré-vernáculo "Psssshhhht! A minha conta?", e ela nada. Vou-me a ela, pergunto se ali não é um sítio onde levem as contas à mesa do cliente e ela faz aquele risinho tão típico dos orientais hi-hi-hi-hi-eu-pelcebo-muito-mal-o-poltuguês [espera. Pára tudo. Mas esta frase é a primeira que todos aprendem, antes de qualquer outra?]. Eu, dos nervos, faço o mesmo risinho, hi-hi-hi-hi-talvez-consiga-perceber-que-eu-não-ponho-cá-mais-os-pés.

11/02/2014

Eu leio blogs

Há uns que leio todos os dias, outros que leio todas as semanas, outros que leio quando me lembro, outros que deixei de ler, ou porque acabaram ou porque eu acabei com eles. Acontece-me, por isso, andar a passear pelos blogs, numa visita tipo ronda de médico à enfermaria, diária, mas rápida e não tão atenta quanto isso, mas constato que há uns quantos que são profusamente comentados, outros bem mais legíveis que são muito menos comentados, mas, dos primeiros, há uns tantos que são o alvo da destilaria de fel que os comentadores derramam, sem se perceber muito bem por quê. Eu escrevi bem: por-quê. Por O quê. Regra geral, em 99,9 % das vezes, são pessoas que comentam anonimamente, ou com um nick que não permite a identificação do autor do comentário, alguns até acho que se dão ao trabalho de criar um perfil só para esses comentários, de maneira a não aparecerem na caixa como "anónimo". Essas pessoas constituem, para mim, um enorme e insondável mistério. Eu também tenho fases, épocas, horas do dia, em que não tenho nada para fazer, mas em nenhuma delas me deu para criar um personagem e ir para a net borrar a casa dos outros. Sou demasiado preguiçosa e, se calhar, excessivamente vaidosa, para não querer ver uma cagadela minha, ainda que debaixo de um "anónimo" ou "passarinha" ou "dias de chuva", escrita num monitor e, às vezes, respondida pelo autor do blog, quantas vezes com recurso a gigantescas doses de paciência e contenção nos termos e refreio na vontade de mandar um balde de esterco na volta do correio. Para estes últimos vai a minha mais sincera admiração, ainda que as atitudes que tomam sejam fruto de muitos anos de experiência e, se calhar, sucessivas edições de texto na resposta. Os anónimos/heterónimos, para mim, são, grande parte das vezes, pessoas que comentam com alguma regularidade sob a sua verdadeira identidade, com alguma simpatia e interesse, mas que, vá-se lá perceber a doença mental de cada um, de vez em quando vestem o alter ego e aqui vai disto. Também conheço um ou outro blog giros e cheios de interesse, com boas doses de sentido de humor e pontos de vista que vale a pena ler, e que são poucochíssimo comentados, assim como existem uns tantos outros que são o paradigma de como a blogosfera é totalmente aleatória, por terem uma imensidão de seguidores - acima dos 2000 - e uma profusão de comentários que torna impossível perceber o que é que 78 pessoas têm a dizer quando há uma outra que vai para o blog dizer coisas do género: "Olhem o que eu comi no domingo" [má foto de uma comida agh], ou "Hoje estou nervosa, o meu amor foi viajar" [desenvolvimento do tema]. Posso ser eu que sou uma intelectualóide nojenta, mas há posts cujo interesse para a Humanidade em geral e o sector blogs em particular é, numa escala de zero a cem... de zero, mas que são alvo de 60 comentários, igualmente desinteressantes (tipo "Calma, jinhos", "Hehehe" e "Passa depressa, força"). Pergunto-me: há para aí bloggers a criarem perfis de comentadores para se auto-comentarem? Mas setenta? Mil? Dois mil? Não fosse eu tão boazinha e tão normal fazia a mesma coisa aqui no buraco. Sobretudo para aqueles meus posts sem pés nem cabeça que eu própria fico a olhar para eles de boca aberta, já com o cursor no botão "publicar". Assim como este, por exemplo. 

Um destes dias, comento-me em anónimo, "Tens é inveja", "Deves ser gorda e feia", "Sei onde moras", "Quem és tu para julgares?". E depois crio um perfil, chamado "Abandonado à nascença", e comento-me "Gosto muito do teu blog, passei hoje aqui pela primeira vez. Vai ler o meu". Ao menos, para ter a oportunidade de responder "Vai cagar à mata". 

Eles dizem que vão à catedral de colete das obras

E nós pedimos que não se esqueçam do capacete, para amparar o melão com que vão de lá sair.




10/02/2014

Namorados e lingerie

Por acaso, tenho uma opinião muito pessoal em relação ao assunto. E acho chato que se ande a impingir quecanço a miúdos que começaram o namoro há pouco só porque é dia dos namorados. Parece que, agora, para se ascender ao grande estatuto de namorado/a, tem que se estar artilhado, para o dia 14 deste mês, com alta sabedoria ao nível do motel, do restaurante com comida afrodisíaca e da lingerie indecifrável, aquela que a pessoa não sabe muito bem o que é que assenta aonde. Também acho chato que se confunda tudo e se chame namorados a casais que vivem juntos e que eles digam "o/a meu/minha namorado/a" quando se referem à pessoa com quem vivem e que, muitas vezes, até é o pai/mãe dos filhos. Decidam lá o que é que querem, se é "direitos análogos aos dos cônjuges", por viverem "em situação análoga à dos cônjuges", deixem-se de merdas demagógicas e assumam que não são namorados, e sim marido e mulher análogos ou coisa que a valha. Portanto, na minha estreita visão, namorados que possam, livre e impunemente, comemorar o dia dos namorados, só os namoradinhos de mão dada e suspiros à janela, um-uma, um-um ou uma-uma, que isso tanto faz, os que até já quecam mas não vivem na mesma casa - logo, não partilham os mesmos lençóis sujos, o hálito matinal, as contas do supermercado e a sogra -, e aqueles senhores com muita idade que se conhecem no lar, dançam a valsa juntos, conversam mas não se ouvem mas, lá está, não dormem na mesma cama. O resto não são namorados, mando eu.

E, já que estamos a falar no assunto, alguém me consegue explicar que a mesma fábrica que produziu isto



que aqui não se vê bem mas, ao vivo, é simplesmente lindo e maravilhoso (lantejoulas e fitinhas juntos e consegue não ser ordinário. Só no preço, o cabrão), também arrotou isto?


My eyes, my eyes, é de mim ou trata-se do maior corta-tesão que a Intimissimi algum dia fez na vida? Que nem a uma miúda gira fica bem! Expliquem-me esta peça, por favor! E nunca, por nunca, a comprem, nem para o dia dos namorados, nem para dia nenhum das vossas vidas! É que ninguém merece, antes o fato do amor...


Um conselho que eu dei e continua válido

Nunca conjugues o verbo poder quando estás com cieiro. Em quase todos os tempos.

09/02/2014

Os meus filmes

Ontem vi o "Rush". Gostei muito. Aqui ficam imagens marcantes do filme:






Não, a sério. Descobri este talentaço que é o Chris Hemsworth. Faz de James Hunt. O filme é muito bom. Não podia ser muito romanceado, porque é demasiado actual para isso. O Niki Lauda ainda é vivo, ao contrário do James Hunt. Mas temos o Chris Hemsworth e a humanidade está salva. A mensagem do filme é... dois homens têm todos os motivos para se detestarem e detestam-se. A adversidade quase os junta. Mas não os junta, porque eles se detestam e são antagónicos. Quero lá saber, há o Chris baby.

Hoje vi "O Mordomo". É dos tais a que cortava meia-hora na boa. Ou sou eu que sou muito excitada e custa-me estar quieta duas horas para levar com a pepineira que os americanos nos tentam enfiar ano sim - ano sim. O filme é bom, tem um excelente intérprete (Forest Whitaker), que apaga o resto do elenco, Oprah incluída. Mas é mais do mesmo, "As serviçais" e o "12 anos escravo" já arrumaram este assunto. Este filme escarafuncha em mais duas ou três - para além do racismo - feridas dos americanos, a saber: Vietname, Ku Klux Klan, Kennedy e, só mesmo en passant, homossexualidade. Chato e comprido como a espada do Afonso Henriques. Só faltou embutirem o 11 de Setembro e a SIDA e tínhamos o pleno da chatice lamechenta dos complexos e dramas americanos. Felizmente há o Chris Hemsworth.

Stephanie, comme un ouragan qui passait sur moi, l'amour a tout emporté ♪

Stephanie, p'la tua saúde, filha! Começo a considerar se esta ventosa não é só o prenúncio de outro abanico como o de 1755 e se isto não vai mazé tudo pelos ares. Uhhhh!

Eu sou uma pessoa trágica. E as pessoas trágicas pensam sempre tudo em grande e em bom. Neste momento, ocorre-me a tontinha do Mónaco, nem de propósito: Comme un ouragan qui passait sur moi, l'amour a tout emporté... ta-ta-ra-ra-ra-ra...


07/02/2014

Pensamento escatológico do dia # 4

Jantar simples - arroz de salsichas. O meu arroz de salsichas tão, mas tão bom. Tinha comprado rúcula há dois dias. A rúcula aguenta pouco tempo no frigorífico, parece uma florzinha. Tive medo que se estragasse. Meti-a numa taça e temperei-a. Fiz salada de alface e pepino. Tinha comprado caldo verde, mas não fiz sopa com ele. Fiz o que faço sempre: cozo-o, escorro-o, salteio-o em azeite e alho. Pus tudo na mesa. 

Rúcula, alface, pepino, caldo verde salteado.

Sentei-me à mesa, pronta para pastar. E, em vez de dar graças, só me faltou juntar as mãos, para elaborar este feliz pensamento: "Não percebo como é que não cago verde".

Comprar mal comprado

É o que eu faço amiúde. Ou também se pode chamar a isto "Nunca fujas ao teu destino". A karmen apanha-te sempre na curva. 

Eu, que junto todos os talões de multibanco e recibos e facturas, quando comprei "A dieta dos 31 dias" e o livro se veio a revelar inútil para mim, o que é que aconteceu, o que é que foi? Ah, foi o único talão de compra feita por mim, desde, pelo menos, 1910, que eu deitei fora! Que assomo de loucura tão a propósito! Isto sim, foi saber seleccionar lixinho pessoal com pontaria!

Vou à Primark e quero um camiseiro branco. Só há números gigantes - 20, 18, 16. Procuro, procuro, até que encontro o 10. Está sujo de base. Raio das gajas que se metem no provador a cagar a roupa das lojas. Acho o 10 pequeno, mas não há o 12. Procuro melhor e encontro outro 10. Também está sujo de base. Às tantas, foi a mesma gaja que sujou os dois. Pago o camiseiro e trago a anotação no talão que, se a nódoa não sair com a lavagem, posso ir trocar. Claro que a nódoa sai com a lavagem, a chatice não é essa. Quando arranco a etiqueta de papel, faço um buraco no camiseiro ao nível do pescoço que é um miminho. Tenho mesmo que ficar com ele, sirva-me ou não me sirva. Serve à justa, salta-me metade do corpo pelo decote. Ninguém me manda ser tão voluptuosa, especialmente se vestir roupa que me está, digamos, pequena.

Preciso de um disfarçador de olheiras. Quer dizer, acho que preciso. Prospecções de mercado feitas, bato na marca de quase tudo: Lancôme. Sou pobre, mas de gosto fino. Menos um bife que como, mais um degrau na anemia, mas as olheiras é que não podem cá ficar. Estou na dúvida entre os quatro tons que existem na marca, até que me decido pelo beige sable. Chego a casa e vou a correr pô-lo, sinto-me mais nova um ano e meio e com a aparência de mais dormida de cerca de vinte minutos. Valeu a pena. Guardo a bisnaga na caixa da cosmética e vejo, no fundo da caixa, uma bisnaga igual. Beige sable. Há-de estar fora da validade, nem me lembrava de ter aquilo. Há-de estar no fim da embalagem. Só me apetece vomitar. 

06/02/2014

Luzes de médios

Não percebo por que é que os condutores entram em parques de estacionamento perfeita e profundamente iluminados, como é o caso do Colombo e do Continente de Telheiras, com os faróis de médios ligados. Os faróis de médios servem para ver e ser visto. Num parque com iluminação equivalente à de um dia de Verão, ainda que seja de lâmpadas, ou com luz natural, por ter uma parede inteira ao ar livre, por que raios é que sentem tanta necessidade de ligar as luzes? Não vêem? Não são vistos? Então não me irritem.

Comprar sutiãs é uma arte, uma prova de nervos, resistência, paciência...

... sobretudo quando se vai com gajas. Pior: quando só se vai para fazer companhia. O tema da conversa é sempre aquele que mais agrada aos homens (porém, numa perspectiva técnica): mamas. Tamanhos de mamas. Formatos de mamas. Sensibilidades. De mamas. 

Gaja 1 - Qual é que achas que é o meu número?

Linda Porca - Não sei bem, talvez um 34-B. 

Gaja 1 - Qual é o teu?

LP - Já não me lembro, mas acho que, aqui, é o 38-C. Ou 36-C, não sei. Não pretendo voltar a comprar aqui sutiãs. 

Gaja 1 - Mas compraste C porquê?

LP - Porque o B não mas tapava.

Gaja 1 - E o C, tapa?

LP - Não, mas, em compensação, tapa-me os sovacos.

Gaja 1 - Tu és estranha. Olha, qual é que achas que é o meu número?

Gaja 2 - Talvez o 34-B.

Gaja 1 - Por que é que não há-de ser o 34-A?

LP - Os da letra A têm a copa pouco côncava.

Gaja 1 - E achas que as minhas mamas não cabem no A?

LP - Não sei, nunca te vi as mamas, só vejo o que a blusa mostra.

Gaja 1 - E tu, achas que as minhas mamas cabem no 34-A? As tuas, cabem?

Gaja 2 - Não sei se as minhas mamas cabem no 34-A, quanto mais as tuas.

LP - Vocês são irmãs. Tu não conheces o tamanho das mamas da tua irmã?

Gaja 2 - Não, quando ela se está a vestir, não me ponho a olhar.

LP - Por favor, leva o 34-B. 

Gaja 1 - Mas eu acho que tenho umas costas demasiado largas para um elástico tão pequeno.

LP - Leva um esticador. 

Gaja 1 - Boa ideia. Olha, este aqui, achas giro? Há ali mais dois ou três que eu acho giros, venham cá ver para me dizerem qual é que acham mais giro.

...


05/02/2014

Prazo de pagamento: para breve

- Bom dia, ligue-me aos pagamentos, por favor.

- Um momento.

- Bom dia. Diga.

- Bom dia. Fala [Linda Porca]. Fiz um trabalho para vocês em Outubro, cujo documento de não dívida enviei no passado dia 21.

- E?

- E ainda não me pagaram. Quero saber quando é que pagam.

- Não temos informação acerca disso.

- Então pergunte a quem tem.

(lá foi fingir que ia perguntar ao Dr. Não Sei Quê)

- Temos aqui informação nova.

- Diga lá.

- O seu pagamento está para breve.

- Breve?

- Breve.

Risos meus, de nervos. Risos dela, da patetice que disse. 

Tenho andado o resto do dia a tentar decidir se rio ou choro. 

Moro aqui há quase 21 anos

e só hoje é que vi, no hall de entrada, um coração no meu caminho. Universo, o que é que me queres dizer agora?



04/02/2014

Eu tenho um guarda-chuva

que é velho, está feio, que foi oferta de uma revista (talvez a defunta Marie Claire, tão antigo que ele é), o cabo já não estica, o que o faz parecer um cogumelo e, a mim, quando o carrego, a tonta do bairro, mas que me é tão fiel em todas as ocasiões que eu até já estou desconfiada que ele me anda a pôr os cornos. Entretanto, já comprei vários guarda-chuvas, tenho a mais bela colecção deles, desde um da Zara com padrão leopardona vermelho e preto a outro da Zara com padrão zebrona e cabo de atachas, até um outro cinzento de bolinhas rosa-cerise e folhinho na ponta que fui desencarnar na Blanco. Fora mais dois de bolinhas, também da Blanco, irmãos gémeos com cores diferentes, frutos e produtos de um dia de hesitações, daqueles em que estamos numa encruzilhada e a vida se apresenta em forma de Y e nós no pauzinho do Y. E não sei se já algum dia disse aqui, mas não me podem dar a hipótese A e a hipótese B, que me baralham o neurónio, o que me faz optar sempre pelas duas, A e B, em casa decido se gosto mais da A ou da B, porque na loja não sou capaz. Acontece que, às vezes, nem em casa, e então uso A nos dias sim e B nos dias não, ou ao contrário, ou só como calha, tanto faz. Então, há bocado, tive que sair à rua e tinha o carro a cinco metros da porta de casa, abri o guarda-chuva bonito das bolinhas rosa-cerise que, com a ventania e a água, se dobrou para trás e entortou logo uma vareta, eu cá fiquei com o cabelo a parecer uma selvagem, quase me senti a protagonista da novela Amazónia, não fora o facto de não haver lá cenas de chuva, acho eu, que não me lembro nem me posso lembrar porque nunca vi a novela, ah, e também sou mais velha do que a protagonista e não tenho os olhos tortos. Está bem, mas senti-me. Depois tive que sair do carro por breves momentos, voltei a abrir o guarda-chuva bonito, já depois de lhe ter endireitado a vareta, e ele voltou a virar-se e o meu cabelo a molhar-se mais à la Amazónia. Eu, como não consigo ser muito bem educada, dizia "Cabrão, cabrão", agora já não me lembro é se era para o guarda-chuva, para o tempo ou para o santo que comanda o tempo. Um dos três enfiou a carapuça, porque o guarda-chuva das bolinhas entortou-se de vez e para sempre, acho que todas as varetas se dobraram em sinal de "adeus, ó histérica", mas eu nem tive tempo de me revoltar mais, atirei-o para dentro do carro, tirei de lá o velho e feio que parece um cogumelo, abri-o e ele, resplandecente, indiferente ao vento, não se virou vez nenhuma, aguentou-se como dizia o outro doido, como uma barra de ferro. Minha Preta, grande sábia, é que disse e bem: "Você judia desse aí, mas na hora do aperto, quando você realmente precisa, qual é que 'tá pra lhe acudir? É o bonito de bolinha ou é o feio e velho?".  

Linda Porca

Linda Porca ou Cheiro de Estrume é o nome do meu buraco. O que me leva a assinar os posts e os comentários todos sob a feliz designação de Linda Porca. 

Quando criei este modesto porém confortável lugar, a única hesitação que tive, relativamente ao nome, foi entre este que escolhi e Transformaram-me numa vaca. Mas se Linda Porca já deu raia uma vez (num Hi 5 qualquer, que tive que fechar, tantos eram os convites duvidosos, só porque me registei Linda Porca), Transformaram-me numa Vaca iria certamente dar-me um dissabor ou outro. 

Eu sou apreciadora de filmes infantis. Acho que vi todos, nunca me escapou nenhum. Os que não vi no cinema, vi em casa. E adoro de paixão a mensagem subliminar para os adultos e todas as cenas que só um adulto consegue perceber. Sobretudo, faz-me rir o non sense. 

No filme "Pacha e o imperador" existe a famosa cena em que um guerreiro, completamente do nada, por obras de um frasco de poção mágica, se transforma numa vaca e diz: "Ahh... transformaram-me numa vaca... posso ir p'ra casa?". É tão popular que tem várias entradas no youtube, infelizmente em português do Brasil. Digo "infelizmente" porque a dobragem para português de Portugal tem mesmo mais piada, sobretudo nessa cena.

No "Monstros e companhia", há uma cena entre os dois bonecos principais, Mike e Sulley, em que o Mike se apercebe que está com um cheiro estranho (que se presume ser um cheiro bom) e pede ao Sulley um desodorizante mal cheiroso. 


É nessa altura que o Sulley lhe pergunta:


- Queres Linda Porca ou Cheiro de Estrume?

Ao que ele responde: 


- Tens Essência de Doninha?

- Nope.

É só isto, sem maiores mistérios. Linda Porca é o desodorizante mal cheiroso de um filme de bonecos. O que não invalida a possibilidade de aqui estar uma pessoa verdadeiramente linda. Já porca...

03/02/2014

Eu tenho problemas com doidos # 10

Acabei de a conhecer. Sentámo-nos à mesa com mais 58 pessoas. Ela calhou ao meu lado. Fica calada um jantar inteiro, enquanto eu converso com quem está nas minhas duas diagonais, à minha esquerda e à minha frente. Acabamos o café, estamos nas contas e ela conta-me uma inconfidência. Nada de extraordinário, não fora o facto de não nos conhecermos, de todo em todo, e termos 0,1 % de possibilidades de nos voltarmos a encontrar, a não ser por via do bom dia - boa tarde. E depois, discursa, sozinha, durante o tempo que leva a dizer isto:

- Isto que acabei de lhe dizer fica aqui entre nós. Foi uma confidência que eu lhe fiz. Eu não a conheço de lado nenhum, você não me conhece, mas pareceu-me ser pessoa em que uma pessoa pode confiar [WTF-F-F???]. Eu não costumo confiar assim nas pessoas, mas consigo não tem nada a ver. Posso estar enganada, e até lhe digo mais: já me enganei algumas vezes, confiei nas pessoas e as pessoas vieram a revelar que não eram de confiança. Vim a saber, por portas e travessas, que tinham ido contar o que eu lhes tinha contado e, às tantas, já toda a gente sabia. Eu sou uma pessoa muito reservada, e faz-me muita confusão que me façam isso. O que eu lhe estou a dar é um voto de confiança, a partir do princípio que não vai contar nada disto a ninguém. Espero não estar enganada consigo, mas nunca se sabe. Acho que não, mas sabe-se lá...

Chata da porra. Paguei a minha despesa e saí, sem me despedir nem boa noite, não fosse a praga vir atrás de mim com a melgueira da conversa e ainda tivesse um ataque histérico a espernear-se que eu não era digna do voto de confiança dela por me ter contado um segredo sem pés nem cabeça, ao menos uma boa cavalgada sexual, não, uma coisinha pequenina de uma vidinha sem sal. Esquizofrénica.

Nem os malucos que me cruzam o caminho dizem alguma coisa de jeito.

02/02/2014

"Crido" criador:

Quando tiveres ataques de falta de inspiração e originalidade, não dês tanta bandeira.

                                                                Dylan McDermott, n. 26.10.1961                                                                            Clive Owen, n. 03.10.1964

Ehhh... pensando bem, repete lá a receita, se for para isto...

Olá, bom dia...

Pá, já me anda a dar cá nos nervicos de titi a cena do "Olá!", como se fossemos todos da mesma escola. Que merda é esta de eu não conhecer alguém de lado nenhum - a não ser, talvez, porque o infortúnio ou o acaso, o mero, aquele que é primo da coincidência, nos fez cruzar o mesmo caminho laboral, ou porque até moramos na mesma área e nos cruzamos todos os dias, ou eu até sou freguesa habitual do estabelecimento onde levo com o "Olá" - e, ao meu cortez e educadinho "Bom dia", recebo um "Olá" na volta? E quando eu ainda nem abri o bico e já estou a levar com um "Olá"? Ainda mais me irrita o "Olá, bom dia" que a pessoa que me arruma os tachos me fornece diariamente, em resposta ao meu "Bom dia, [nome da figura]". Lá porque ela também trabalha num escritório, em acumulação de funções, em que imagino que desde o administrador até ao sector das limpezas tudo se cumprimenta com uma palmada no rabo, a mim não me convence ela de que "Olá" não é mais do que uma marca de gelados e, dizendo eu um "Bom dia", se não fosse pedir muito, gostaria de receber como resposta, por que não?, outro "Bom dia". É que já nem peço que pronuncie o meu nome ou, sacrifício dos sacrifícios, um título académico, que fica tão bem nestas horas. Eu vou ao médico e não entro no gabinete a dizer "Olá", pois não? Mesmo que o médico me tenha visto nascer ou me conheça as partes pudendas melhor que eu própria. Portanto, é "Bom dia", e sem variações (a menos que tenha passado o meio-dia ou as sete da tarde), como o meu vizinho lá de cima, que pergunta sempre, sem excepção "Olá, está boa?", deixando-me a pensar "Mas porra, não é uma evidência?", mas a proferir "Bem muito obrigada. Como está?".

Estou a ficar velha, farta de excesso de confianças, tudo junto ou só uma das duas.

01/02/2014

Não há flores no meu caminho [mas há corações]



Não sei por que é que, de cada vez que encontro um coração, a primeira coisa que me vem à cabeça é "não há flores no meu caminho" - que eu sempre assumi como sendo um fado, mas que, por mais pesquisas que faça agora, não me aparece. Se calhar, não existe.