Trabalho num local onde só existiram mulheres, até ao dia em que entrou um homem, mas esse não conta. Mudou pouca coisa desde que ele foi admitido em estágio. Nomeadamente, deixámos de experimentar roupa nova à frente umas das outras - acabou-se o veste e despe em público, portanto, e passámos a ter mais cuidado com o baldinho dos pensos higiénicos. Fora isso, tudo na mesma. Quase o obrigamos a ser imune a decotes, calças justas e saias curtas. De resto, ele está agrilhoado, uma vez que não tem com quem desabafar.
Há mais de um ano que se foi embora a Fufanã, personagem que me perseguia pelos corredores e tentava apalpar-me, não sei porquê. Porra, com tanta mulher no local, tanto pipi per metro quadrado, por que havia ela de ter logo escolhido uma senhora de idade? Questiono-me há anos sobre este fenómeno. Será que lhe dei esperanças? Algum olhar lascivo que lhe pareceu eu ter-lhe dirigido? O meu olhar é lascivo? Eu sou lasciva? Dei-lhe mais atenção do que as restantes? Nada, nada, zero. Eu sempre tive medo dela e daquele ar de quem se esqueceu de tomar as gotas hoje. Sempre me mantive afastada, jamais respondi aos inúmeros sms que ela me enviou, nunca respondi aos mails que ela, a trabalhar na sala ao lado, me enviava, cheguei mesmo a dizer-lhe coisas que, se ela tivesse dois dedos de testa, pensaria que eu não a queria metida dentro do meu decote.
Desde que se foi embora que não abrandou o ritmo das mensagens nem dos mails. Hoje apareceu, eu estava à janela com o corpo quase todo na rua, e travámos um diálogo apaixonante:
- Então, Linda Porca, estás boa?
- Estou.
- Estás a cortar as unhas?
- Dos pés.
Talvez seja isto que a prende de amores. Ri-se tanto, dá tantos saltinhos de gozo, hoje até saiu em biquinhos de pés de tão feliz. Aquilo só pode ser o amor.
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