28/09/2021

Relação de causa-efeito?

Creio que vai sair-me um volátil, porém guinchado, desabafo.

A miúda do andar de cima continua a gritar. Está aos berros desde o início da pandemia. Passou do ano e meio de vida para os três anos, sempre aos guinchos. Gostaria de saber se são as crianças-covid, chamemos-lhes assim — então não há as crianças-galinha e as crianças-lobo? —, que são mais irascíveis do que as de gerações anteriores, ou se sou eu que estou mais intolerante. Desde a praia, ao campo, à montanha, à cidade, à aldeia, para onde quer que me volte, há uma criança aos brados, ou aos silvos,  atingindo agudos insuportáveis ao fino tímpano da comum mortal. Já considerei mesmo se não será antes a minha cabeça que fabrica estes ruídos, só para me irritar a mim. 

Mas não era isto que vinha hoje partilhar. Até comecei bem, contudo a pluma leva-me por caminhos. 

A criança do andar de cima. 

Julgo, não percebendo grande coisa de materiais de construção, menos ainda de Física, que, sendo a água boa condutora do som, as casas de banho, sejam na Buraca ou na Lapa, são “excelentes” locais para — em querendo, e daí as aspas, ou mesmo que não —conhecer um pouco da vida íntima dos vizinhos.

A miúda do andar acima do meu. E o pai da miúda.

Há largos meses que começo os meus dias brindada pelo chinfrim que fazem as cordas vocais da filha e o intestino grosso do pai. Pronto, já disse, agora não posso desdizer. 

Resta-me saber, já que os dois ruídos me entram paredes — chão com tecto — adentro enquanto me maquilho, se existe uma relação de causa-efeito entre o silvo da filha e o flato do pai. Qual provoca qual?, é a enorme questão. A filha desvaria quando o pai se deslarga, ou o homem tem um acesso flatulento quando a criança guincha? Eventualmente, nunca saberei. Ou se, simplesmente, se trata de mera coincidência, por simbiose biológica?

Pergunto-me amiúde, mas (ainda) não me respondo, em que estado estarão os nervos daquela mãe. Imagine-se, se eu, que só moro umas quantas vigas + pladures abaixo, sinto que corro o risco de errar o risco e enfiar o lápis de olhos num olho, que direi dela? Será menos arriscado se não se maquilhar, concluo. 



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