26/07/2021

Bem Bom
Se acharem que é spoiler, é não lerem # 14

Estranha forma de vida, esta agora.

Fui ao cinema na véspera do início da quarentena, e fui também no primeiro dia após confinamentos vários. Calhou ir às mesmas salas — Cinema City — e, de ambas as vezes, estar só minha companheirinha e eu. Honestamente? Prefiro assim. Nada de cabeçudos à frente, irrequietos do coice nas minhas costas atrás, faladores, gente que não se lava, hiper-perfumados, roedores do milho estalado, namorados excitados e idosos ressonantes. (Acho que não me esqueci de ninguém.) Eu também como pipocas, está bem? Mas tenho o cuidado de morfar aquilo tudo (chamar "pequeno" ao pacote menor é meramente metafórico, não é?) antes de o filme começar (pub indesejada e trailers à martelada em barda!) ou durante as cenas mais ruidosas (entendam o que e como quiserem) do filme.

Dessas duas vezes que refiro, pudemos escolher se queríamos publicidade ou não (adivinhem), trailers ou não (foi sim. Eu queria comer o bidon de pipocas, apesar de estarmos só as duas), e ambas queríamos relaxar as quatro pernas nas costas das cadeiras defronte.

Desta vez, sala só não cheia derivados das contingências: fila sim, fila não, interditadas com fita fluorescente, não fosse a malta não a ver no escuro; nas filas sim, espaço de uma cadeira entre ocupadas e não ocupadas, a menos que se tratasse de pessoas do mesmo agregado/ grupo. Eu acho uma cadeira pouco, devia ser a fila toda para uma ou duas pessoas, no máximo. Não que sofra de receios covid, porque isso já era, mas porque, no fundo, sinto que agora é que a cena social está correcta: antes do vírus, andávamos cá todos a roçarmo-nos uns nos outros, e aos dois beijinhos uns aos outros, um exagero de contactos físicos que (espero que) acabou. Éramos apresentados a alguém que nunca mais íamos ver e logo dois beijos? Não admira que o vírus tenha singrado até sangrar.

Quanto ao filme propriamente dito, que é o que nos traz aqui hoje: Bem Bom. Mais nada. Pode não ser aquelas coisas em termos de luz, imagem, som — cinema português, é um estilo como outro qualquer —, mas consegue o que parece impossível, que é devolver-nos os e aos anos 80's — excelente reconstituição histórica — e, de uma vez por todas, desfazer o boato com a Laura Diogo. Já veio tarde, é certo, mas mais vale do que nunca. Coisa para ter detonado uma banda icónica, quatro carreiras e quase uma vida. 

Se eu não adorava as Doce — era muito miúda, queria ser assim, mas não bem assim quando crescesse —, pelo menos sabia (e sei) as letras das músicas quase todas. E lembro-me bem da prequela das Doce, que foram os Gemini, com duas delas (Fátima e Teresa) e dois dos produtores (Tozé Martinho e Mike Sergeant). Nessa altura, a pessoa humana era uma criança em idade escolar, mas cantava com alguma solenidade aquilo do prazer que uma criança nos deu. E não percebia, como ainda não percebo, a estrofe o acordar de tristeza ao ver as horas passar e o jantar frio na mesa. Alguém explica isto? Não é preciso, falecerei com a dúvida, mas muito obrigada na mesma. 

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