27/02/2018

Espírito de missão, ou lá o que é isto

Tinha uma autoincumbida — porque a autodeterminação é uma coisa muito bonita — e comprida missão a cumprir, que era a de fazer uns pequenos bolos para oferecer a um grupo ao qual pertenço, sendo que, para tanto, teria também que providenciar pelo seu transporte (dos bolos, não do grupo), o que envolvia uma sinuosa e previsivelmente acidentada viagem de metro. 
(Eu sou aquela detestavelzinha que se mete nas merdas com a estrita e única intenção de depois poder queixar-se. Aviso já.)
(É que isto tinha tudo para correr mal, e até me palpitava a anteriori, por que é que insisti? Para haver uma  posteriori? Para ter ceninhas para contar? Chata da porra.)
Comecei por fazer, com a mesma receita, um mega-bolo lá para o lar, feito laboratório experimental, com vista a atingir uma amostra estatística: assim eles gostassem, assim o grupo gostaria. O bolo desmanchou-se, como já disse e não quero voltar a repetir, mas ficou tão saboroso e foi aspirado em tão poucas horas, que a interpretação dos meus dados me disse que sim, que era aquele o caminho. 
Fiz, então, pequenos e belos cocozinhos os bolos pequenos.

Hã? Só classe.
Tanta coisa para demonstrar o quão sou boa na cozinha,
vertente pastelaria e doçaria.
Receita aqui.

Seguidamente, enfrentei o problema do acondicionamento para transportar meus produtos no sinuoso percurso de quarenta minutos, que envolve uma parte a pé, outra nos trancos e barrancos do metro — com mudança de linha incluída —, mais outra parte que envolve a subida de uma rua cujo passeio é em formato de anedota (hahaha. Não ri, isto foi um espasmo). No entanto, arranjei uma caixa perfeita para aquele fim, grande e rígida, que meti dentro de um saco de compras dos grandes, para poder carregá-la mais facilmente (?).
(Nesta fase do processo, já eu estava arrependida de ter nascido.)
Saco ao ombro, toca de dar início à viagem, isto tudo de saltos altos, que eu cá, quando me meto nas missões, é para esfolar os dois joelhos até sangrar. 
Após ter atravessado ventos e marés, materializados sob a forma de escadas rolantes — nas de descida, há toda uma estratégia e uma arte de equilíbrio a considerar aquando da colocação do pezito no degrau certo, sobretudo quando se vai assim carregada —, escadas não rolantes (aquelas que ficam sempre paradas, sabem?), entrada no metro com um saco enorme (ou que, pelo menos, ia aumentando de tamanho à medida que o tempo decorria; e eu já a sentir-me um São Cristóvão) (vá que não me deu para sair no Martim Moniz), atravessamento das portas automáticas pelo lado do canal especial, mais escadas rolantes e escadas quietas (numa tradução livre, libertária e feliz, rolling stairs versus stone stairs), mais o tal passeio de piada (hahaha, outro espasmo), para chegar lá e...
oh...
... não haver encontro, por ausência do mestre.
(Não voltei para trás com a tralha toda atrás, não. Fiz beicinho e pedi que me guardassem os meus pequenos dejectos no frigorífico até uma próxima oportunidade. Até lá, transformar-se-ão efectivamente nas poias que parecem ser, mas paciência. A sorte protege os audazes. (E também os prevaricadores.) (E os lamechas.) (E os irónicos.) Enfim, não sei por que é que escrevi isto. Mas tinha ali este título metido nos rascunhos há que tempos, já não sei para que post, e tinha que acabar este de qualquer maneira.

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