08/05/2014

O dia em que revelei um pouco de mim, excitada com a nova aparência do meu buraco, cheio de porcas

Em alegre passeata pela estrada que me levou a Carcavelos a almoçar (esta grande volta só para dizer que hoje almocei a ver o mar), vi hoje, pela primeira vez, os cartazes de campanha do Bloco de Esquerda. 



Eu estou a pensar em votar no Bloco de Esquerda. 

(não sei se devo justificar)

Eu vivo num país que saiu do jugo de 40 anos de um ditador e se meteu numa democracia alternadeira por outros 40. Ainda há muito quem não saiba, haverá já muito quem não se lembre, há ainda certamente quem nunca acredite, mas este país teve no seu comando um senhor que não permitia que mais ninguém pensasse de forma diferente da sua. E, quem se atrevesse a questionar a doutrina e o método, era castigado. Havia uma polícia política, havia pessoas presas pelos seus ideais, havia informadores em todas as esquinas e esplanadas, havia medo para uns e aceitação pacífica para outros. Qualquer estudo político classifica aquele regime como fascista e ditatorial. Mas há quem, ainda hoje, afirme a pés juntos que "isso são exageros" (como há bem pouco uma galinha de 40 anos, se calhar já nascida em liberdade) ou que "apesar de tudo (???), estávamos bem melhor (???)". Eles não sabem nem sonham.

Depois libertámo-nos e passámos a votar, homens e mulheres, licenciados ou não, funcionários do estado ou não (é que, "antes", as pessoas distinguiam-se assim umas das outras). Votámos PS, votámos PSD (ou PPD, como era ao início), votámos PS, votámos PPD, zangámo-nos com o PS, votámos PSD, zangámo-nos com o PSD, votámos PS, assistimos à derrocada do país, às mãos do PS, ah, espera, mas quem lá deixou o presente envenenado foi o PSD, depois voltámos a entregar o país, já moribundo, nas mãos do PSD, numa brincadeirinha de um-dó-li-tá que só nós porque, entretanto, tão distraídos e entretidos que estivemos, já tinham passado outros 40 anos.

Está, talvez, na altura de dar oportunidade a quem nunca a teve. A quem sempre pôs em causa a política dos outros e não pôde pôr em prática a sua. A quem tanto criticou, vou dar um voto que é mais um "Ai fazes melhor? Então, mostra lá!". Não é sequer um voto de confiança. É um voto de desconfiança mas, pelo menos, não é em branco, nem é abstinente: vou desalapar o cu da chaise longue e vou lá, mesmo que tenha que ir a pé (e a minha mesa ainda é longe de casa, sobretudo se for, como irei, de saltos altos). 

Era para falar no cartaz, já me perdi no texto. 

"De pé" evoca-me o hino da Internacional, que é também do movimento comunista. Não terá sido por acaso a escolha do mote, só que é uma mensagem que só chega a alguns. Estar de pé significa não estar sentado, nem deitado, nem de joelhos, nem de cócoras. Mas também significa cabeça erguida, olhar em frente, orgulho nacional, coluna direita, mangas arregaçadas e mãos à obra. Talvez estejam a pedir-nos muito, neste momento. Mas eu prefiro arriscar num comando que me mande por de pé do que numa promessa de andar de cócoras toda a vida e acabar deitada mais cedo do que devia.

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