Nos últimos três eventos para os quais fui convidada, tive a oportunidade de fazer uma regra de três, simples. Não uma regra de três simples, reparai na vírgula, se não for muito incómodo: aos dois primeiros, ia com pouca confiança de que iria ser divertido e foi muitíssimo, a mim também me basta que me forneçam um quadrado para dar os dois pezinhos de dança e já acho tudo uma maravilha. Ao terceiro, considerei que estava no papo, ia conhecer gente nova, amigos de uma amiga recente e foi de cortar os pulsos. (Aos restantes convivas, não a mim.) A aniversariante destinou os lugares, pôs-nos — a cônjuge e a mim — em frente dos senhorios dela e a filha de ambos — garota para os seus quarenta e dois, ouvi várias vezes, vestida como se tivesse vinte e aborrecida como se tivesse dez — ao meu lado, mas que logo trocou para o lado da mãe, que odeia. O senhor que serviu a nossa mesa comunicou-me que tinha acabado o piri-piri e eu fiz um ar desoladíssimo, quando já percebera que tal picante, em cima de tanto fel, seria talvez a gota de água para eu fazer-me uma vontade antiga e sair dali a rebolar até às areias sujas da espécie de praia em frente. Cônjuge entabulou um diálogo com o senhorio, que parecia um daqueles inspectores das séries da Netflix, mas mais pequenino e com um fato em três peças, cujo coletinho não lhe serve há cerca de doze anos. O homem podia ser mudo, pois — felizmente, nunca assisti — cônjuge teria mais sucesso num diálogo com a parede mestra do lar do que com o inspectorzinho. Já aqui a desgraçadinha, calhou-lhe à frente a senhoria, mulher amarga que passou metade do tempo a dizer mal da filha por subentendidos, indirectas e más metáforas que não entendi e a outra metade em autoelogio, sem me fazer qualquer pergunta sobre a minha persona. Nunca tinha conhecido uma personagem que, simultaneamente, começava todas as frases por “eu”, tinha falhas de memória aleatórias, ora no início, ora a meio, ora no fim da frase (em que me via obrigada a encontrar a palavra em falta e, modéstia à parte, lhe embelezava grandemente as frases) e a estalar saliva seca, tudo a um tempo. Ainda assim, o bâton manteve-se impecável até ao fim da minha paciência, mesmo com recurso ao guardanapo. Devia ser tatuado.
Quando ela se levantou para ir fumar e me disse: “Não a maço mais com as minhas secas” (Aleluia, irmãos, alguém com um pouco de noção!?), pensei: “Pois não”, dei um abracinho à dona da festa e sumi dali antes que o cigarro da carraça acabasse.