11/09/2020

Superstições

Sabe-me supersticiosa, presa por crendices que não explico nem domino, nada com bruxas, galinhas ou sal grosso, tudo com as coincidências que a ironia da vida é capaz de enredar. Liga-me numa aflição, um sorriso de nervos na voz, insegura quanto ao que sente, “Olha, o ramo de flores em homenagem à miúda que morreu atropelada no Campo Grande está tombado, todo torto. Achas que dá azar se o endireitar? Pergunto porque, como sei que és supersticiosa, podias saber alguma coisa e que fosse melhor não mexer”. Eu, que já tinha visto que do ramo restava apenas um molho de flores secas, respondi-lhe que não, que a única coisa que poderia dar azar ali, seria passar indiferente ao ramo, vendo-o caído e abandonado, ou então aquilo mesmo: sentir a necessidade de prestar uma “homenagem”, por breve que seja, só de coração, mas perder a coragem a que mesmo as mais singelas obrigam. Louvei-lhe também a bondade, “Isso é tão bonito da tua parte”. 

Diz-me igualmente a minha superstição que ela anda por ali, na sua bicicleta, ou marcando pontos nas tabelas que foram a glória e a fonte de alegria da sua tão breve vida.


2 comentários:

  1. Obrigada pela bondade
    Não conheci a menina que morreu mas a minha filha conhecia-a. Era mais nova, mas andava no mesmo colégio onde a minha filha tinha andado. Toda a gente gostava dela.

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    1. Eu também não a conheci, mas a minha filha (presente no texto), apesar de também mais velha do que ela, conhecia-a do basquete, que é um pequeno grande mundo, onde, apesar das rivalidades clubísticas, todos se estimam, talvez por terem aquele amor comum.
      Era preciosa :(

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