12/08/2019

Algumas informações acerca da pessoa humana, que, embora possam ser inúteis, terão certamente algum interesse ao nível de stalking, esse desporto paraolímpico

Pois bem, ando arredada. Já toda a blogobola deu por ela, não negueis.
Ocupo uma boa parte do meu tempo numa actividade altamente gratificante, não tanto em termos financeiros - é que nasci para rica, mas parece que não vai acontecer -, mas de ficar feliz com o resultado. Que me sai das mãos, que me dá largas à imaginação, que me diferencia e destaca muito mais do que isto aqui. Ainda por cima, não tenho que me exibir, me fazer maior, me revelar culta e bela: sou eu e o meu trabalho. Quanto melhor o fizer, mais terei para fazer. Uma suave bola de neve, toda ela algodão doce. Meti-me no Instagram, numa de divulgação, e tem sido uma revelação antropológica: o Mundo está perdido. Já recebi todo o tipo de propostas, mas é que todo. As mais indecentes têm sido as das parcerias. Nova definição de "parceria", urgente, senhores da Porto Editora: situação em que alguém que trabalha é colocado por alguém que não trabalha, em que o primeiro fornece gratuitamente ao segundo os seus produtos/serviços, a troco de nada, ou de promessas de divulgação [seja lá o que isso for].
Entretanto, comprei uma máquina de costura nova, porque a minha Rabugenta deu o peido mestre. Agora sou a feliz possuidora de Belinda, a Escrava do Silêncio. Continuo, portanto, a atribuir nomes próprios às minhas coisas. Eu sei que se chama personificação, também andei à escola e estudei Português (atentamente, acrescente-se). Deve ter uma explicação qualquer, que não encontro nem quero saber qual é.
Tenho ido a concertos (Mark Knopfler - afinal a acústica do Altice Arena não é má, os técnicos de som de Eltoninho é que não prestam - e Barclay James Harvest) e também ao cinema (destaques para o novo "O Rei Leão" e "Adeus, Professor", apesar de este último ter sido um tudo-nada desilusão, porque eu ia para me emocionar e não aconteceu. Sou uma pedra. Tenho uma pedra no lugar do coração, melhor dizendo).
Agora corro e já não detesto correr. Faço cinco quilómetros uma vez por semana, sempre no mesmo dia, sempre à mesma hora, sempre no mesmo lugar (Estádio Universitário). Em querendo assistir à paródia, é passarem ali 24/24 durante 7, e é possível que, se virem passar uma obesa velha, seja eu. A verdade é que me custa cada vez menos correr, sinto-me muito mais toni, mas acho que não estou. O importante é o sentir, como diria Francineide Carandiru.
Também tenho dançado bastante. Pela primeira vez em vários meses, consegui acertar todas as coreografias de uma aula de Aeróbica, e isso desacertou-me o relógio mental para a grande dúvida que ainda persiste: foi uma aula mais simples ou passei o patamar dos passos pedidos?
Quanto a férias, são uma realidade que não revelo se ainda para lá vou, se já cá estou, se já lá fui. Desculpem, tenho que ter o meu espaço reservado uma vez na vida, e acontece que esta posta já está de bom tamanho.

07/08/2019

Livro de reclamações

Só faltava o pequeno cartaz mandar-nos sorrir [está a ser filmado], mas dizia qualquer coisa como "aqui pode elogiar". Já estávamos na sala de espera há duas horas, e eu, obviamente, já tinha ido reclamar. Isto, ao fim de meia-hora sem termos sido atendidas. Falei em desorganização e falta de respeito, fiz saber que sei que a profissão de médico é a única que pode incumprir com horários, e também aquela em que esse incumprimento sai sempre impune de todas as contravenções. A funcionária que me escutou fez que sim com a cabeça, mais para me mandar calar do que por concordância, e, de propósito ou por distracção, ainda aumentou o volume à minha pequena ira, quando me mostrou o painel com as consultas da tarde, onde facilmente constatei que a pessoa das 14:30 estava a ser atendida naquele momento, isto eram 16:30, mais minuto, menos segundo. Concluindo, pelo menos esta parte, a doutora obviamente não havia chegado às 14:30 e nós iríamos - como, efectivamente, fomos - ser atendidas com duas horas de atraso. Só a mim não me saem empregos destes. A ver se na próxima encarnação não me esqueço de me meter na Faculdade de Medicina. (Estudasses.)
Quando entrámos, a dita doutora balbuciou umas desculpas mal enjorcadas, atirando para cima dos doentes anteriores o motivo do próprio atraso, É que sabe, as pessoas vêm para aqui desabafar, isto uma médica de músculos, ainda que fosse psiquiatra ou oncologista. Ou veterinária.
Então, a consulta demorou vinte minutos, nos quais couberam dois telefonemas das filhas da médica, porque uma se encontrava à porta de casa sem chave para entrar, a narração das maleitas do pai da senhora e uma declaração à boca cheia de que "Eu não sei ler ecografias porque não sou radiologista". 
Ai dela que se tenha lamentado ao doente seguinte do atraso dos anteriores, incluindo-nos, assim, na sua desarrumação mental. Estimo que lhe caia um dente da frente de cada vez que faltar à verdade de forma tão vil. E leviana.
E sim, pagámos a consulta, mas mais porque já passava da hora de lanche e queríamos sair dali para fora rapidamente. 
E não, esta não foi a pior médica que consultei na vida. [Palmarés para uma que também nos fez esperar duas horas - há aqui um padrão? - e, para além de me cheirar a suor - dela - quando entrei no gabinete, fiquei com a sensação de que nem à porta da tal faculdade passou, tamanho era o adormecimento em cima do teclado e a hipnose diante do monitor. Facebook? Pornografia? Desenhos animados? Valium? Nunca saberei. Mas também nunca teria sabido a solução para o que nos levava ali, se dependesse dela.]