Comprei uma tesoura nova. A minha já tinha (e tem, graças a Deus, longe vá o agoiro, salvo seja três vezes, lagarto, lagarto, o diabo seja surdo) vinte e cinco anos, daqui a pouco vinte e seis, já havia cortado papel - erro! - algum cabelo - o que amola as tesouras, porém corta o cabelo em diagonais imperfeitas, é todo um mundo de franjas tortas -, de maneiras que já me roía mais os dedos do que cortava tecidos, e vamos assumir de uma vez por todas que eu sou dada à prenda doméstica, ao lavor feminino (calem-se as vozes dos histerismos feministas, mas também dos misóginos, cada um é para o que nasce, e deixem lá ficar os homenzinhos com os parafusos e as porcas, embora haja elementos como aqui a escritora de renome que vão a todas, ele é berbequim, ele é máquina de costura, não me metam um motor à frente, que vai tudo à frente, passe lá o pleonasmo, imagine-se este dom aplicado a um corta-relva ou a uma retroescavadora, tanto terreno por desbravar, tanta pomba assassinada), por isso era cortar panos todos os dias e, a cada um que passava, mais calejado o dedo médio da mão direita, parecia um tarado sexual destro, que era onde assentava a argola da tesoura, ainda por cima de inox, e eu tão alérgica, que também tenho cá os meus salamaleques de gaja.
Está bem que podia ter mandado amolar a velha e cansada tesoura, e vou-o, mas apeteceu-me esta mudança, deixem-me cá ter os meus caprichos mundanos.
Está bem que podia ter mandado amolar a velha e cansada tesoura, e vou-o, mas apeteceu-me esta mudança, deixem-me cá ter os meus caprichos mundanos.
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Então, adquiri esta maravilha da técnica da desunião, linda e blue, aros de plástico - e até uma ceninha para poisar o dedito indicador, se reparardes -, com uma lâmina de fazer inveja à Rita Capadora lá do meu Alentejo.
E estou feliz desde então, sendo que pretendo passar um fim-de-semana em grande estilo podador, aparador e trinchador com a minha nova boneca.
(Chiu, pá... fogo.)
(*) Sim, temos noção - meu editor de imagem, meu fotógrafo particular e eu - que esta pic tem tudo para dar errado, uma vez que a posição do punho é tudo menos anatómica para quem tem uma tesoura, ainda por cima óptima, na mão. Foi todo um debate entre nós três, tirámos dezenas de chapas, e a produção é que decidiu por esta, porque, por um lado, viam-se as unhas quase bem pintadas, a pulseira de plástico, o cenário de barras a condizer com tudo, uma luz perfeita, enfim, toda uma mise en scène que convinha não desperdiçar. (Mentirosa é a prima e casou-se.)
LB's challenge rumo aos 3000 chouriços em 6 anos
#jasofaltam6
Senti todas essas boas sensações... adoro tudo o que seja novo na costura e me chega às mãos!!!
ResponderEliminarÉ um literal rasgar de novos horizontes! E a costura tem uma infinidade de ferramentas para fazer coisas lindas! :)
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