Estou na loja dos cafés que se autodenomina boutique, numa daquelas esperas que hão-de contar como tempos mortos (oh, ironia) para me darem créditos de santidade aquando do juízo final, quando entra a família típica e claramente portuguesa, falando uns tons acima do necessário para se ouvirem uns aos outros — a menos que todos sofressem de surdez —, em Francês,
(há um denominador comum, ou não há? Pai, mãe, três filhos, todos hipernutridos, cabelos escuros, chinelos, calções, varizes, queijo de Nisa nos calcanhares, óculos de sol na cabeça, t-shirts do Ronaldo 100% fibra, e por aí afora)
obrigando o funcionário — que claramente não pescava uma palavra de Francês — a falar com eles em Inglês, um Inglês de escola, minimamente capaz de vender cafés.
E eram uns a falar um Inglês de improviso, contra outro a responder no tal Inglês — que há-de ter sido condição aquando da admissão ao balcão —, todos construindo a custo uma pequena e ainda mais inútil Torre de Babel, qual muro, quando podiam permanecer pacificamente na base, falando a língua comum (em) que todos (se) entenderiam.
(São estes os mesmos que carregam a mala de bacalhau e vertem uma gota de cada vez que lhes soa o faduncho ao tímpano, pois são?)
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